As intensas transformações hormonais que acontecem durante a gravidez podem transformar o cérebro das mães. A conclusão está em um estudo do Centro Médico da Universidade de Amsterdã, publicado na revista científica Nature Communications.
Segundo a pesquisa, as mudanças cerebrais têm relação com o vínculo da mulher e seu bebê. Os cientistas encontraram um aumento significativo de hormônios esteróides – como o estrogênio -, responsáveis por transformar o cérebro.
Isso, segundo o grupo, afeta especialmente a rede de modo padrão — que funciona como uma espécie de piloto automático do cérebro.
As descobertas derivam de exames da fisiologia das participantes e uso de questionários para avaliar o comportamento e estado mental ao longo de sete anos.
Em 2015, os pesquisadores recrutaram 89 jovens holandesas sem filhos. Depois de cinco anos, 40 delas engravidaram. Exceto nove, que desistiram do estudo, as mulheres seguiram em exames para determinar a estrutura e funcionamento do cérebro.
As que engravidaram mostraram as mesmas alterações cerebrais que mulheres grávidas avaliadas em um estudo anterior, de 2016. Nos dois casos, houve uma redução de massa cinzenta – tecido que fica perto da superfície do cérebro onde estão parte dos neurônios e outras estruturas celulares.
Segundo os especialistas, a perda de massa cinzenta não é necessariamente algo ruim. Na verdade, pode refletir uma remodelação cerebral parecida com a que ocorre durante a adolescência. Por outro lado, as mães não apresentaram diferenças na massa branca, as fibras nervosas que transportam sinais pelo cérebro.
O que muda na autorreflexão
Com ressonância magnética funcional, os pesquisadores analisaram a atividade dentro de todas as redes neurais, e também as interconexões entre elas. A ideia era analisar até que ponto as regiões do cérebro são ativadas em conjunto.
Mas o estudo mostrou que as mudanças relacionadas à gravidez só afetam uma única rede, a rede de modo padrão, responsável pelo “piloto automático” do cérebro. A neurociência associa essa rede à autorreflexão e aos processos sociais, como pensar em si e nos outros.
Os exames mostraram que essa rede tem maior conectividade entre as grávidas. Quanto mais intensa a atividade ali, mais as mulheres viam o feto como uma pessoa com suas próprias necessidades.
“Essas mudanças na rede de modo padrão podem significar que há algo diferente durante a gravidez na representação neural do eu”, explicou Elseline Hoekzema, neurocientista que liderou o estudo.
Isso sugere que a gravidez altera o estado básico do órgão. É como se as alterações cerebrais ajudassem a criar os laços entre mãe e bebê – algo essencial para buscar a sobrevivência do feto e, assim, perpetuar a espécie.
A massa cinzenta volta
O mais comum é que a perda de massa cinzenta relacionada à gravidez persista até um ano depois do parto, dizem os especialistas.
Pode demorar mais no hipocampo, onde fica a memória. Ali, a massa cinzenta tende a aumentar de volume na gestão e a recuperação cognitiva total costuma ocorrer ao longo de dois anos.
Agora, os pesquisadores querem investigar mais detalhadamente como é a recuperação cognitiva das mães. Enquanto isso, eles orientam as mulheres a serem pacientes consigo mesmas: o cérebro muda, sim, na gravidez, o que permite aceitar as emoções e questões psicológicas que vêm no pacote.