Um peixe que existe há milhões de anos e já foi considerado praga de tão abundante, hoje corre risco de extinção: a exótica enguia.
Segundo especialistas, o principal motivo desse extermínio é o mercado clandestino.
E para se salvarem dessa extinção, os próprios peixes criaram uma técnica para “pegar um atalho” no mar e sobreviver a ameaça humana no Oceano Atlântico.
O inglês Andrew Kerr, presidente do Sustainable Eel Group (SEG), que trabalha em toda a Europa para ajudar a preservar esta espécie, explicou como as enguias muitas vezes temidas por terem um formato que lembra uma cobra, fazem para se livrarem dos perigos causados pelo homem em seus percursos do Atlântico.
Segundo Kerr, elas tomam a forma de uma folha e flutuam enquanto se retorcem na corrente para pegar uma deriva através do Atlântico para subir os rios de água doce, para ganhar peso. Podem permanecer nos rios de água doce durante anos e depois fazem a viagem de regresso pelos Açores ao mar dos Sargaços.
Entretanto, apesar dos esforços, a população de enguias europeias diminuiu 90% em apenas algumas décadas. Para tentar resolver esse problema, algumas famílias de pescadores da Europa, trabalham com o SEG em um projeto de “cultivo de enguias”, para tornar a cadeia de abastecimento mais sustentável.
Eles pegam os peixes, cuidam, esperam a reprodução e fazem a venda de forma legal para tentar evitar a extinção da espécie.
Jérôme Gurruchaga, que dirige uma empresa familiar de cultivo de enguias no sudoeste da França, explica que pelo menos três quartos das enguias consumidas na Europa vêm de fazendas como a de sua família. O restante é capturado “tradicionalmente”.
Na Holanda, os pratos de enguia são uma tradição de longa data. Alex Koelewijn, CEO de uma empresa que produz mais de 200 toneladas de enguia defumada por ano, é favor do projeto de cultivo e recuperação das enguias.
“Se não cuidarmos da natureza, perderemos nosso trabalho, nossa cultura e nossas tradições de comer enguias. É muito importante que as empresas que dependem da natureza tenham cérebro para aceitar que a natureza tem seus limites e cuidar disso”, disse o CEO.
Segundo o biólogo holandês Willem Dekker, um dos primeiros a notar o declínio da espécie ainda na década de 1980, não dá para afirmar qual real motivo do desaparecimento da espécie. Pode ser perda de habitat, poluição das águas interiores, pesca, introdução de um parasita ou mudança climática, ele acredita ser uma mistura de tudo.
Outra questão que ainda é um problema também e a caça ilegal, que mesmo após ser reduzido a cerca de 50 toneladas de enguias bebês por ano, ainda é de duas a três vezes mais do que todo o mercado europeu legal.
São inúmeros os projetos em toda a Europa para a recuperação dessa espécie, desde novas saídas por hidroelétricas, por exemplo, a mais fazendas de criação. Para os especialistas e cultivadores, restaurar a população exigirá muitas décadas de esforços contínuos, mas tem tudo para dar certo.