Fazer bebês gasta 10 vezes mais energia do que era estimado antes
Um novo estudo mostrou que o gasto de energia que animais têm para se reproduzir é muito mais alto do que a ciência calculava. Além dos custos direto de fazer bebês, a pesquisa considera também aqueles indiretos, de energia perdida em reações químicas — desperdiçada como calor, por exemplo.
No total, a quantidade de energia indireta gasta é muito superior a daquela que é fornecida diretamente ao feto.
Os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista Science. “Nosso trabalho desafia diretamente a maioria dos modelos biológicos de crescimento animal e suas histórias de vida”, disse à PopSci Samuel Ginther, autor principal do estudo.
Entenda o contexto
Na reprodução, a mãe fornece energia ao feto da fertilização ao nascimento. Essa energia é chamada de energia direta e é o que transforma o tecido biológico em um novo indivíduo. Em geral, pesquisadores medem esse gasto energético avaliando a composição dos descendentes e estimando a quantidade de energia contida neles.
Contudo, os custos indiretos sempre foram ignorados. Eles consistem na energia gasta carregando filhotes ou ovos e ao aumento metabólico associado a essa fase da vida.
Agora, os autores da nova pesquisa estão dizendo que esses custos indiretos superam os custos diretos.
Energia desperdiçada?
O novo estudo analisou o gasto de energia de diversos animais. No total, os pesquisadores incluíram no estudo 81 espécies, classificando elas em três grupos:
- ectotermos que põem ovos (comumente conhecidos como animais “de sangue frio”);
- ectotermos que dão à luz (como muitos répteis e artrópodes);
- mamíferos, que carregam seus filhotes internamente e gerenciam suas temperaturas corporais (ou seja, são “de sangue quente”).
Os dados analisados estavam disponíveis em 171 artigos publicados anteriormente, relevantes sobre metabolismo e reprodução animal.
No primeiro grupo, cerca de 40% do gasto de energia total da reprodução é indireto, enquanto esse número sobe para metade entre os animais do segundo grupo. Já entre os mamíferos, a energia indireta gasta durante a reprodução compõe cerca de 90% da energia total usada no processo.
Entre os mamíferos, os cientistas descobriram que os morcegos marrons tinham os menores custos indiretos, cerca de 75%. Contudo, os humanos tinham um dos gastos energéticos indiretos mais altos – 96%.
Avanço na ciência
Os pesquisadores dizem que tem muito trabalho pela frente. Isso porque eles precisam medir os gastos energéticos reais, e não modelados. No entanto, especialistas da área afirmam que os resultados alcançados podem mudar o entendimento sobre as trocas que os organismos fazem em crescimento e sobrevivência.
Isso, por sua vez, pode influenciar coisas como tamanho do corpo e longevidade. Além disso, o estudo também aponta para possíveis riscos que as mudanças climáticas devem causar.
Por exemplo, o metabolismo dos ectotermos está intrinsecamente ligado à temperatura ambiente, aumentando com o calor. Dessa forma, em um contexto de aquecimento global, seu gasto de energia para reprodução deve chegar a extremos.