Droga antiviral promissora e riscos de co-infecções: os avanços científicos relacionados ao coronavírus

O ritmo das pesquisas sobre o COVID-19 tem sido inédito, com dezenas de estudos e novos testes a cada dia. Separamos aqui os últimos desenvolvimentos científicos que podem ser muito importantes daqui pra frente.
Amostras de muco em laboratório de testes para o coronavírus
Amostras de muco em laboratório de testes para o coronavírus. Imagem: Jane Barlow /Getty

O ritmo das pesquisas sobre o COVID-19 tem sido inédito, com dezenas de estudos e novos testes a cada dia. Separamos aqui os últimos desenvolvimentos científicos que podem ser muito importantes daqui pra frente.

Remdesivir continua sendo promissor

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Para começar, uma notícia que pode dar esperança para o front de tratamento.

Há cada vez mais evidência, ainda que muito preliminares, de que o medicamento experimental antiviral remdesivir pode ser eficaz contra o novo coronavírus. Na quinta-feira (16), o STAT News noticiou que pesquisadores da Universidade de Chicago viram primeiros resultados encorajadores de ensaios clínicos na Fase III em pacientes em estado grave.

Os pesquisadores da Universidade de Chicago estão analisando 125 pacientes neste ensaio clínico, que está sendo financiados pela fabricante do remdesivir, a Gilead Sciences.

De acordo com uma apresentação de um dos autores do estudo da universidade, obtida pelo STAT, muitos dos que receberam o medicamento até agora recuperaram rapidamente e foram registradas apenas duas mortes.

Além disso, um artigo publicado na semana passada no New England Journal of Medicine relatou que uma pequena maioria dos pacientes graves com COVID-19 (36 dos 53 pacientes) que receberam remdesivir em uso compassivo se recuperaram com esse tratamento.

Os resultados, por mais promissores que sejam, estão longe de constituir uma prova definitiva da eficácia do remdesivir – como vem acontecendo com outros medicamentos. Existem outros testes nesses ensaios, realizados em outros hospitais e universidades, e os dados completos ainda não estão disponíveis.

Nem o estudo publicado no New England Journal of Medicine, nem o teste da Gilead na Universidade de Chicago incluíram um grupo de controle com placebo – um aspecto chave para evidências científicas, mas que neste momento está limitado devido a gravidade e urgência da doença.

Outros ensaios clínicos que envolvem remdesivir planejam, no entanto, ter um grupo de controle. Mais dados em grande escala para esse medicamento e outros tratamentos potenciais deverão aparecer em breve.

Co-infecções podem ser mais comuns do que pensávamos

Muitas pessoas doentes com COVID-19 podem também estar lidando com outras infecções, sugeriu uma nova pesquisa publicada nesta semana no JAMA.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford testaram amostras do muco da garganta recolhidas em doentes do estado da Califórnia para o novo coronavírus (chamado SARS-CoV-2), bem como para os vírus comuns da gripe e resfriado. Das 116 amostras que deram positivo para o SARS-CoV-2, 20% também deram positivo para outro vírus. Essas co-infecções envolveram frequentemente gripes comuns, tais como rinovírus, enterovírus e coronavírus sazonais.

As evidências, embora sejam pequenas e isoladas em uma região dos EUA, são preocupantes, porque pesquisas anteriores na China tinham sugerido que as co-infecções eram muito raras. Uma razão pela qual essa pesquisa é importante é porque médicos nos EUA aconselhados a testar pacientes para outros vírus respiratórios como uma forma de descartar a COVID-19, dada a falta de testes acessíveis para o coronavírus.

Mas a presença de outro vírus “pode não dar garantias de que um doente não tenha também SARS-CoV-2”, escreveram os autores. A continuação da pesquisa terá que acompanhar a forma como habitualmente as co-infecções estão ocorrendo e se representam outros desafios, tais como o aumento do risco de sintomas graves.

Uma forma melhor de testar novos tratamentos

Alguns cientistas acreditam ter encontrado uma forma mais segura e precisa de testar potenciais terapias para o COVID-19.

Em um estudo publicado na Science nesta sexta-feira (17), pesquisadores dos Países Baixos e da Alemanha relataram que os Macaca fascicularis, também conhecidos como Macacos do Velho Mundo, podem ser expostos ao coronavírus e desenvolver apenas uma infecção leve.

Macaco do Velho MundoMacaco do Velho Mundo. Imagem: Aneta Pawska/Wikimedia Commons

Assim como as pessoas, os macacos mais velhos tinham infecções mais longas e mais sintomas do que os mais jovens, embora os sintomas fossem leves em todos os casos. Eles também pareciam ter propagado a infecção a outros macacos, mesmo que não estivessem apresentando sintomas, assim como as pessoas assintomáticas que podem propagar o vírus.

Esses resultados podem significar que os cientistas poderiam utilizar esses primatas como um uma fase de estágio para testar futuras vacinas e tratamentos do COVID-19. Alguns especialistas em ética e cientistas manifestaram preocupação com a falta de testes pré-clínicos para muitas das potenciais terapias que já estão sendo testadas em pessoas.

Embora os ratos e outros roedores tenham se mostrado promissores como modelos animais para o COVID-19, a utilização de animais mais semelhantes aos seres humanos deverá facilitar aos pesquisadores a identificação de quaisquer riscos potenciais de um medicamento experimental antes de ele chegar aos ensaios em seres humanos.

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