[Hands-on] Samsung Galaxy Gear: um acessório para smartphone que cabe no seu pulso
Hoje, enfim acabou o mistério sobre o Galaxy Gear, relógio de pulso inteligente da Samsung . Durante a apresentação no evento Unpacked, a empresa fez questão de deixar claro que este é um dispositivo “companion”: ele existe para acompanhar seu smartphone. Mas ele merece acompanhar você? E nós realmente precisamos de um smartwatch? Nós experimentamos o Gear, e procuramos descobrir.
Design e hardware
Com o Gear, a Samsung queria criar um relógio de pulso “saído da ficção científica”, mas “feito para todo mundo”. A construção em aço inoxidável dá essa cara sci-fi ao aparelho, mas ele tenta ser amigável com uma paleta de seis cores para a pulseira.
Ele não pesa no pulso com seus 73,8 g, mas a pulseira é um pouco desajeitada. Ela é fechada: você insere o pulso nela e dobra a parte metálica para fechar, mas isso requer um pouco de força – não é tão fácil quanto deveria. Você pode regular o ajuste ao seu pulso movendo a parte de borracha. A pulseira também inclui o alto-falante e a câmera; mais sobre eles abaixo.
Sua tela Super AMOLED de 1,63 polegadas é grande para um relógio de pulso, mas também é bastante nítida e densa em pixels: com resolução 320 x 320, ele tem 278 dpi.
Por dentro, há um processador de 800 MHz com um núcleo, 512 MB de memória RAM e 4 GB de espaço interno para armazenar dados (como as fotos da câmera). Também há giroscópio e acelerômetro. Mas não é fácil fazer tudo isso caber no pulso: são 11,1 mm de espessura – é um dispositivo bem gordinho.
E mesmo assim, sua bateria de 315 mAh dura apenas cerca de 25 horas. Ou seja, é preciso recarregar seu Gear todo dia, assim como o smartphone. O Galaxy Gear é resistente IP55 a água e a poeira, mas não é à prova d’água, então nada de mergulhar usando este relógio de pulso.
Como usar
O Galaxy Gear é quase um smartphone em miniatura, mas tudo o que você faz nele depende do seu smartphone – exceto mostrar as horas, é claro. (Também há timer e cronômetro, mas bizarramente eles ficam bem escondidos dentro da seção Apps.)
Para usar o Gear, primeiro compre um Galaxy Note 3 ou o novo Note 10.1, e conecte-o ao smartwatch. Se você não tem nenhum desses, então é preciso esperar. A Samsung diz que ele exige dispositivos da própria empresa que rodem Android 4.3 – provavelmente pelo suporte a Bluetooth Smart. O Galaxy S III e S4 devem ganhar suporte ainda este ano quando forem atualizados.
Suponha que você tem um dispositivo compatível. Ótimo! Ative o Bluetooth, faça o pareamento e pronto.
Usar o Gear é relativamente simples. Primeiro, ative a tela pressionando o botão lateral – ou apenas levante seu pulso, e a tela acende sozinha. Navegue deslizando para os lados, e toque para selecionar uma função. Em nosso teste, tudo funcionou bem rápido e sem qualquer engasgo.
Ao deslizar para baixo, você volta à tela anterior; isso significa que, quando o Gear exibe uma lista de opções, é preciso rolar até o topo para depois realizar o comando Voltar. E às vezes, deslizar para cima revela funções adicionais em um app (como o botão Menu do Android), mas não há pistas visuais – você precisa testar.
Funções inteligentes
Agora certas notificações do seu smartphone – como e-mail, SMS, compromissos da agenda etc. – aparecem no Gear também. Toque nelas para abri-las, e para interagir com elas. O Gear tem um recurso (antes vazado em rumores) chamado Smart Relay: ao abrir seu e-mail no pulso, ele se abre também no smartphone. Isso funciona com outros apps, como o Runtastic, e funciona bem – e rápido.
