Espécie de invertebrado que sobrevive no espaço é descoberta em árvore da Unicamp
A bióloga e mestranda da Universidade de Campinas (Unicamp) Emiliana Brotto descobriu uma nova espécie de tardígrado, popularmente conhecido como “urso d’água”. O mais curioso é onde a nova espécie estava: nas árvores da universidade.
O invertebrado transparente, batizado de Milnesium iniquum (em alusão às suas garras de tamanhos desiguais), foi apresentado recentemente na revista científica alemã Zoologischer Anzeiger.
Assinam também o estudo o seu orientador, o professor André Garraffoni, e o pesquisador polonês Witold Morek, um dos principais especialistas em tardígrados da atualidade.
Os indivíduos da espécie Milnesium iniquum apresentam, em suas garras, ganchos de comprimentos variados, um detalhe importante para determinar que se trata de uma espécie inédita, explica a mestranda.
“Ao mesmo tempo que verificamos ser essa uma característica comum a todos os espécimes analisados, percebemos também que se trata de um diferencial da espécie não encontrado em outras”, afirmou, ao Jornal da Unicamp.
Atualmente, conhecem-se cerca de 1.400 espécies deles no mundo e cem, em território brasileiro. Brotto estima que existam muitas outras a serem descobertas, especialmente no Brasil. E isso acontece devido à extensão territorial do país, sua diversidade de biomas e sua abundância de água.
O maior desafio, porém, é conseguir identificar e descrever novas espécies de tardígrados enquanto o aquecimento global e o desmatamento ameaçam extinguir uma infinidade de organismos ainda desconhecidos.
“Há poucos especialistas em taxonomia desse animal para descrever tanta diversidade, ao mesmo tempo que existe uma pressão ambiental causada pela degradação acelerada”, alerta André Garraffoni.
O que são os tardígrados
Tardígrados são animais aquáticos que habitam não apenas o fundo de oceanos, rios e lagos como também ambientes úmidos terrestres – como é o caso dos musgos das árvores, onde Brotto coletou dezenas de indivíduos, além de ovos.
Seu corpo é segmentado e recoberto por uma cutícula. Possuem quatro pares de pernas, com garras que utilizam para locomoção.
Embora invisíveis a olho nu, esses animais alcançaram notoriedade mundial quando foram enviados ao espaço, em meados dos anos 2000.
A fama se deve a sua capacidade singular de entrar em criptobiose, um estado de latência que permite ao animal sobreviver a uma série de situações extremas.
Nesse estado, os tardígrados conseguem resistir ao vácuo espacial e à radiação solar, bem como sobreviver à ausência de oxigênio e à irradiação ionizante. Além disso, podem suportar temperaturas que variam do zero absoluto a 149 °C.
No X, antigo Twitter, Emiliana comemorou a repercussão da pesquisa. “Fico feliz por ver o assunto sendo procurado e recebido com interesse por pessoas de fora da “bolha acadêmica”. Ainda mais considerando que eu venho de uma universidade pública e, portanto, esse trabalho é financiado por dinheiro público”, comentou.