Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: 4 brasileiras que fizeram história
Nesta terça-feira (25), é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data nasceu com o objetivo de lembrar a luta e a resistência dessas mulheres contra racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito que elas ainda são vítimas.
O 25 de julho começou a ser comemorado em Santo Domingo, na República Dominicana. Lá aconteceu o primeiro encontro de mulheres negras latino-americanas e caribenhas em 1992. A partir daí, a data passou a ser reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).
No Brasil, o dia também é uma homenagem à Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”. Ela foi líder do Quilombo Quariterê no século 18, comunidade localizada na fronteira entre Mato Grosso e a Bolívia.
Pensando nisso, o Giz Brasil separou quatro brasileiras que marcaram a história da cultura e da política. Acompanhe abaixo.
A ideia é lembrar grandes nomes no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. É importante lembrar que os trabalhos delas estão na exposição “Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência”, em cartaz no Memorial da Resistência de São Paulo até 27 de agosto, com entrada gratuita. Se liga só:
Madrinha Eunice
Para alguns, ela é a matriarca do samba em São Paulo. Outros, carinhosamente, chamam-na de “vovó do samba”. Essa Deolinda Madre, mais conhecida pelo apelido Madrinha Eunice, por batizar dezenas de crianças. Ela é fundadora da Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva da Escola de Samba Lavapés Pirata Negro, a mais antiga ainda em atividade, e um símbolo do carnaval paulistano.
Comerciante, ela Deolinda economicamente independente e inspirou gerações de mulheres a buscarem pelo mesmo. Filha de escravos alforriados, ela nasceu em 1909, na cidade de Piracicaba, no interior paulista, mas veio à capital aos 11 anos e sempre viveu no bairro da Liberdade. Até os 87 anos, quando morreu, Madrinha Eunice esteve à frente da escola e também do clube de futebol associado a ela.
Helenira Resende
Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desaparecida desde 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos, Helenira Resende se destacou na resistência à ditadura no Brasil. Oriunda de Cerqueira César, no interior de São Paulo, mudou-se com a família para Assis aos quatro anos. Lá, iniciou na militância estudantil e ajudou a fundar o grêmio da escola.
Mudou-se para a cidade de São Paulo, onde cursou Letras na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP), sendo eleita presidente do Centro Acadêmico, além de a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1969. Conhecida entre seus colegas pelo apelido de “Preta”, a primeira prisão aconteceu após escrever nos muros da Universidade Mackenzie a frase: “Abaixo as leis da ditadura”, em 1967.
Em maio do ano seguinte, em 1968, a prenderam novamente quando ela convocava os colegas para uma passeata na capital paulista. O delegado Sérgio Paranhos Fleury a jurou de morte, mas um habeas corpus a soltou, pouco antes da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5). A partir daí, passou a atuar na clandestinidade, vivendo em diversos locais até ir para a região do Araguaia, no sul do Pará, usando o codinome “Fátima”.
Ruth Guimarães
Ela nasceu em 13 de junho de 1920, na cidade de Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, e foi a primeira escritora negra brasileira a alcançar projeção nacional. Com dez anos de idade, publicou suas primeiras poesias em periódicos da época. Mais tarde, em 1938, mudou-se para a capital paulista, onde fez os cursos de Filosofia e Letras na USP.
Ainda estudou Dramaturgia e Crítica na Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquita, na USP. Pouco antes da morte do escritor Mário de Andrade (1893–1945), ele auxiliou a escritora em uma pesquisa sobre contos folclóricos nacionais. As descobertas da autora nesse campo deram origem ao livro “Os filhos do Medo”, mas em 1946 ela publicou seu primeiro romance: “Água Funda”.
A escritora se transformou em um ícone, principalmente por ser uma das primeiras negras a ser reconhecida nesse nível na literatura brasileira, ao retratar a região do Vale do Paraíba em sua obra, que foi um sucesso de crítica. Ela ainda atuou como professora de Português por mais de 30 anos em escolas públicas e exerceu o papel de jornalista por muitos anos em jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Lisboa.
Maria Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus é uma escritora mineira nascida em 14 de março de 1914. Apesar de ter apenas dois anos de estudo formal, ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Nela, relatava o dia a dia na favela do Canindé. Neta de escravos e filha de mãe analfabeta, ela nasceu em Minas Gerais e, em 1947, veio para São Paulo.
Ao chegar na capital paulista, foi morar na favela do Canindé, que ficava às margens do Rio Tietê. Carolina era catadora de papel antes de se tornar escritora. Chegou a passar fome e morar na rua. Em meio a toda essa difícil realidade, havia os livros. Era apaixonada pela leitura. A escrita literária, portanto, foi uma consequência.
Em 1950, publicou um poema em homenagem a Getúlio Vargas, no jornal ‘O Defensor’. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas (1929-2018) conheceu a autora e descobriu que ela possuía diversos cadernos (diários). Lá, ela dava seu testemunho sobre a realidade da favela. Ele quem ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro. Depois, ele se tornou uma das obras mais marcantes da literatura brasileira. Vendeu cerca de 3 milhões de livros em 16 idiomas.