Até aí, ele lembra um pouco o Pebble, smartwatch que se conecta ao seu celular para exibir notificações. Porém há algumas funções extras. Por exemplo:
– Ligações: é possível ligar para outras pessoas usando o Gear, inclusive acessando sua lista de contatos no celular. Sim, ele precisa estar pareado com seu smartphone via Bluetooth, mas ele tem dois microfones (para redução de ruído) e pequenos alto-falantes (foto abaixo) para você falar com seus contatos e ouvi-los.
Tem mais: ao receber uma ligação, basta levantar sua mão até a orelha para atendê-la automaticamente. No entanto, fazer isso é meio ridículo: em ambientes barulhentos, como o local para teste do Gear, eu precisei colocar a pulseira bem na minha orelha para ouvir o que a outra pessoa estava falando.
– Mensagens: você também pode enviar mensagens usando o reconhecimento por voz – nada de catar milho digitando na tela de 1,63 polegadas. Pode ser via SMS, ChatON ou Line (concorrente do Whatsapp), cujos apps têm suporte ao Gear.
– Previsão do tempo: será que vai chover? Abra o app Weather, e veja a previsão do tempo na sua cidade, hora a hora, para hoje ou os próximos dias.
– Lembrete de voz: você pode gravar sua voz dizendo algo – “compre pão em lata”, por exemplo – e o Gear grava até cinco minutos de lembrete. Ele é enviado automaticamente ao seu celular.
– S Voice: você pode ditar comandos para seu relógio de pulso, para marcar um compromisso na agenda, por exemplo. É possível também fazer perguntas, como “vai chover hoje?”. Mas testamos o Gear em um local barulhento, e o S Voice não reconheceu os comandos.
– Controle de mídia: você está ouvindo música no celular, mas não quer tirá-lo do bolso para interagir com ela? Basta abrir este app, e você pausa, avança ou troca de música.
– Pedômetro: assim como a Nike Fuelband ou o Fitbit, o Gear inclui um contador de passos e acompanha sua distância percorrida.
Quantas funções! Mas a Samsung não parou por aí. Com o “Auto Lock”, o Gear permite desbloquear mais fácil seu smartphone. Quando eles estiverem pareados, basta deslizar o dedo no smartphone para desbloqueá-lo; quando ele estiver longe, no entanto, é preciso inserir a senha por desenho (aquela onde você liga os pontos). Isto funcionou bem em nosso teste.
Usando a função “Find my Device”, o Gear faz seu smartphone tocar e vibrar, para que seja fácil encontrá-lo na sua casa. Claro, como isso exige conexão Bluetooth, ele não pode estar muito longe. Também é possível usar a função “Find My Watch” no seu smartphone: o Gear começa a tocar alto – novamente, desde que ele esteja pareado via Bluetooth.
O “Safety Assistance” também é digno de nota. Pressione o botão físico do Gear três vezes, e ele envia sua localização para seus contatos de emergência, que você configura no Gear Manager.
E, para justificar o preço de US$ 300, o Galaxy Gear roda apps e tem até uma câmera.
Câmera
A câmera – ou “Memographer”, como diz a Samsung – tira fotos usando um sensor retroiluminado de 1,9 megapixel e com foco automático. Ele fica em uma protuberância na pulseira do Gear, quase como um mamilo no seu relógio de pulso.
Ela também tira Foto com Som, gravando até 9 segundos do som ambiente, assim como a linha Galaxy S4. E ela captura vídeos de até 10 segundos em resolução 720p. Tudo é salvo na memória interna (de 4 GB), e pode ser facilmente enviado ao celular, selecionando a opção no botão menu.
O acesso à câmera é simples: aperte o botão lateral, e deslize o dedo para baixo na tela. Ah, e se você não estiver na tela inicial? Aí o acesso é mais difícil: o jeito é voltar até ela, e fazer o gesto; ou abrir a câmera na seção de Apps. E para ver as fotos, o caminho é outro: saia da câmera e abra a Galeria.
