Dia da Imigração Japonesa: conheça a história do filme nipo-brasileiro “Gaijin”
Neste 18 de junho é comemorado o “Dia Nacional da Imigração Japonesa”. Tudo começou em 1908, há 115 anos, quando o navio Kasato Maru atracou em Santos, no litoral de São Paulo, com 781 imigrantes japoneses.
Na época, após a abolição da escravidão no Brasil, os agricultores do país passaram a contratar japoneses para trabalhar na colheita de café. Assim, o Japão, com enorme crescimento populacional, fechou um acordo com os brasileiros, promovendo o café como “ouro que brotava em árvores”. Mas, quando chegaram ao país, as famílias se depararam com a precariedade que viveriam dali para frente.
Desde então, estima-se que o Brasil tenha a maior população de origem japonesa fora do Japão, segundo o Ministério do Turismo, com cerca de 2 milhões de japoneses e descendentes. Entre eles, está a diretora de cinema nipo-brasileira Tizuka Yamasaki, de 74 anos.
Nascida em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, ela foi criada em Atibaia (SP) e cursou arquitetura na UnB (Universidade de Brasília). Mas foi em Niterói, no Rio de Janeiro, que se tornou cineasta, na UFF (Universidade Federal Fluminense).
Yamasaki é a criadora de “Gaijin, Caminhos da Liberdade” (1980), filme inspirado na história de sua avó, Titoe Nishi. Com o longa-metragem — o primeiro dela –, conquistou o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado, bem como uma menção especial do júri no Festival de Cannes, no mesmo ano.
Em “Gaijin”, uma jovem japonesa sai de seu país buscando uma vida melhor e oportunidades de trabalho. Então, no Brasil, ela começa a trabalhar nas lavouras de café, descobrindo que a exploração é igual à de qualquer lugar do mundo. O título significa “estrangeiros” para os japoneses.
Confira um trecho do longa, disponível no YouTube:
A história de “Gaijin”
De acordo com a cineasta, em entrevista ao programa “Persona em Foco”, da TV Cultura (vídeo logo abaixo), sua avó imigrou na adolescência com seus tios, completando 14 anos durante a viagem. Inicialmente, ela viria cuidar de seus primos e enviar dinheiro para os pais no Japão.
Isso porque, segundo sua mãe, não encontraria marido em seu país devido à sua aparência. Entretanto, aos 18 anos, casou-se. Então, três anos depois, ficou viúva, quando o marido morreu de tuberculose, deixando Nishi com uma filha pequena até se casar novamente.
Morando com a avó, Yamasaki se cansou de ouvir as histórias sobre as dificuldades da imigração. Foi só mais tarde, em Brasília, distante da comunidade japonesa, e perto de brasileiros de diversas partes do país, que surgiu a curiosidade sobre sua origem. Então, veio a ideia de “Gaijin”, o primeiro longa sobre a imigração japonesa no Brasil.
Até então, o assunto era quase desconhecido. Segundo a diretora, ao realizar pesquisas para desenvolver o filme, não encontrou o tema em livros de história. Sendo assim, ela juntou as histórias de testemunhas à história do Brasil, “costurando” as duas partes.
Sequência e planos de Tizuka Yamasaki
Em 2005, cerca de 25 anos após a estreia de “Gaijin”, o drama ganhou uma sequência, “Gaijin – Ama-me como Sou”. O filme se passa em 1908 e, assim como no anterior, acompanha imigrantes japoneses que chegam ao Brasil para trabalhar em uma fazenda de café e precisam se adaptar às condições e à exploração dos donos do local.
Em entrevista à revista Alternativa, em 2020, Yamasaki disse que não há planos para uma nova sequência. Entretanto, planos futuros da cineasta envolvem seu vínculo com a cultura japonesa. “Penso que qualquer coisa que fizermos, seja via audiovisual ou outras manifestações artísticas – meus filhos, o André Kondo, eu e tantos outros descendentes japoneses – estaremos tocando na questão da identidade nikkei“, disse.