Cultura

Giz Brasil exclusivo: arqueólogo detalha as descobertas da Amazônia Revelada

Em entrevista exclusiva ao Giz, o arqueólogo Eduardo Neves comenta as descobertas recentes do projeto Amazônia Revelada. Confira!
Imagem: Giz Brasil

Em menos de dois anos, o projeto Amazônia Revelada desvendou vários segredos arqueológicos, como uma cidade colonial portuguesa do século 18 sob a maior floresta do mundo.

Papo com o Giz Brasil: veja quem idealizou o projeto

Idealizado pelo arqueólogo Eduardo Neves, o projeto é financiado pela National Geographic. O Amazônia Revelada visa proteger a história da Amazônia e realizar novas descobertas arqueológicas usando tecnologias avançadas.

No caso da cidade colonial, no município de Costa Marques, em Rondônia, o projeto Amazônia Revelada realizou sobrevoos usando a tecnologia Lidar.

Lidar (light detection and ranging) é um sistema de detecção de luz e distância que obtém imagens aéreas. O sistema, portanto, mapeia a topografia da floresta, descobrindo estruturas arqueológicas.

Imagem: Amazônia Revelada/Divulgação

A tecnologia foi utilizada em descobertas recentes em outras regiões amazônicas além do Brasil. Porém, no caso da Amazônia Revelada, o Lidar representa uma metade do objetivo do projeto. A colaboração com populações locais, incluindo indígenas e quilombolas, é o que completa e distingue o projeto Amazônia Revelada.

E esse mix de tecnologia avançada, arqueologia acadêmica e colaboração popular é o que possibilita as descobertas impressionantes do projeto Amazônia Revelada.

Para entender um pouco mais sobre o Amazônia Revelada, o Giz Brasil realizou uma entrevista exclusiva com o arqueólogo Eduardo Neves.

O National Geographic fez a ponte, resultando em uma conversa cheia de detalhes sobre as descobertas do projeto Amazônia Revelada e sobre a arqueologia na floresta.

Amazônia Revelada e arqueologia: 40 anos de trabalho

Eduardo Neves, professor de Arqueologia Brasileira e diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, está há 40 anos trabalhando para “revelar” a Amazônia.

Em janeiro de 1985, enquanto muitos jovens e adolescentes miravam o Rio de Janeiro para assistir o primeiro festival de música de grandes proporções, Neves seguia um caminho oposto.

Neves é paulistano e gosta de ouvir Led Zeppelin, segundo uma matéria da Folha, publicada em 2000. Portanto, o roqueiro paulistano não admitia que o rock migrasse para a cidade rival há exatos 40 anos.

Aos 19 anos, Eduardo Neves pegou um ônibus rumo à Belém, no Pará, em uma viagem de dois dias. Ao mesmo tempo em que o Brasil mudava os rumos de sua história, Eduardo Neves dava os primeiros passos para mudar os rumos da arqueologia da Amazônia.

Veja:

O erro sobre Santarém, no vídeo acima, foi com base nas cidades da Amazônia que encantavam Eduardo Neves. 

Revelando a Amazônia e destruindo falácias

Na segunda parte, Eduardo Neves conta sobre como seu interesse pela arqueologia da Amazônia resultou em descobertas que enterraram teorias imperialistas sobre o povoamento da Amazônia.

Curiosamente, esse processo começou em 1995, 10 anos após a primeira ida à Amazônia, quando Eduardo Neves se juntou aos arqueólogos norte-americanos Heckenberger e James Petersen.

Juntos, o trio realizou um amplo trabalho arqueológico e de pesquisa na região da Amazônia central, sobretudo nas terras baixas, descobrindo que a ocupação humana no território ocorreu muito antes do que se pensava.

Eduardo Neves e James Petersen. O arqueólogo norte-americano foi assassinado em 2005, em Iranduba, no Amazonas. Imagem: Universidade de Vermont.

As terras baixas, no caso da Amazônia, se referem a toda porção a leste da Cordilheira dos Andes.

Antes do projeto Amazônia Revelada, Eduardo Neves e seus parceiros, bem como outros arqueólogos brasileiros e estrangeiros, descobriram que a ocupação na Amazônia ocorreu “até por volta de 3.500 AEC [antes da Era Comum]”.

Como cita em seu livro “Sob os Tempos do Equinócio”, as terras indicam o estabelecimento da vida sedentária na Amazônia. Contudo, segundo o professor, é uma coincidência a topografia plana ser o local de ocupações mais antigas na América do Sul e Central.

Aliás, publicamos essas descobertas aqui no Giz. Leia:

Além de comentar sobre a questão geológica e a identificação de estruturas antigas, Eduardo Neves enfatiza como a arqueologia norte-americana criou uma falácia histórica.

Veja:

Amazônia Revelada: Tecnologia e conscientização

O professor Eduardo Neves ressalta em diversos momentos que o projeto Amazônia Revelada só existe pela junção da pesquisa acadêmica e a conscientização das populações.

Em Rondônia, por exemplo, onde o Amazônia Revelada descobriu a cidade portuguesa, Neves enfatiza que os sobrevoos do Lidar só foram possíveis após o diálogo com a população. O local fica próximo ao Forte Príncipe da Beira, atualmente uma comunidade quilombola.

Com isso, o Amazônia Revelada descobriu uma vila planejada, com cerca de 15 casas e um sistema de rua principal e caminhos que ligavam a um fortim chamado Nossa Senhora da Conceição.

A cidade colonial no meio da Amazônia data do final do século 18 e, conforme Eduardo Neves explica, é fruto da disputa territorial e econômica entre a coroa portuguesa e os espanhóis.

Neves também detalha a descoberta de estruturas de pedra nas regiões onde a Amazônia Revelada realiza trabalhos, como na Terra do Meio, no Pará e no Acre.

Grandes poderes, responsabilidades ainda maiores

O arqueólogo enfatiza o trabalho de proteção do Amazônia Revelada justamente pelas descobertas que o projeto realizou na região, bem como o apoio da população.

No entanto, Eduardo Neves também expressa preocupações sobre o risco que a floresta corre sob o signo do progresso. A construção de pontes, por exemplo, afeta a preservação da Amazônia e dos sítios arqueológicos, mas facilita a vida de moradores da região.

Desse modo, o arqueólogo acredita que o projeto Amazônia Revelada também pode agir como mecanismo de mediação entre progresso e preservação, ampliando ainda mais o diálogo com a comunidade.

Eduardo Neves também comenta sobre o papel do NatGeo e a liberdade que o Amazônia Revelada tem para executar os trabalhos, considerando o financiamento bastante generoso.

O arqueólogo cita a possibilidade de levar as descobertas do Amazônia Revelada para o universo do entretenimento, seguindo, possivelmente, os passos do documentário “Expedição Amazônia”. Lançado em outubro do ano passado, o documentário está disponível no Disney+.

Eduardo Neves afirma que a ideia é “transformar o Amazônia Revelada em uma série, ou algo similar, para atingir um público mais amplo”.

Veja:

Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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