Everest: o que acontece com o corpo humano a 8.000 metros de altitude
O número é chocante. Pelo menos 12 pessoas morreram na chamada “zona da morte”, região próxima ao topo do Monte Everest, no Nepal (Ásia), a 8.000 metros de altitude, só em 2023. Não é por acaso: o corpo humano enfrenta dificuldades severas quando está tão longe do nível do mar.
Nessa altitude há menos oxigênio, o que afeta os cérebros e pulmões dos alpinistas. Por causa disso, aumenta o risco de derrame e ataque cardíaco, visão e cognição começam a falhar.
Se o corpo humano fica ali muito tempo, começa uma corrida contra o relógio: cada minuto a mais aumenta o risco de não-sobrevivência.
Sem oxigênio
Isso acontece porque, no nível do mar, que é a condição ideal para a respiração humana, o ar contém até 21% de oxigênio. Em altitudes acima de 3.600 metros, os níveis de oxigênio são até 40% mais baixos.
Agora, a 8.000 metros acima do nível do mar, o ar tem tão pouco oxigênio que, mesmo com reservas, estar ali pode parecer como “correr em uma esteira e respirar por um canudo”, como relatou o montanhista e cineasta David Breashears.
Quando falta um certo nível de oxigênio no sangue, a frequência cardíaca sobe para até 140 batimentos por minuto – e, por isso, aumenta o risco de um ataque cardíaco. Na comparação, o coração de uma pessoa saudável tem de 50 a 90 batimentos por minuto.
Riscos
Para evitar que os pulmões sejam “esmagados” na subida, os alpinistas costumam fazer expedições mais curtas ao Himalaia antes de escalar o Everest.
A ideia é que, ao longo das semanas em grandes altitudes, o corpo comece a produzir mais hemoglobina, presente nos glóbulos vermelhos que ajuda a transportar oxigênio dos pulmões para o resto do corpo.
O problema é que muita hemoglobina pode engrossar o sangue, tornando mais difícil para o coração bombear essas células para o resto do corpo. A consequência pode ser um derrame ou acúmulo de líquido nos pulmões.
Falta de ar
No Everest, uma condição bastante comum é o edema pulmonar de alta altitude. Na prática, os sintomas incluem fadiga, sensação de sufocamento à noite, fraqueza e tosse com líquido branco aquoso ou espumoso. A tosse pode ser tão intensa a ponto de quebrar ou separar as costelas.
Outro problema é a hipóxia – a falta de circulação no em órgãos e tecidos. Isso pode causar o inchaço do cérebro e causar um edema cerebral de alta altitude. A consequências são náuseas, vômitos e dificuldade para pensar e raciocinar.
Sem oxigênio, o cérebro pode começar a delirar e o julgamento é prejudicado. Isso pode levar os alpinistas a esquecer de prender as cordas de segurança, se desviar da rota ou deixar de preparar equipamentos salva-vidas, como os tanques de oxigênio.
Foi o caso de uma chinesa de 50 anos, encontrada inconsciente a 8.200 metros de altitude em maio de 2023. Ela tinha queimaduras graves causadas pelo frio intenso. Seu equipamento ficou preso em uma corda e o oxigênio acabou. Só sobreviveu porque um grupo a resgatou.
10 semanas até o topo
Em média, uma expedição demora de seis a 10 semanas para alcançar o topo do Everest. Ao longo do percurso, é comum conviver com náuseas, vômitos e diminuição do apetite.
Todo o enfraquecimento físico e visão prejudicada podem levar a quedas acidentais. O brilho da neve e do gelo também pode causar cegueira e, em alguns casos, ruptura dos vasos sanguíneos dos olhos.
Além disso, há uma séria perda de circulação sanguínea nos dedos das mãos e pés. Isso pode causar queimaduras pelo frio ou, em situações mais graves, a morte da pele e de tecidos subjacentes. Nesses casos, a única solução é ser amputado.