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Finalmente estamos descobrindo mais sobre o MU69, a estranha rocha achatada nos extremos do sistema solar

Primeira análise de dados coletados sobre o MU69 revelam que o objeto não sofreu quase nenhuma influência do Sol ou de outros planetas desde a formação do sistema solar.

MU69

Crédito: NASA/Johns Hopkins Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute, National Optical Astronomy Observator

A missão New Horizons divulgou os primeiros resultados dos estudos de 2014 sobre o MU69, o objeto espacial mais distante já explorado.

Apelidado de Ultima Thule, ele parece ser um par de rochas grudadas, medindo cerca de 16 quilômetros de diâmetro cada. Ele orbita o Sol a uma distância de aproximadamente 6 bilhões de quilômetros (Plutão orbita a 5,9 bilhões de quilômetros). Parece que ele se manteve relativamente inalterado desde o início do sistema solar, e já apresentou algumas surpresas quando a espaçonave da New Horizons transmitiu as primeiras imagens – e agora, esses primeiros resultados foram divulgados e analisados. Mas as coisas estão só começando para a equipe de pesquisadores.

“Ainda está muito cedo”, afirmou Alan Stern, pesquisador principal da missão New Horizons, ao Gizmodo. “Nós só estamos conseguindo respirar agora”.

O astrônomo Marc Buie descobriu o MU69 utilizando o telescópio Hubble em 2014, e os cientistas da New Horizons visualizaram o objeto pela sua espaçonave após uma campanha bem-sucedida registrar imagens do planeta anão Plutão. O MU69 é um clássico objeto frio do Cinturão de Kuiper, o que significa que ele orbita o Sol em um trajeto relativamente circular e inalterado. “Inalterado” é o que melhor descreve essa rocha; os autores do estudo a chamam de “cristalina”. Essencialmente, é como uma cápsula do tempo do início do sistema solar e que não foi alterada pela influência do Sol ou outros planetas.

A New Horizons acompanhou o objeto e o observou detalhadamente no dia 1º de janeiro. Nesta quinta-feira (16), os cientistas da missão revelaram a primeira série de análises dos resultados no periódico acadêmico Science. Essa análise inicial revelou algumas coisas importantes: primeiramente, o objeto é um “binário de contato”, o que significa que são duas rochas que colidiram relativamente devagar. Surpreendentemente, essas rochas são achatadas, e não esféricas. Em segundo lugar, não há qualquer evidência de anéis, satélites, poeira, uma atmosfera de gás ou qualquer interação com o vento solar. Em terceiro lugar, o brilho e a textura variam em diferentes partes do objeto, mas sua composição não parece variar.

Esses são apenas resultados iniciais, e os cientistas vão continuar coletando dados da New Horizons por, pelo menos, mais um ano. Mas pesquisadores estão sempre tentando entender a história da MU69. O objeto parece ter se formado após duas nuvens homogêneas de seixos colidirem sob influência da gravidade e, então, lentamente se fundiram uma a outra.

Cientistas que estudam formações planetárias estão animados com a ideia desse mundo cristalino. “Nós conseguimos ver algo que se parece mais ou menos com o que era no final da formação dos planetas, que se formou onde está agora”, Christa Van Laerhoven, pesquisadora de pós-doutorado na University of British Columbia e que não é afiliada à equipe do New Horizons, afirmou ao Gizmodo. Ela explicou que o MU69 tem um tamanho um pouco grande demais para que o eletromagnetismo seja a força dominante, e um pouco pequeno demais para ser dominado pelos efeitos da gravidade, o que significa que ele poderia fornecer mais dados para auxiliar na compreensão do processo de formação planetária.

E a forma achatada do objeto é especialmente um mistério. “É um pouco surpreendente que haja algo tão achatado no sistema solar”, afirmou Kat Volk, cientista associado da University of Arizona e que também não faz parte da New Horizons, ao Gizmodo. Físicos geralmente assumem que tudo no espaço é esférico, então será necessário um certo esforço para entender como o MU69 acabou ficando nesse formato.

É apenas um objeto, no entanto, então não podemos generalizar o resto do Kuiper Belt. “Se pudéssemos ver mais deles, seria ótimo”, afirmou Volk. “Especialmente nessa dimensão de tamanho que é difícil ser visto da Terra”.

A equipe da New Horizons espera continuar estudando objetos do Kuiper Belt e o espaço, e pode até planejar um voo de outro objeto já que a espaçonave continua sua jornada para longe do Sol, disse Stern. Mas até lá, existem muitos outros mistérios a serem revelados nos dados que ainda serão coletados.

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