Os desafios da Nasa para escolher o local de pouso na Lua da missão Artemis

Ao contrário das missões Apollo, que pousaram nas latitudes médias da Lua, as excursões Artemis ocorrerão perto do pólo sul lunar.
Concepção artística de uma tripulação Artemis trabalhando na Lua. Imagem: Nasa

Para as missões Artemis à Lua, a Nasa já selecionou a região polar sul como destino para seus astronautas, mas um local de pouso exato ainda não foi determinado. Dadas as necessidades do programa Artemis, isso não será fácil.

Artemis apresenta um desafio único para a Nasa e seus astronautas, que devem visitar a superfície lunar em algum momento desta década, possivelmente já em 2024. Ao contrário das missões Apollo, que pousaram nas latitudes médias da Lua, as excursões Artemis ocorrerão perto do polo sul lunar.

Lá, os astronautas serão expostos a mudanças drásticas de luz e temperatura. Parece um lugar horrível para conduzir uma missão, mas acredita-se que as regiões polares contêm um recurso bastante precioso: água congelada. E, de fato, a detecção e recuperação de gelo de água da superfície lunar é um objetivo científico chave do projeto Artemis.

Os planejadores da missão na Nasa estão atualmente refletindo sobre as necessidades da missão e avaliando os possíveis pontos de aterrissagem e locais para o acampamento base. Como a Nasa explica em um recente comunicado à imprensa, o destino escolhido deve fornecer amplo acesso à luz solar, que será usada para alimentar o acampamento base, bem como fácil acesso a locais ricos em água congelada. O ideal é que o local também tenha oscilações moderadas de temperatura para não prejudicar o equipamento.

Felizmente, a topografia acidentada da Lua deve fornecer tal localização. A Nasa acredita que pode ser possível pousar ao longo da borda de uma cratera de impacto, que também forneceria acesso às áreas perpetuamente escuras em seu interior. De fato, dado o baixo ângulo da luz solar incidente nos pólos, as partes internas das crateras profundas nunca são tocadas pelo Sol. É dentro dessas bolsas escuras que os cientistas esperam encontrar água congelada.

Uma diferença fundamental entre a Terra e a Lua tem a ver com a inclinação de cada orbe em seu eixo. A Terra apresenta uma inclinação de 23,5 graus, razão pela qual os polos sul e norte “inclinam-se” em direção ao Sol, dependendo da estação. Em comparação, a Lua não é inclinada, pois está deslocada apenas 1,5 grau em seu eixo.

Portanto, para os astronautas em qualquer um dos polos lunares, a altura do Sol permaneceria praticamente a mesma ao longo de um dia. Como disse a Nasa, se “uma pessoa estivesse no topo de uma colina perto do polo sul lunar durante o dia, em qualquer época do ano, ela veria o Sol se movendo no horizonte, deslizando pela superfície como uma lanterna em uma mesa”.

W. Brent Garry, geólogo do Goddard Space Flight Center da Nasa em Greenbelt, Maryland, junto com seus colegas, criou um tour de realidade virtual de uma missão hipotética no polo sul lunar como parte de um esforço para habituar planejadores de missões e astronautas ao ambiente. Um vídeo recente da simulação da Nasa (acima) mostra como isso será estranho para os astronautas que trabalharem perto do polo sul.

Conforme observado, os astronautas, além de luz, precisarão de acesso a crateras escuras. A descoberta do gelo de água é importante do ponto de vista científico, mas também do ponto de vista prático, pois a água pode ser usada para aumentar os sistemas de suporte de vida.

“Uma ideia é montar acampamento em uma zona iluminada e atravessar essas crateras, que são excepcionalmente frias”, explicou Daniel Moriarty, cientista planetário de Goddard da Nasa, no comunicado à imprensa. “As temperaturas em algumas das crateras mais frias podem cair para cerca de -235 graus Celsius.”

Um conceito que está sendo considerado seria o de ver os astronautas pousarem em uma superfície relativamente plana ao longo da borda ou cume de uma cratera bem iluminada. O local deve ser razoavelmente plano para evitar que o módulo de pouso tombe.

Ao mesmo tempo, no entanto, o local de pouso precisará estar razoavelmente longe da área principal de atividade. Isso tem a ver com a natureza do pouso, já que os propulsores da espaçonave lançarão enormes quantidades de material na forma de poeira e rochas, água e gases. A Nasa estima que o pouso da Artemis redistribuirá centenas de quilos de material de superfície e os enviará voando em baixa gravidade por quilômetros. Os propulsores da nave também contaminarão a área de pouso imediata, razão pela qual o acampamento base, que incluirá um habitat e painéis solares, estará localizado a pelo menos oito quilômetros de distância do local de pouso.

“Você quer aproveitar as vantagens dos acidentes geográficos, como colinas, que podem atuar como barreiras para minimizar o impacto da contaminação”, disse Ruthan Lewis, líder da equipe de planejamento e análise do polo sul da Nasa, no comunicado. “Portanto, estamos considerando distâncias, elevações e declives em nosso planejamento.”

Por último, e talvez o mais óbvio, o ponto de pouso da Artemis precisa ser no lado da Lua voltado para a Terra para minimizar interrupções de comunicação com os controladores no solo. Curiosamente, a região polar sul levará os astronautas muito perto do lado externo, e é muito possível que eles encontrem algumas rochas que se originaram no lado “escuro”, lançadas por eventos de impacto. Isso seria um bônus, entretanto, e uma ótima oportunidade para os cientistas estudarem materiais da face oposta da Lua.

Com tudo isso em mente, será interessante aprender sobre o local de pouso assim que ele for escolhido pela Nasa. Seja qual for, ele se tornará instantaneamente o local mais cativante em nosso satélite natural.

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