As formigas Matabele resgatam suas companheiras feridas e oferecem cuidados médicos

As formigas Matabele subsaarianas são matadoras impiedosas. Elas invadem cupinzeiros de duas a quatro vezes por dia para matá-los e se alimentarem. De vez em quando, as formigas se machucam e são levadas de volta para casa para se recuperarem – um comportamento insectoide surpreendente. Uma nova pesquisa sugere que elas fazem mais do que […]

As formigas Matabele subsaarianas são matadoras impiedosas. Elas invadem cupinzeiros de duas a quatro vezes por dia para matá-los e se alimentarem. De vez em quando, as formigas se machucam e são levadas de volta para casa para se recuperarem – um comportamento insectoide surpreendente.

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Uma nova pesquisa sugere que elas fazem mais do que isso – essas formigas também administram cuidados médicos para aquelas que se feriram no campo de batalha.

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As formigas Matabele possuem quase 20 mm de comprimento e estão entre as maiores do mundo. Elas foram batizadas em homenagem aos ferozes guerreiros Matabele, uma tribo Bantu que causou estragos no sul da África no século 19.

Fazendo jus ao nome, as formigas Matabele são grandes guerreiras e 200 a 500 soldados desta espécie se alinham em grandes colunas para marchar em direção a locais de forragem dos cupins.

Porém, os cupins não são indefesos. Eles possuem uma certa blindagem e mandíbulas poderosas que podem arrancar um pedaço de uma formiga Matabele. Lesões e mortes são comuns entre os invasores, mas como descoberto por pesquisadores da Universidade alemã de Würzburg no ano passado, as formigas desenvolveram um tipo de sistema de busca e salvamento para reduzir fatalidades.

Ao observar as formigas no parque nacional de Comoé, na Costa do Marfim, os cientistas descobriram que aquelas que se ferem emitem um sinal de socorro ao expelir componentes químicos. Esses químicos engatilham um comportamento entre as companheiras, que carregam os feridos para se recuperarem em casa.

Incrivelmente, mais de 95% das formigas que são levadas para casa conseguem se recuperar com sucesso e participar de novos ataques, comparadas com os 32% de formigas que morrem no campo de batalha sem qualquer tipo de ajuda. Os pesquisadores calcularam que esse comportamento de resgate resulta numa colônia cerca de 29% maior.

Legal, né? Mas o mesmo time de pesquisadores aponta na última edição da revista Proceedings of the Royal Society B, que o resgate não consiste apenas em trazer as formigas de volta para casa – elas também administram cuidados médicos. E, assim como os esforços de busca e resgate, este é um comportamento exclusivo em todo o reino animal. Exceto para humanos, é claro.

Os pesquisadores observaram que quando as formigas estão em seu ninho “lambem” intensamente as feridas dos companheiros, às vezes por vários minutos. “Supomos que façam isso para limpar as feridas e talvez até apliquem substâncias antimicrobianas com a saliva para reduzir o risco de infecção bacteriana ou fúngica”, disse o líder da pesquisa Erik Frank em um comunicado.

Para a realização do estudo, alguns experimentos foram feitos em campo, incluindo a observação de formigas gravemente feridas. Outros foram feitos no laboratório, mais precisamente as observações do tratamento da ferida dentro do ninho. Ambos os experimentos de campo e laboratório foram conduzidos na estação de pesquisa do parque nacional de Comoé, na Costa do Marfim.

As formigas no campo de batalha também fazem algumas “triagens” – porém, a decisão sobre quem vive e quem morre é tomada pelos próprios indivíduos feridos. Ao atacar e a lutar de forma selvagem, formigas gravemente feridas – com alguns membros faltando, por exemplo – fazem com que seja impossível para seus socorristas ajudarem.

As formigas gravemente feridas “simplesmente não cooperam com os socorristas e são deixadas para trás”, explicou Frank. Ao fazer isso, elas garantem que as formigas com mais chances de sobreviver sejam de fato resgatadas, ao mesmo tempo em que se certificam de que nenhuma energia desnecessária seja gastada.

Em contrapartida, as formigas menos feridas “sinalizam” o pedido de ajuda ao permanecerem imóveis e orientando seus membros e corpos para facilitar o transporte. Esse comportamento também ajuda a formigas saudáveis notarem a sinalização, e ao se manterem de pé, as formigas podem estar sinalizando a emissão do químico.

É um estudo muito interessante, mas ainda há muito trabalho pela frente. A equipe de Frank precisa investigar o comportamento de “lamber” as feridas para compreender melhor o seu papel e função (por exemplo, a atitude ajuda com a cura ou previne novas infecções?) e descobrir como as formigas são tão boas em identificar a localização de um companheiro ferido.

Esse comportamento faz muito sentido para as formigas. Compreender o comportamento do indivíduo só pode ser entendido analisando todo o contexto; sacrificando-se desta forma, as formigas ajudam a preservar a força de toda a colônia.

[Proceedings of the Royal Society B]

Foto do topo: Uma formiga Matabele oferece cuidados a um companheiro ferido cujos membros foram mordidos durante uma briga com cupins. (Imagem: Erik T. Frank)

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