A situação da floresta amazônica é asfixiante, e isso faz parte da agenda de Bolsonaro

O desmatamento na Amazônia está atingindo recordes alarmantes. Os números vêm aumentando desde janeiro, de acordo com os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e os meses de julho e agosto registraram os maiores índices já medidos. É a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos. Não é segredo para ninguém que […]
Fumaça de incêndios de origem humana em toda a Amazônia brasileira.
Fumaça de incêndios de origem humana em toda a Amazônia brasileira. Imagem: NASA Earth Observatory

O desmatamento na Amazônia está atingindo recordes alarmantes. Os números vêm aumentando desde janeiro, de acordo com os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e os meses de julho e agosto registraram os maiores índices já medidos. É a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos.

Não é segredo para ninguém que desde a posse do presidente Jair Bolsonaro tem havido uma mudança no discurso sobre a preservação da Amazônia, que, em conjunto com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, forma uma dupla de negacionistas sobre dados científicos. Isso tudo não deveria surpreender ninguém, afinal, sua campanha deixou isso claro quando:

  1. Defendeu a saída do Brasil do Acordo de Paris. Em mais de uma ocasião.
  2. Disse que iria fundir os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. E, como em muitas outras ocasiões, voltou atrás – mas colocou um ministro inábil.
  3. Disse que não faria mais demarcações indígenas e que “o Brasil não suporta ter mais de 50% do território demarcado como terras indígenas, como áreas de proteção ambiental, como parques nacionais, porque isso atrapalha o desenvolvimento”, sugerindo expandir as fronteiras agrícolas.
  4. Sugeriu flexibilizar a fiscalização ambiental afirmando que as multas ambientais sobre as propriedades rurais “visa perseguir as pessoas que produzem no Brasil”.

Embora Jair Bolsonaro tenha voltado atrás em algumas de suas afirmações, é evidente o posicionamento do presidente sobre a questão ambiental. O ataque dele não para e, além de ter insinuado sem evidência alguma que ONGs estariam por trás do aumento dos incêndios na Amazônia, não apresentou nenhum plano ou medida para combater o crescente desmatamento.

Pelo contrário, seu governo tem reduzido os esforços e, há algumas semanas, demitiu Ricardo Galvão, chefe do INPE, por ter ficado insatisfeito com a divulgação de dados.

A repercussão tem sido ampla e compilamos aqui uma série de reportagens e notas oficiais – todas publicadas, no máximo, da semana passada até agora. É de se sentir asfixiado.

Da NASA (grifo nosso):

Esta imagem de cores naturais da fumaça e incêndios em diversos estados do Brasil, incluindo o Amazonas, Mato Grosso e Rondônia foi coletado pelo satélite Suomi NPP da NOAA/NASA utilizando o instrumento VIIRS (Visible Infrared Imaging Radiometer Suite) no dia 20 de agosto de 2019. Embora não seja incomum ver incêndios no Brasil nesta época do ano devido às altas temperaturas e baixa umidade, parece que este ano o número de incêndios atingiu um novo recorde. De acordo com o centro de pesquisa espacial do Brasil, INPE, quase 73 mil incêndios foram registrados neste ano até agora. O INPE está vendo um aumento de 83% em relação ao mesmo período de 2018.

Imagem: NASA Worldview, Earth Observing System Data and Information System (EOSDIS)

Do El País (grifo nosso):

O Brasil vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Programa Queimadas do instituto, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou 71.497 focos de incêndio entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano. O número é 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos de incêndio. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas entre essas datas.

Você pode encontrar os dados oficiais aqui.

Da BBC:

A Amazônia brasileira perdeu mais de uma Alemanha em área de floresta entre 2000 e 2017. São cerca de 400 mil km² a menos de área verde, de acordo com estudo de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oklahoma publicado na revista científica “Nature Sustainability”.

O resultado apontado é mais que o dobro da área de 180 mil km² registrada no mesmo período pelo sistema de monitoramento de desmatamento anual adotado pelo Inpe, o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

Da Folha de S. Paulo:

Após fazendeiros do entorno da BR-163 no sudoeste do Pará anunciarem o “dia do fogo” para o último sábado (10), o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou uma explosão de focos de incêndio na região, segundo monitoramento do Programa Queimadas. O Ministério Público Estadual investiga o caso.

Do UOL:

Análise preliminar feita pelo Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo) em água da chuva no dia em que a região metropolitana de São Paulo virou noite em plena tarde apontou alterações na cor e no odor do material coletado.

Na segunda-feira à tarde, a cidade escureceu às 15h devido aos ventos que trouxeram a fumaça provocada pelas grandes queimadas no sul da Bolívia e no Paraguai no fim de semana. Essa fuligem atravessou Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e chegou a alcançar Minas Gerais, somando-se à fumaça provocada pelas queimadas amazônicas e aumentando a intensidade desse “corredor”.

Do Estadão:

A Medida Provisória 881, a chamada MP da Liberdade Econômica, possui dispositivos que autorizam ações de desmatamento automático por empreendedores, caso órgãos do meio ambiente venham a atrasar a emissão de licenças ambientais. Ficam dispensadas ainda de pedidos de licenças casos que sejam considerados de baixo impacto.

Do Earther, do Gizmodo:

A destruição desenfreada fez com que a Alemanha e a Noruega retirassem dinheiro do Fundo Amazônia, um programa para projetos relacionados à sustentabilidade e preservação da Amazônia que foi criado como um incentivo para reduzir o desmatamento. Isso poderia, ironicamente, levar a um desmatamento ainda maior.

“À medida que os humanos derrubam mais florestas, o que se vê é fragmentação florestal”, disse ao Gizmodo Jacquelyn Shuman, cientista da seção de pesquisa terrestre do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA. “Você tem mais bordas de floresta. Em uma floresta que está dividida onde você tem pastagens ou terras desmatadas, haverá mais bordas expostas a condições mais secas. Quando você tem essas bordas secas, a floresta fica mais suscetível ao fogo”.

Shuman destaca que à medida que as árvores desaparecem as propriedades únicas que fazem uma floresta tropical pode mudar. A evapotranspiração das árvores na Amazônia ajuda a alimentar as nuvens que despejam as chuvas sobre a própria floresta. À medida que mais terras desmatadas surgem “o ciclo floresta-nuvem se quebra”.

Para fechar, a revista Economist sugeriu boicote mundial à soja e carne produzidas em terras ilegalmente exploradas. Mas tem gente que insiste em não sentir o cheiro de queimado.

Atualizado às 16h12: no decorrer do dia 22 de agosto, a NASA removeu a menção ao INPE, sem dar explicação. No entanto, como a informação é corroborada por outras fontes, decidimos manter o trecho, dando link para a fonte.

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