Em Israel, startup quer acelerar negócios de tecnologia de judeus ultraortodoxos
Uma startup de tecnologia quer movimentar a economia de Israel incentivando o empreendedorismo de homens Haredi – comunidade de judeus ultraortodoxos que seguem o Velho Testamento e vivem afastados da grande maioria das práticas modernas.
Hoje, os Haredi – do hebraico “aqueles que tremem diante de Deus” – representam um oitavo da população de 9,2 milhões de habitantes de Israel. Mas, como essa comunidade costuma ter, em média, sete filhos por família, os ultraortodoxos devem passar a ser quase um quarto da população até 2050.
Criada em 2017, a startup Bizmax prevê impactos econômicos a longo prazo. As famílias Haredi costumam ser mantidas pelas mulheres, enquanto os homens se dedicam ao estudo religioso.
Por causa disso, eles não precisam servir o Exército e se distanciam do acesso às tecnologias militares que têm o desenvolvimento incentivado pelo governo de Israel. Além disso, só metade dos homens Haredi trabalha e quase metade das famílias ultraortodoxas vivem abaixo da linha da pobreza.
O objetivo da startup é mitigar o afastamento tecnológico, ajudar empreendedores Haredi a desenvolver habilidades de negócios e ligá-los a investidores que estão em sintonia com a vida ultraortodoxa.
“Temos um grande desafio com a comunidade Haredi e integração na força de trabalho”, disse o fundador da startup, Yitzik Crombie, ao britânico Financial Times. “Tentamos mostrar a eles que é possível a partir da construção de modelos que possam ajudar startups”.
Desafios à frente
Como os membros Haredi são historicamente muito fechados, não é uma surpresa perceber que muitos são contrários às tentativas de incentivar o trabalho com tecnologia.
Um grupo de ultraconservadores travou uma campanha barulhenta contra a startup em seus pashkevilins de Jerusalém – grandes outdoors públicos por onde os ultraortodoxos recebem suas notícias.
Mas esse está longe de ser o único desafio. Nessas comunidades, as escolas não ensinam matemática ou inglês. Além disso, muitos líderes travam uma batalha contra qualquer tecnologia moderna, desde smartphones e mídias sociais até a televisão.
Ainda assim, muitos rabinos prestaram apoio à Bizmax. Uma forma de atrair os Haredi é “fundir” os dois mundos no escritório: entre os computadores, há fotos de rabinos nas paredes e citações de inspiração religiosa, como “Ore muito” e “O sucesso depende de Deus”.
Abertura gradual
Até agora, 42 empresas contaram com o apoio da startup. Elas levantaram US$ 36 milhões – mais de R$ 190 milhões no câmbio atual – e contrataram 200 funcionários.
Entre os empresários está Jonathan Heller, que criou a empresa MikvaTech. A companhia fornece tecnologia para limpeza de água para piscinas e banhos em rituais judaicos. A atividade passa por rigorosas regras religiosas. “Essa necessidade não seria atendida por outra startup”, disse Heller.
Segundo Crombie, o segredo é ajudar os empreendedores judeus ultraortodoxos e não forçá-los a escolher entre a religião e seus negócios. “Estamos tentando mostrar a eles que é possível fazer isso sem ter medo de mudar seu modo de vida”, afirmou.
Enquanto isso, a cena tecnológica de Israel está a pleno vapor. Startups arrecadaram US$ 25,4 bilhões em financiamento só em 2021. O setor de tecnologia corresponde a mais da metade das exportações do Estado judeu.