O que aconteceu com o incrível futuro do HoloLens que nos prometeram?
A Microsoft reformulou a imagem da sua corporação há quase três anos, com o anúncio de um novo e poderoso sistema operacional, o Windows 10. A mais surpreendente faceta desse esforço foi um promissor headset de realidade aumentada, o HoloLens, mostrado em uma coletiva de imprensa em janeiro de 2015. Quando ele foi revelado, o HoloLens parecia poder realmente ser capaz de mudar o mundo.
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O headset era, na época e ainda hoje, mais avançado do que produtos de realidade virtual mais proeminentes como o Oculus Rift, porque o HoloLens não apresenta cabos, é operado por gestos e controles de voz e tem a capacidade de mapear qualquer sala onde você esteja. Mas aquilo em que o HoloLens realmente brilha é em sua habilidade de sobrepor gráficos digitais sobre o mundo real, transformando qualquer quarto em um Holodeck. Apesar dos desafios inerentes à tentativa de construir um computador de cabeça serem aparentes desde o começo, o potencial da tecnologia parecia sem limites.
“Assim como cartões perfurados se transformaram em teclados, e mouses, em touchscreens, com cada grande avanço na entrada e saída, a tecnologia se torna mais pessoal”, o líder do projeto HoloLens, Alex Kipman, disse no evento de lançamento do produto. “Hoje, nós damos o próximo passo”.
No ano seguinte, a Microsoft continuou aumentando a empolgação em cima do HoloLens ao mostrar conceitos focados em consumidores de videogames e esportes. Em um evento em junho de 2015, a empresa demonstrou como os usuários poderiam basicamente brincar de Deus em um mundo do Minecraft ao usar o HoloLens. Parecia incrível. Quatro meses depois, a Microsoft mostrou um jogo de tiro em primeira pessoa completamente insano, no qual aranhas inimigas vinham das paredes atacar os usuários. Era mais extremo do que as primeiras demonstrações. Então, um ano depois do grande anúncio, a Microsoft apresentou um conceito mostrando como as pessoas podem um dia ver jogos da NFL usando o HoloLens para exibir estatísticas e destaques em imagens holográficas ao redor da sala. Os primeiros conceitos pareciam vir de um sonho de ficção científica, e nós adoramos.
Apesar do entusiasmo para aplicações para consumidores, no entanto, estava claro para a Microsoft, quase que desde o começo, que o HoloLens seria focado em experiências de negócios. “Com certeza, na primeira versão, vai ser mais sobre os cenários de desenvolvedores e empreendedores”, disse o CEO da Microsoft, Satya Nadella, em uma entrevista para a ZDNet em julho de 2015. “O videogame sempre vai ser um cenário, e vai existir o entretenimento de maneira mais ampla. Mas, com a primeira versão do HoloLens, eu quero que o foco seja no uso de empreendedorismo.”
Na semana passada, em sua conferência de desenvolvedores Build, a Microsoft essenciamente reiterou que eles basicamente desistiram de apoiar experiências focadas em consumidores, pelo menos por agora. Quando o chefe do HoloLens Alex Kipman falou na apresentação da Build esse ano, ele não comentou nada sobre a experiência dos consumidores. Ao invés disso, focou em aplicações de pesquisa e educação.
O resto da apresentação de Kipman focou em tapar os buracos entre um novo conjunto de headsets baratos de realidade virtual apoiados pelo Windows que devem lançar ao fim do ano. Os headsets também rodam em Windows 10, a mesma plataforma que o HoloLens, então a visão predominante é de que as experiências em realidade virtual vão ser adaptadas ou integradas ao HoloLens a longo prazo.
No palco, o Sr. Kipman também anunciou um conjunto de controles de movimento que devem funcionar com esses novos headsets. De acordo com uma reportagem da CNET, os controles não vão funcionar com o HoloLens. A Microsoft deu indícios de que traria mais surpresas sobre essa nova plataforma de realidade virtual chamada “Windows Mixed Reality” na conferência de videogames E3, mais tarde nesse ano, outra forte indicação de que a companhia está tirando a prioridade do HoloLens dos consumidores do dia a dia.
Então, o que diabos aconteceu com o incrível futuro do HoloLens que nos prometeram? Falamos com alguns desenvolvedores para ter uma noção de por que a Microsoft aparentemente pisou nos freios quanto a seus planos ambiciosos de sacudir as indústrias do videogame e do entretenimento. O que descobrimos é que o preço do headset HoloLens, o custo de pagar o time de desenvolvimento e a complexidade em desenvolver novas experiências foram fatores de grande peso no que os desenvolvedores escolheram construir.
“O HoloLens, mesmo a edição de desenvolvedores, custa US$ 3.000”, disse o desenvolvedor Jesse McCulloch, da Roarke Software Inc. “Você não vai ver o gamer mais engajado pagar US$ 3.000 nisso, porque não existem jogos disponíveis para ele jogar nele.”
