Ciência

Falar com bebês na barriga estimula o aprendizado do idioma, sugere estudo

Analisando atividade cerebral de recém-nascidos, pesquisadores encontraram evidências de que bebês tinham "memória" do idioma
Imagem: Anastasiia Chepinska/ Unsplash/ Reprodução

Conversar com bebês na barriga já é um comportamento esperado de mulheres grávidas — além daqueles que convivem com elas. Agora, um novo estudo indica que isso pode ser importante para o aprendizado de linguagem da criança ao nascer.

De modo geral, um feto já pode ouvir após seis ou sete meses de gestação. Nesse período, o útero age como uma espécie de filtro, que atenua sons com frequências acima de 600 hertz. Dessa forma, apenas a melodia e o ritmo da fala podem ser ouvidos, ainda que abafados.

Isso é suficiente para os bebês preferirem a voz de suas mães em relação a de outras pessoas quando nascem. E, agora, parece que também pode fazer com que eles tenham mais memória do idioma nativo, que elas falavam durante a gravidez.

Entenda a pesquisa

Os pesquisadores analisaram a atividade dos neurônios de 33 recém-nascidos – todos com mães que falam francês. Para isso, colocaram eletrodos em áreas do cérebro associadas à audição e percepção da fala, para acompanharem por eletroencefalografia.

Primeiramente, os cientistas mediram a atividade dos neurônios quando os bebês estavam em repouso. Em seguida, colocaram falas em três idiomas diferentes para que eles escutassem. 

As línguas escolhidas foram francês, espanhol e inglês, e os áudios duraram o dobro do tempo do repouso.

“Os estímulos da fala consistiram em gravações naturais de frases equivalentes nos três idiomas da história infantil ‘Cachinhos Dourados e os Três Ursos’, gravadas em fala dirigida a bebês”, explicam os pesquisadores no estudo.

Por fim, eles mediram novamente a atividade cerebral dos bebês em repouso.

Uma bagagem linguística da barriga

Como resultado, os cientistas concluíram que a atividade cerebral dos bebês apresenta aumento das correlações temporais de longo alcance [LRTCs] após a estimulação com a fala. Contudo, isso acontece especialmente na língua falada pela mãe.

De modo geral, as LRTCs são uma unidade de medida que indica o quão semelhante um sinal é a si mesmo em momentos diferentes. Nesse caso, os pesquisadores mediram as mudanças na atividade cerebral.

Elas indicaram que, para o francês, a atividade cerebral sugeriam mais ‘memória’ de estados anteriores, mas não para duas línguas desconhecidas.

“Descobrimos que, após a estimulação com a língua nativa, a atividade cerebral dos bebês é mais semelhante aos seus estados anteriores do que antes da estimulação. Isso é, portanto, um sinal de aprendizagem”, diz Judit Gervain, autora do estudo.

De acordo com os pesquisadores, isso indica que há um “surgimento precoce da especialização cerebral para a língua nativa”. Ou seja, quando uma mãe conversa com seu bebê pela barriga, antes do nascimento, há um estímulo para o aprendizado daquele idioma, que fica mais familiar.

Os resultados foram publicados em artigo na revista Science Advances.

Importante, mas não essencial

Apesar dos resultados do estudo indicarem que a conversa das mães com bebês ainda na barriga ajude seu aprendizado de um idioma, os pesquisadores ressaltam que esse comportamento não é essencial para que uma criança assimile novas línguas.

Dessa forma, se o idioma ouvido antes do nascimento não for o que o bebê aprenderá depois de nascer, não ter experiência pré-natal não tem um efeito prejudicial forte.

“Os recém-nascidos podem aprender línguas às quais não foram expostos pré-natalmente da maneira usual e normal”, explicam.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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