Efeito contrário: vídeos do YouTube aumentam o tédio ao invés de ser passatempo
O hábito de alternar entre vídeos do YouTube e TikTok para aliviar o tédio pode ser um tiro pela culatra. Confira neste estudo canadense com usuários destas redes.
Como é esse efeito reverso
De acordo com um novo estudo da Universidade de Toronto, publicado na última segunda-feira (19), o tédio é consideravelmente maior quando se alterna ou acelera vídeos buscando combater o tédio. Esse fenômeno é conhecido como “digital switching”, ou “troca digital”.
A “troca digital” é o hábito de avançar rapidamente vídeos ou alternar entre eles, que pode levar a uma percepção de falta de sentido no conteúdo. De acordo com o estudo, a imersão no conteúdo, em vez da troca constante, é a chave para uma experiência mais gratificante.
No entanto, com a troca constante de vídeos, o espectador não tem tempo para se envolver ou compreender o que está sendo apresentado.
Katy Tam, psicóloga da Universidade de Toronto e co-autora do estudo, afirma que o hábito de alternar ou acelerar vídeos para evitar o tédio pode, na verdade, “intensificar a sensação de tédio e reduzir os benefícios da experiência”.
Estudo com 1.200 participantes
Para investigar a relação entre alternar entre vídeos e a incidência do tédio, os pesquisadores conduziram dois experimentos com cerca de 1.200 usuários.
O estudo descobriu que participantes se sentiam menos entediados quando assistiam a um vídeo longo sem a opção de troca. Esse resultado foi comparado a um em que os mesmos participantes podiam alternar entre vários vídeos curtos.
No segundo caso, os participantes reportaram se entendiar mais rapidamente e com maior frequência, segundo o estudo.
Portanto, a troca digital estava associada a maior tédio, menor satisfação, menor engajamento e menor percepção de significado no conteúdo.
O problema do tédio
Apesar da variedade de opções de entretenimento disponíveis atualmente, estudos anteriores revelaram que o aumento do tédio pelos vídeos curtos é uma tendência entre os jovens.
O estudo define o tédio como “estado aversivo de querer, mas não conseguir, se engajar em uma atividade satisfatória”.
O tédio tem ligação com a atenção e aparece em situações que precisam de novidade, significado, autonomia ou desafio.
De acordo com Katy Tam, a mudança constante entre vídeos gera uma “busca eterna por algo mais interessante”.
A pesquisadora sugere que a vontade é crucial para quebrar o ciclo do tédio resultante do “scroll infinito” dos vídeos do YouTube.
“Assim como vivenciar uma experiência mais imersiva em um cinema, o prazer maior vem de se imergir nos vídeos online, em vez de ficar alternando entre eles”, diz Tam.