As imagens do telescópio espacial Hubble estão sendo prejudicadas pelo excesso de satélites que cruzam o campo de visão do equipamento. Cientistas do STScI (Space Telescope Science Institute), dos EUA, já identificaram que a taxa de rastros de satélites quase dobrou.
O Hubble está em órbita terrestre baixa, a 547 quilômetros acima da superfície da Terra. Em tese, isso permitiria evitar a maioria das interferências atmosféricas e obter imagens mais nítidas e claras do espaço – até agora.
A equipe do STScI analisou 20 anos de dados da Advanced Camera for Surveys. Em 2002, o Hubble identificava rastros de satélites a cada 3h e 4h de observação. Em 2022, satélites bombardearam a visão do telescópio a cada 1h. Na prática, 5% das imagens tiradas há 20 anos foram afetadas por satélites. Hoje, são 10%.
O astrônomo Sandor Kruk, do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, da Alemanha, disse à revista Wired que a tendência é que essa taxa continue aumentando.
“Estamos, com o passar do tempo, mais listras nas imagens. Deve ser proporcional ao número de satélites que você tem acima do observatório”, afirmou ele. Kruk é autor de um estudo que rastreou o brilho de satélites nas imagens do Hubble, publicado em março.
Assim, os dados da pesquisa de Kruk divergem do primeiro. No levantamento, o pesquisador identificou que em 2002 a luz de satélites só interferia em 2,5% das imagens do telescópio. Hoje, saltou para 5%. A diferença está na técnica de medição, mas o aumento é o mesmo.
Megaconstelações de satélites
O estudo de Kruk, porém, traz algo que chama a atenção. A interferência de luz aumentou rapidamente a partir de 2018, quando as empresas, como a Starlink, começaram a implantar megaconstelações de satélites para conectar suas redes.
Na prática, megaconstelações são satélites menores e mais baratos para produzir e lançar. Além disso, os serviços em rede são menos vulneráveis a interrupções, como o clima espacial e armas antissatélite.
Só a rede Starlink reúne cerca de 4 mil satélites em órbita. O plano é aumentar para 42 mil. Já a OneWeb possui mais de 600 – mas eles estão em órbita alta, o que diminui os efeitos sobre a observação do Hubble.
Posteriormente, até setembro, a Amazon deve lançar seu Projeto Kuiper, que incluirá mais 3 mil satélites na órbita da Terra, enquanto a China planeja fazer o mesmo.