Desvendado: “sangue” de cachoeira na Antártida vem de nanoesferas com ferro

A água na geleira Taylor tem bolinhas mais de cem vezes menores que um glóbulo vermelho, com ferro, silício, cálcio, alumínio e sódio. Saiba detalhes
fotografia da cachoeira de sangue na geleira taylor
Imagem: National Science Foundation/Peter Rejcek/Reprodução

Existe uma cachoeira de sangue na geleira Taylor, na Antártida, milhares de quilômetros ao sul da Nova Zelândia. Não é, na verdade, um nome para se levar ao pé da letra: a cachoeira é um fluxo de água que desce a geleira e pinta o amontoado de gelo de vermelho escuro.

Ela foi descoberta na década de 1910, em uma expedição liderada pelo geólogo britânico Thomas Griffith Taylor (daí o nome do lugar). A origem do fenômeno permaneceu misteriosa desde então. Mas, agora, pesquisadores americanos acreditam ter desvendado o que está por trás da cachoeira de sangue: nanoesferas ricas em ferro.

Os cientistas já sabiam que existe uma rede de rios por baixo do gelo, cheios de salmoura com alto teor de ferro. Enquanto a alta concentração de sal mantém líquidas estas porções de água, ao contrário do gelo circundante, o ferro oxida em contato com o oxigênio da atmosfera e confere a cor vermelha à cachoeira.

Mas Ken Livi, da Johns Hopkins University, e seus colegas examinaram sólidos em amostras do “sangue”. Usando microscópios eletrônicos, eles descobriram que o ferro, na verdade, está em nanoesferas que também contêm silício, cálcio, alumínio e sódio – e a concentração de todos variava nas bolinhas mais de cem vezes menores que um glóbulo vermelho.

Livi explicou em comunicado que não se trata de esferas minerais. “Para ser um mineral, os átomos devem estar dispostos em uma estrutura cristalina muito específica. Essas nanoesferas não são cristalinas, então os métodos usados anteriormente para examinar os sólidos não as detectaram.”

Planeta Vermelho

Os pesquisadores afirmam que as últimas missões não tripuladas para Marte despertaram um interesse entre a comunidade científica para analisar os sólidos da cachoeira de sangue como se este fosse um local de pouso marciano. 

Por isso, o estudo publicado na Frontiers in Astronomy and Space Sciences emprega técnicas empregadas anteriormente em rovers e orbitadores em Marte. O que os pesquisadores concluíram? Que a análise conduzida por esses veículos rover é insuficiente para caracterizar materiais nas superfícies dos planetas.

“Isso é especialmente verdade para planetas mais frios como Marte, onde os materiais formados podem ser nanométricos e não cristalinos”, disse Livi em comunicado. “Para entender verdadeiramente a natureza das superfícies dos planetas rochosos, um microscópio eletrônico de transmissão seria necessário, mas atualmente não é viável colocar um em Marte.”

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