Muito em breve, a Terra dará boas-vindas a uma mini-lua temporária. Acontece que, o que parece ser um asteroide, na verdade pode ter uma origem não muito natural e se tratar de um foguete impulsionador da década de 1960. Esta seria a segunda vez que algo assim acontece – a primeira foi em 2002, quando o foguete Saturno V da Apollo 12 voltou para a órbita terrestre.
O objeto, denominado 2020 SO, foi localizado por astrônomos usando o telescópio Pan-STARRS1 no Havaí. Espera-se que o foguete se torne uma mini-lua temporária, um fenômeno que acontece de tempos em tempos, quando asteroides fazem algumas voltas ao redor da Terra antes de retomar suas viagens celestiais ao redor do Sol. Isso aconteceu recentemente com um outro objeto, chamado 2020 CD3.
Segundo a EarthSky, os cálculos mostram que a permanência do SO como uma mini-lua começará agora em outubro e vai durar até maio de 2021. A NASA catalogou o objeto em seu navegador de banco de dados de pequenos corpos (JPL) e o nomeou como um asteroide – no caso, especificamente um asteróide pertencente à família Apollo, por causa de suas características físicas e orbitais. Detalhe: não confunda com o programa espacial Apollo, das décadas de 1960 e 1970
Os asteroides Apollo são asteroides próximos à Terra que não ficam perto do Sol mais do que 1.017 UA, em que 1 UA é a distância média entre a Terra e o Sol. Os asteroides Apollo também têm um semi-eixo maior (metade do comprimento mais longo de uma órbita elíptica) que 1 UA e não maior que 10 km de comprimento.
De acordo com o JPL, SO 2020 não representa uma ameaça para a Terra, já que não ficará mais próximo do que cerca de 50.640 km. O objeto é estimado em 6 a 13,7 metros de comprimento.
Mas aqui está o problema: este objeto pode não ser um asteróide Apollo, nem mesmo um asteroide, de fato. Paul Chodas, diretor do Centro de Estudos de Objetos Perto da Terra da NASA, acredita que se trata de lixo espacial, ou seja, um foguete impulsionador Surveyor 2 Centaur, que a NASA lançou em 20 de setembro de 1966. Aqui está o que Chodas disse à CNN:
Suspeito que este objeto recém-descoberto seja um antigo foguete impulsionador porque está seguindo uma órbita [ao redor] do Sol que é extremamente semelhante à da Terra, quase circular, no mesmo plano, e apenas ligeiramente mais distante [do] Sol em seu ponto mais longe. Esse é o tipo de órbita que um estágio de foguete separado de uma missão lunar seguiria, uma vez que ele passa pela Lua e escapa para a órbita ao redor do Sol. É improvável que um asteróide pudesse ter evoluído para uma órbita como esta, mas não impossível.
Como Chodas aponta, muitas pistas sugerem que o objeto em questão não seja de origem não natural. O 2020 SO orbita o Sol uma vez a cada 387 dias, o que é muito próximo da órbita de 365 dias do nosso planeta. Ele também está se movendo muito lentamente, a um ritmo de 3.025 km/h, o que é muito mais lento do que o movimento de um asteroide.
Chodas fez a engenharia reversa da órbita do objeto, descobrindo que o 2020 SO teria estado perto do nosso planeta no final de 1966, então o tempo se encaixa perfeitamente. Esta missão da NASA em particular terminou em fracasso, quando a sonda Surveyor 2 caiu perto da cratera Copernicus, na Lua. O estágio superior Centauro usado na missão voou além da Lua, para nunca mais ser visto. Bom, pelo menos até agora.
Saberemos mais sobre a nova mini-lua no final de outubro, quando chegar perto o suficiente para os cientistas realizarem novas medições, incluindo observações espectrográficas que revelarão sua composição química. Nesse ponto, seremos capazes de dizer se o 2020 SO é feito de rocha ou materiais sintéticos.