Há cerca de 30 anos, tabuletas de argila com inscrições em duas diferentes línguas foram reveladas no Iraque. As peças, que parecem ter dado as caras durante o embate entre Iraque e Irã, foram levadas para os Estados Unidos – não se sabe se legalmente ou não.
As tais tabuletas só ganharam a atenção de pesquisadores em 2016. A dupla de objetos, que datava de cerca de 4 mil anos, estava talhada com frases na língua acadiana e com um outro idioma até então misterioso, o qual lembrava o hebraico antigo.
O segredo foi finalmente revelado. Trata-se de uma língua utilizada pelo povo amorreu, que vivia em Canaã – região que abrange hoje a Síria, Israel e Jordânia. O estudo completo foi publicado na revista francesa Revue d’assyriologie et d’archéologie orientale.
Até então, cientistas não tinham evidências suficientes de que a língua amorreu havia realmente existido. Agora, isso começa a mudar.
As inscrições lembram um guia turístico, escrito em amorreu e traduzido em acadiano. As passagens mostram, por exemplo, como preparar uma refeição, detalhes sobre sacrifícios, canções de amor e até mesmo como abençoar um rei.
O acadiano, para contextualizar, foi a língua usada na antiga cidade mesopotâmica de Agade durante o terceiro milênio a.C. Ela se espalhou por toda a região nos séculos e culturas seguintes, incluindo a civilização babilônica entre os séculos 19 e 6 a.C.
As tábuas foram comparadas a famosa Pedra de Roseta, que trazia inscrições em uma língua conhecida (o grego antigo) e duas escritas egípcias desconhecidas (hieróglifos e demótico). Graças a essa peça, pesquisadores puderam decodificar os antigos símbolos egípcios, que foram usados por mais de 3 mil anos.