Facebook suspende acesso de empresa ligada com a Cambridge Analytica
O Facebook suspendeu nesta semana a AggregateIQ, uma empresa canadense de consultoria eleitoral que desenvolveu ferramentas de dados para a Cambridge Analytica. A rede social alega que eles podem ter recebido alguns dados dos 87 milhões de usuários comprometidos na brecha que foi revelada no mês passado.
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De acordo com o National Observer, depois da AggregateIQ ser ligada publicamente com a Cambridge Analytica por meio de diversas notícias, o Facebook decidiu suspender suas contas.
“Em luz das reportagens recentes de que a AggregateIQ talvez seja filiada a SCL e talvez, como resultado, possa ter recebido impropriamente os dados de usuários (do Facebook), nós os adicionamos na lista de entidades que estão suspensas de nossa plataforma enquanto conduzimos as investigações”, disse um porta-voz do Facebook ao Observer. “Nossa análise interna continua e iremos cooperar totalmente com qualquer investigação de autoridades regulatórias”.
A Cambridge Analytica recebeu uma mina de ouro de dados dos usuários do Facebook ao se juntar com um aplicativo de coleta de informações – que funcionava a partir de um quizz de personalidade. Tecnicamente, o caso configura uma violação dos termos de serviço da rede social, já que exigia concessões abusivas. Agora, existe um ceticismo cada vez maior a respeito da conduta do Facebook, que pode ter feito vista grossa para tais ações com o objetivo alimentar o seu modelo de negócios.
Circulam alegações de que a Cambridge Analytica pode ter usado esses dados para impulsionar o trabalho da campanha presidencial de Donald Trump e, possivelmente, influenciar também o referendo Brexit. Seu ex-CEO, Alexander Nix, e outros funcionários foram pegos se gabando de táticas antiéticas ou ilegais de campanha, como chantagem, em uma investigação do Channel 4.
O cientista de dados Christopher Wylie alega que, enquanto trabalhava para a SCL Group, empresa-mãe da Cambridge Analytica, ajudou a criar a AggregateIQ como afiliada canadense da empresa. As duas firmas compartilham um contrato de propriedade intelectual e serviço, de acordo com o Guardian.
A AggregateIQ está agora sob investigação de autoridades canadenses, que buscam apurar possíveis violações da lei de privacidade e acesso não autorizado a dados. Investigadores britânicos, por sua vez, estão tentando determinar se a empresa coordenou ilegalmente pagamentos a grupos pró-Brexit para a realização de uma campanha, o que é proibido pela legislação eleitoral.
Como o Gizmodo noticiou anteriormente, arquivos internos revelados pelo diretor de pesquisa da UpGuard, Chris Vickery, mostram que a AggregateIQ foi subcontratada pela Cambridge Analytica para desenvolver muitas de suas ferramentas eleitorais – algumas das quais acabaram sendo consideradas vaporware, ou seja, anunciadas muito antes do seu lançamento, sem chegar a entrar em produção de fato.
Os documentos obtidos pelo Guardian mostram que a Cambridge Analytica e a AggregateIQ se coordenaram em projetos relacionados a dados de eleitores, o que significa que existe a possibilidade de a empresa ter tido acesso ao suposto arquivo com informações de usuários do Facebook.
Todas as empresas em questão negam qualquer irregularidade. Em uma declaração enviada ao Observer, a AggregateIQ negou qualquer conexão com a Cambridge Analytica e disse que nunca conseguiu ou teve acesso a “quaisquer dados ou banco de dados do Facebook supostamente obtidos indevidamente pela Cambridge Analytica”.
As ações do Facebook despencaram após as alegações de que os dados dos usuários foram extraídos do site sem consentimento expresso de cada um deles, chegando a uma perda de cerca de 22% do valor. A empresa também tem passado por um momento difícil ao lidar com outra questão (possivelmente relacionada) que mostra que russos realizaram extensas campanhas de desinformação no site durante as eleições de 2016 dos Estados Unidos.
Embora as ações da empresa tenham começado a se recuperar, não está claro se a resposta desastrosa de Zuckerberg ao fiasco fará com que usuários percam ainda mais a confiança na rede social e cause danos a longo prazo na imagem da companhia. Mark Zuckerberg vai testemunhar perante ao Congresso americano em duas ocasiões nesta semana.
Imagem do topo: Getty Images