De acordo com a apresentação do chefe do HoloLens, Alex Kipman, na Build da semana passada, existem mais de 22 mil desenvolvedores que criaram mais de 70 mil conceitos para o HoloLens. Mas uma olhada mais próxima na loja Made For HoloLens mostra que a plataforma ainda está bem longe de ser amplamente aceita, com apenas 216 aplicativos disponíveis para download no momento da publicação dessa matéria. Esses aplicativos incluem programas como o Virtually Here, que deixa você visualizar sua casa antes de comprá-la, ou o HoloHeart, um coração holográfico usado para educação em ambientes de sala de aula.
A Practical VR, uma companhia especializada em criações e ferramentas de análise para o HoloLens, regularmente faz uma análise da loja do HoloLens e, recentemente, disse ao Gizmodo que o número de aplicativos mais do que dobrou desde o começo desse ano. A empresa também disse, de acordo com seus analistas, que a maioria dessas experiências é de aplicações de empreendimento. O sonho de criar experiências de consumidor para o HoloLens quase que sumiu, se julgarmos pelo que os desenvolvedores estão criando.
Michael Reed, da Practical VR, explicou como a economia bruta impediu muitas pessoas de construir aplicações direcionadas ao consumidor. “Você precisa de um pequeno grupo de pessoas para construir qualquer aplicativo de qualidade”, contou ao Gizmodo. “Acho que a complexidade aumenta o custo da construção do aplicativo, e empreendimentos são os únicos que têm dinheiro para desenvolver para o HoloLens.”
De fato, o alto custo do desenvolvimento teve um grande impacto sobre o que os desenvolvedores decidiram construir para a nova plataforma. “Como desenvolvedor, eu não estou nem olhando para o mercado de consumidor de videogames, porque eu não tenho nenhum cliente lá”, disse McCulloch, da Roarke Software. “Todos os meus consumidores são empreendimentos a essa altura.”
Mark Grossnickle, da Taqtile, outra companhia de desenvolvimento para HoloLens, sabe tudo sobre criar aplicativos de alta qualidade para o HoloLens. Sua empresa trabalhou em projetos para Cleveland Cavaliers, Real Madrid, PGA Tour e outras grandes organizações. Ele nos disse “os aplicativos da Taqtile são basicamente focados em empreendimentos, assim como o HoloLens se concentra basicamente em empreendimentos”. Quando perguntamos por que organizações tão grandes escolheriam fazer produtos que muitas poucas pessoas têm ou conhecem, ele disse que se tratava de projetar a imagem certa.
“Para algumas companhias, é apenas apelo visual”, ele disse. “Você pode levar isso a uma conferência e impressionar as pessoas e deixá-las empolgadas com coisas novas.”
Então, isso é tudo que o HoloLens é agora? Apenas um truque de publicidade? O líder do HoloLens, Alex Kipman, publicamente constatou no passado que não existe motivo para falar sobre a versão de consumidor do dispositivo até a Microsoft conseguir diminuir o custo do headset abaixo de US$ 1.000. Obviamente, ele não disse quando a queda de preço aconteceria, e a maioria dos desenvolvedores com quem conversamos disse que muito provavelmente precisaria ser outro headset. Rumores sugerem que uma segunda versão do HoloLens pode ser lançada até 2019. Até isso acontecer, parece que a Microsoft vai permanecer basicamente focada em trazer headsets mais baratos para os consumidores na época das festas.
A mudança de estratégia, embora um tanto desapontadora para os futuristas, faz muito sentido. Todos os aplicativos desenvolvidos para o Windows Mixed Reality para Windows 10 vão tecnicamente funcionar com o HoloLens, e a Microsoft está especialmente facilitando para esses desenvolvedores adaptarem seus aplicativos. Se a Microsoft conseguir que as pessoas se empolguem com os aparelhos de realidade virtual mais baratos em computadores Windows, ela pode iniciar uma nova onda de desenvolvimento para a plataforma que, no final das contas, vai ajudar o HoloLens.
“Eu diria que essa é a calmaria antes da tempestade”, afirmou Micheal Reed. “Coisas estão definitivamente acontecendo, e o desenvolvimento está aumentando ao redor da realidade aumentada. Esse é o momento em que estamos indo de ter o nosso mundo digital preso às telas para ter nosso mundo digital se fundindo e colidindo com o mundo físico e ao redor de nós.”
Isso pode ser bem verdade, conforme a maioria dos especialistas em realidade virtual apresenta um maior interesse em dispositivos de realidade aumentada como o HoloLens. “Nosso cenário de software é basicamente 75% dirigido por casos de realidade virtual, contra 25% de realidade aumentada”, disse um relatório de pesquisa da Goldman Sachs de janeiro de 2016. “Embora acreditemos que tanto a realidade virtual quanto a realidade aumentada precisem avançar tecnologicamente, vemos a realidade aumentada como tendo menos barreiras significativas para ultrapassar, incluindo desafios em tecnologia de monitores e processamento e calibração no ambiente do mundo real.”
Então parece que o nosso incrível futuro HoloLens ainda está a vários anos de distância, baseado nisso tudo. Só esperamos que o Minecraft ainda seja popular quando o HoloLens estiver de fato pronto para os consumidores do dia a dia.
Imagem do topo: AP