Especialistas que identificam notícias falsas são suspensos do Facebook

Pelo menos 20 especialistas em segurança foram bloqueados na rede social. Empresa justifica que decisão foi para proteger os usuários.
Imagem: Thought Catalog/Unsplash
Imagem: Thought Catalog/Unsplash

Com mais notícias falsas surgindo nas redes sociais, muitos pesquisadores em segurança voltam seus esforços para identificar e ajudar na remoção desses conteúdos. Mas e quando os especialistas são bloqueados nas plataformas? Pois foi o que aconteceu com membros de uma equipe de pesquisa da Universidade de Nova York (NYU): eles tiveram suas contas suspensas no Facebook na última terça-feira (3). A empresa justificou o bloqueio baseado em um acordo de privacidade entre a companhia e reguladores federais em 2019.

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Laura Edelson, candidata a Ph.D. no Instituto Politécnico da NYU, disse que o Facebook suspendeu contas conectadas ao projeto “Cibersegurança pela Democracia”, também da NYU, cortando o acesso de mais de vinte pesquisadores e jornalistas que examinavam a disseminação de desinformação online. O Facebook suspendeu as contas de três pesquisadores, bem como o acesso da equipe à biblioteca de anúncios e ao Crowdtangle do Facebook, que fornece dados sobre a frequência com que postagens específicas são visualizadas, curtidas e compartilhadas.

“O Facebook está nos silenciando porque nosso trabalho frequentemente chama a atenção para problemas em sua plataforma. Pior de tudo: o Facebook está usando a privacidade do usuário, uma crença central que sempre colocamos em primeiro lugar em nosso trabalho, como um pretexto para fazer isso”, afirmou Edelson.

Entre os projetos afetados pela decisão do Facebook está o Virality Project, lançado pelo Observatório de Internet de Stanford, que trabalha para entender a disseminação de mentiras sobre a Covid-19 na rede social. A iniciativa é apoiada pela NYU e pela Universidade de Washington.

Damon McCoy, professor de ciência da computação e engenharia na escola da NYU, criticou a decisão, acusando o Facebook de tentar “suprimir a pesquisa legítima” sobre o papel da empresa na disseminação de conteúdo prejudicial. “Com sua plataforma inundada de desinformação de vacinas e campanhas partidárias para manipular o público, o Facebook deveria dar as boas-vindas à pesquisa independente, não fechá-la”, comentou.

O que diz o Facebook

O diretor de gerenciamento de projetos do Facebook, Mike Clark, escreveu em um blog nesta terça-feira que a decisão foi motivada por um acordo com a Federal Trade Commission (FTC) para proteger a privacidade do usuário. O órgão federal, por sua vez, não comentou o assunto.

Jonathan Mayer, professor assistente da Universidade de Princeton, disse que a justificativa do Facebook era apenas um pretexto para obstruir a pesquisa acadêmica que responsabilizaria a rede social. “O argumento legal do Facebook é falso”, publicou Mayer em seu Twitter.

Além disso, o Facebook argumenta que um dos motivos que levaram ao bloqueio de mais de 20 pesquisadores e jornalistas é por causa de uma extensão de navegador chamada Ad Observer. Usada pela equipe de pesquisa, a ferramenta permite que usuários participem dos estudos da NYU ao copiar automaticamente todos os anúncios que encontrarem no Facebook. Para que isso aconteça, a extensão, por padrão, solicita que os usuários autorizem o uso em seus respectivos perfis. Nenhuma informação pessoal é coletada.

O Facebook afirma que a extensão Ad Observer “coletou dados sobre usuários do Facebook que não a instalaram ou autorizaram o uso”. No entanto, o que a empresa está realmente se referindo são os nomes das páginas que os anunciantes pagaram ao Facebook para injetar nos feeds dos usuários. Ironicamente, a extensão não foi afetada pelas suspensões. Os milhares de usuários que baixaram o Ad Observer continuam capturando esses dados. Uma das contas suspensas do Facebook também pertence a uma pessoa cujo trabalho não é afiliado à ferramenta.

Ainda segundo o Facebook, a empresa tentou oferecer uma ferramenta mais “protetora de privacidade”. A companhia só não mencionou que a ferramenta em questão, conhecida como FORT, tem limitações significativas. Seu conjunto de dados, por exemplo, inclui apenas anúncios que o próprio Facebook identificou como políticos. E os comerciais não têm mais nenhuma utilidade atualmente, já que datam de três meses anteriores à eleição de 2020 nos EUA.

Senador critica decisão do Facebook

O senador Mark Warner, presidente do Comitê de Inteligência do Senado, criticou o Facebook por sua decisão, dizendo que a equipe da NYU expôs fraudes e esquemas financeiros predatórias na plataforma, desenterrando provas de que o Facebook veiculava anúncios que violam os próprios termos de serviço.

“Há vários anos, tenho convocado plataformas de mídia social como o Facebook para trabalhar e ajudar na capacitação de pesquisadores independentes, cujos esforços melhoraram consistentemente a integridade e segurança das plataformas de mídia social, expondo atividades prejudiciais e exploradoras. Em vez disso, o Facebook parece ter feito o oposto”, disse Warner.

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“Infelizmente, esta é apenas a última de uma série de manobras descaradas do Facebook para esconder como seu modelo de negócios está prejudicando as pessoas e nossa democracia. É inaceitável”, comentou Jessica González, co-CEO do grupo de defesa Free Press, em entrevista ao Gizmodo.

“O Facebook se esquivou de líderes de direitos civis, ativistas, acionistas, acadêmicos e até mesmo legisladores que estão tentando responsabilizar a empresa por seu ódio, mentira, lucro e outros abusos. Enquanto lutamos contra a pandemia e ataques à nossa democracia, precisamos de mais pesquisas que a equipe de Cibersegurança e Democracia da NYU estava conduzindo, e não de táticas que dizem respeito apenas ao interesse próprio do Facebook”, completou González.

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