Tirar fotos é mais simples: toque na tela e pronto. O Gear emite um som de obturador, indicando às outras pessoas que alguém tirou uma foto. Mas em um local com muito ruído, será difícil ouvir; e não há nenhuma pista visual (como uma luz vermelha) de que a câmera foi ativada. Tirar fotos com o Gear talvez seja simples até demais.
Ao apresentar a câmera, a Samsung tentou vendê-la como um meio de capturar momentos de forma rápida. Dada a sua baixa resolução, isso faz algum sentido. Mas ela também mencionou que a câmera serviria para “lembretes visuais”, o que não é muito razoável: aí é melhor tirar seu smartphone fino e leve do bolso.
Além disso, colocar uma câmera no Gear tem uma grande desvantagem: não dá para trocar a pulseira, já que o sensor de imagem está integrado nela (assim como o alto-falante). Será que o smartwatch realmente precisava desse mamilo que tira fotos de baixa resolução? Há uma promessa de realidade aumentada, mas em uma tela com menos de 2″, não parece valer muito a pena.
Apps
O Gear estreia com uma boa quantidade de apps compatíveis: Path, MyFitnessPal, Runkeeper, Pocket, TripIt etc. Para instalá-los, é preciso usar o smartphone. Eles estarão disponíveis apenas através da Samsung Apps, “quando o dispositivo for distribuído ao varejo”, como avisa a empresa.
Em certos casos, o app consegue substituir o smartphone. Com o Runtastic, por exemplo, você inicia e finaliza o treino direto no seu pulso, sem retirar o celular do bolso. E ele usa o pedômetro do Gear para acompanhar suas caminhadas.
O MyFitnessPal, por sua vez, permite acompanhar o que você come ao escanear o código de barras do alimento com a câmera – tal qual no smartphone.
Em outros casos, é possível melhorar. No Pocket, por exemplo, acessamos a nossa lista de artigos que guardamos para ler depois. Selecione um deles, e ele começa a ser lido pelo app… mas o som sai no smartphone. A menos que você já esteja com um fone de ouvido ligado a ele, o app não é muito prático.
Outros apps, como o Line, dependem do reconhecimento de voz para ditar mensagens. Em locais com ruído, ele não funcionará bem. Também é difícil editar palavras, o que torna seu uso pouco prático.
Computação vestível
O Galaxy Gear é a primeira grande aposta da Samsung em computação vestível. Ela já fez outros dois watchphones, mas nada tão integrado ao smartphone como agora. Ou seja, além de ser a primeira geração de um dispositivo, é apenas o início de uma nova categoria de gadgets – mesmo que outras empresas, como a Sony, já tenham smartwatches há algum tempo.
E, como sempre nos perguntamos no início de uma nova tecnologia: vale a pena? Eu entendo o apelo do Google Glass, por exemplo: com ele, você não precisa sacar um dispositivo do bolso para responder a um e-mail, ou procurar direções para seu destino. (Há pontos polêmicos no Glass, mas isso é outra história.)
Só que o Gear, assim como todo smartwatch, exige que você interaja com um dispositivo e fique distraído com ele. Talvez seja mais conveniente do que sacar o Galaxy Note 3 do bolso ou da bolsa, mas apenas para um conjunto pequeno de usuários.
Sim, a Samsung poderia abrir um novo nicho, assim como fez com o Galaxy Note. Como deu para notar acima, ela fez de tudo para tornar o Galaxy Gear o mais útil possível – ou, pelo menos, repleto com todo tipo de função. Mas por US$ 300 – o dobro do Pebble – e oferecendo compatibilidade apenas com dispositivos da própria Samsung, talvez ainda seja pouco.
O Samsung Galaxy Gear será lançado a partir de 25 de setembro em 149 países. Ele chega aos EUA e Japão em outubro.
O Gizmodo Brasil viajou para Berlim a convite da TP Vision.