Epic Games usa arma publicitária que Apple já aproveitou contra IBM

A desenvolvedora do Fortnite, Epic Games, acabou de entrar numa briga com gente muito grande: Apple e Google.
Trecho de peça publicitária da Epic Games satirizando a Apple

Os bilionários estão brigando. Duas empresas gigantes do mundo da tecnologia estão sendo processadas por um Golias do mundo dos videogames. E como muita gente ainda está em casa, preocupados com o retorno às aulas, a iminência de uma piora econômica e a insegurança no emprego, buscamos por entretenimento sempre que possível.

Mas esse entretenimento não tem vindo tanto da TV, que interrompeu produções ao redor do mundo em março e só tem mais algumas novidades até 2021. Não podemos ir ao cinema e aqueles que pensam em reabrir provavelmente oferecerão algum risco de contágio ao novo coronavírus. Os quadrinhos estão aí, mas preocupa saber que uma das maiores editoras se viu dizimada após uma fusão com a AT&T. Os livros até que nos consolam, assim como os blogs – quando não são engolidos pelo apocalipse dos anúncios digitais.

Mas os games realmente proporcionaram conforto nestes tempos horríveis, e agora eles proporcionaram um novo tipo de entretenimento. A desenvolvedora do Fortnite, Epic Games, acabou de entrar numa briga com gente muito grande: Apple e Google. Isso não quer dizer que a Epic Games seja pequena, pelo contrário, a empresa está avaliada em mais de US$ 17 bilhões.

Primeiro, a Epic iscou a Apple, que tem sofrido grande pressão sobre suas políticas na App Store, após múltiplas alegações de comportamento anticompetitivo. Depois, processaram o Google também.

A Epic Games publica uma série de jogos nas duas plataformas, incluindo o Fortnite.

Este game, especificamente, possui moedas que são compradas com dinheiro do mundo real. O problema é que, até agora, 30% desse dinheiro do mundo real ia diretamente para os bolsos da Apple e Google como um “imposto” por disponibilizar o game nas lojas de aplicativos e, consequentemente, no iOS e Android.

Os desenvolvedores de aplicativos concordam em pagar 30% para ter acesso aos milhões de usuários, mas os desenvolvedores também precisam concordar em não oferecer métodos alternativos de pagamento que burlem esse imposto.

A questão é mais complicada na plataforma da Apple, que não oferece alternativas de instalação como acontece no Android, em que o usuário pode baixar o arquivo do jogo direto do site da Epic Games, por exemplo.

Por isso, a Epic Games decidiu dizer “foda-se” e começou a oferecer a moeda do Fortnite a uma taxa muito menor se fosse comprada diretamente da Epic, em vez de passar pela Apple. Foi claramente uma ameaça para uma das maiores e mais bem sucedidas lojas de aplicativos em operação.

A Apple respondeu como costuma fazer, retirando rapidamente o Fortnite de sua loja e citando a violação de sua política, embora seu comentário oficial tenha sido uma reprimenda mais severa do que o habitual.

“A Epic habilitou um recurso em seu aplicativo que não foi revisto ou aprovado pela Apple”, disse a empresa em uma declaração ao Verge, “e eles o fizeram com a intenção expressa de violar as diretrizes da App Store no que diz respeito a pagamentos em apps que se aplicam a todo desenvolvedor que vende produtos ou serviços digitais.”

A Apple estava certa. A companhia estava mostrando à Epic o que é o quê ao remover o jogo da App Store, mas a Epic Games estava organizando um novo grande evento dentro do jogo. E enquanto os jogadores de Fortnite se reuniam em torno de telas, surgiu uma adaptação de um comercial familiar.

Você está lendo o Gizmodo, então acho que é seguro assumir que você conhece o famoso comercial da Apple exibido no Super Bowl de 1983, que cutucava a IBM, na época a empresa que dominava o mercado de PCs, ao mesmo tempo em que mostrava sua incrível perspicácia para o espetáculo e a publicidade.

No comercial, pessoas inspiradas na massa de Metropolis de Fritz Lang assistem boquiabertas a uma tela, até que uma mulher corre para a sala, balança um martelo, e estilhaça a tela – libertando as massas.

No comercial satírico da Epic, os icônicos avatares Fortnite, boquiabertos, assistem a um desenho animado de uma maçã podre até que uma mulher – a única personagem colorida no vídeo – aparece com um enorme martelo e estilhaça a tela.

Aí aparece o seguinte texto:

A Epic Games desafiou o monopólio da App Store. Em retaliação, a Apple está bloqueando o Fortnite em um bilhão de dispositivos. Lute com a gente para que 2020 não vire “1984”.

A Epic não está de brincadeira. Não há recadinhos. Nenhum esforço para ser político ou tentar manter a paz. A Epic Games fez com que a Apple irritasse milhões de jogadores de Fortnite e imediatamente direcionaram essa fúria contra a Apple, atacando também com uma hashtag #FreeFortnite.

E, caso você ainda não tenha certeza de qual é o plano da Epic, a empresa liberou o vídeo junto com uma ação judicial movida contra a empresa da maçã, além de divulgar um FAQ que coloca a culpa da indisponibilidade do game na Apple. Eles chegaram a colocar links para reportagens do New York Times, Wall Street Journal e Washington Post sobre as diretrizes da App Store e o suposto comportamento anticompetitivo.

Não me lembro de nenhuma empresa – especialmente uma do tamanho da Epic Games – ter instaurado uma ação judicial tão perfeitamente. Os advogados que eu contatei não conseguem se lembrar de uma ação judicial movida com tal coordenação.

É inédito, e tenho certeza de que se Steve Jobs estivesse vivo, ele ficaria totalmente encantado – só a tempo de chamar sua equipe para destruir Epic Games.

Este é o entretenimento que precisamos em 2020, e há a possibilidade de que esses eventos possam mudar o cenários para os desenvolvedores do iOS.

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