Astrônomos buscam provas da existência de vida na lua Europa, de Júpiter
Astrônomos modelaram a maneira como pequenos impactos celestes agitaram a superfície gelada da lua Europa, de Júpiter. As primeiras conclusões estão em. um novo estudo identifica lugares rasos na superfície da lua onde a evidência de vida, se ela existir dentro do oceano subterrâneo de Europa, pode persistir. Os resultados da análise foram publicados na publicados na Nature Astronomy.
Europa possui um oceano global, embora esteja coberto por uma espessa camada de gelo — o mesmo que as luas de Saturno, Titã e Enceladus. Todas elas são consideradas as principais candidatas a lugares onde a vida poderia existir em outras partes do Sistema Solar. Seus oceanos são mantidos aquecidos e líquidos por fortes forças de maré exercidas por seus planetas, apesar das luas estarem localizadas longe da zona habitável. Graças aos processos químicos fundamentais que ocorrem dentro das águas, é possível que alguma forma de vida possa existir lá, mas isso ainda é uma pergunta sem resposta.
Eventualmente, os cientistas podem ser capazes de enviar sondas aquáticas caçadoras de vida para investigar esses mares subterrâneos escuros. No entanto, vestígios de vida podem estar acessíveis na camada de gelo na superfície. Forças tectônicas e gigantescas plumas de água de Europa podem estar transportando água salgada do subsolo e bioassinaturas importantes diretamente para a superfície. Tudo o que temos a fazer é enviar um módulo de pouso ao local, onde poderá, com muito cuidado, procurar por essas pistas.
Mas há um problema, e ele tem a ver com o próprio planeta Júpiter. Em um comunicado de imprensa, a NASA afirma que partículas carregadas do gigante gasoso são aprisionadas e impulsionadas por sua magnetosfera. Essa radiação pode estar apagando sinais de vida na superfície, pois as partículas carregadas rompem as ligações de moléculas produzidas por processos biológicos.
Um estudo de 2018 da agência espacial sugeriu que algumas bioassinaturas, protegidas pelo gelo da lua Europa, podem persistir em profundidades entre 10 a 20 centímetros abaixo da superfície. Isso não deve ser problema para uma futura sonda equipada com uma furadeira. Contudo, esse equipamento precisará ser mais longo do que se pensava.
O novo artigo leva em consideração outro aspecto: impactos com pequenos corpos celestes. Em Europa e outras luas semelhantes, os impactos constantes são responsáveis por um processo contínuo no qual as colisões remodelam a camada superficial superior. Tanta agitação puxa o material para baixo da superfície, e também fornece material para a superfície — incluindo, teoricamente, elementos embalados com biomoléculas. Expostas à radiação de Júpiter, essas bioassinaturas seriam aniquiladas. Mesmo assim, “nenhuma estimativa abrangente desse processo foi determinado para Europa”, segundo informa a cientista planetária Emily Costello da Universidade do Havaí em Manoa, co-autora do estudo.
Ao propor uma nova maneira para explorar Europa, os pesquisadores forneceram uma imagem mais completa das condições na superfície da lua e como são influenciadas pelos impactos. É também o primeiro estudo a levar em conta os impactos secundários, ou seja, a influência da queda de entulho causada pelo impacto inicial.
Como mostra a pesquisa recente, esse processo de impacto em Europa é um fenômeno que ocorre em toda a lua, porém extremamente raro e demorado. Em média, os 30 centímetros acima da superfície levaram dezenas de milhões de anos para se formarem. Isso teve o efeito de expor a camada superior à temida radiação jupiteriana.
Pode parecer uma má notícia para a busca pela vida, mas há um pouco de esperança, já que mesmo estudo aponta para lugares em que o impacto não foi tão significativo. “Se esperamos encontrar bioassinaturas químicas imaculadas, teremos que olhar abaixo da zona onde os impactos ocorreram. Bioassinaturas químicas em áreas mais rasas do que aquela zona podem ter sido expostas à radiação destrutiva”, explicou Costello.
Costello se refere especificamente a crateras jovens e regiões suscetíveis ao movimento em declive, que costumam ocorrer nas latitudes médias e altas da lua Europa. “Nesses locais, o processo de impacto não teve tempo suficiente para colocar em risco uma coluna de biomoléculas na Europa”, afirmam cientistas.
Esta é a “primeira vez que os efeitos [de impacto] foram considerados ao prever onde as biomoléculas de Europa podem ser encontradas, e a primeira vez que o processo foi modelado para considerar a superfície gelada de Europa em algo único”, observou Costello em um comunicado do Planetary Science Institute.
A astrônoma Rebecca Ghent, do Planetary Science Institute, e que também é co-autora do estudo, disse que o novo trabalho “fornece algumas novas restrições valiosas sobre onde procurar se esperamos encontrar evidências de vida”.
A nova pesquisa pode ter relação com a missão Europa Clipper da NASA, que está programada para ser lançada em 2024. Ela pode influenciar as decisões sobre quais instrumentos colocar na sonda e para onde a espaçonave deve direcionar suas observações. A missão Europa Clipper provavelmente não provará se existe ou não vida na lua Europa, mas pode levar os cientistas a uma compreensão mais profunda de seu potencial de habitabilidade e a um melhor senso de onde a evidência de vida pode existir na lua Joviana.