Inteligência Artificial pode ajudar identificar buracos coronais no Sol

Os buracos coronais expelem partículas por todo espaço; a Terra já foi impactada por esse fenômeno
Sol
Foto: NASA/ SDO

Uma nova tecnologia pretende identificar buracos coronais no Sol com ajuda de inteligência artificial. A Rede Neural de Reconhecimento de Buracos Coronais em Dados Multiespectrais (CHRONNOS, na sigla em inglês) foi desenvolvida por cientistas da Universidade de Graz, na Áustria. O artigo que relata a hipótese foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.

A descoberta é importante porque os buracos coronais, que surgem na coroa solar, uma fina atmosfera para o Sol, são regiões em que o campo magnético pode se estender para o espaço, soltando partículas solares que dão origem ao ‘vento solar’. Esse vento, talvez, tenha sido responsável por acabar com a atmosfera de planetas próximos do Sol.

Apesar disso, a Terra é capaz de diminuir esse efeito em razão de seu campo magnético. Esse movimento dá origem ao que conhecemos como aurora polar.

Essas eclosões nos buracos coronais podem ocasionar as chamadas ejeções de massa coronal, erupções violentas provenientes da coroa solar. Elas viajam milhares de quilômetros em altas velocidades até se chocarem com a Terra, causando tempestades geomagnéticas.

Os impactos são diversos em aparelhos elétricos, áreas de telecomunicações, mudanças nas órbitas de satélites por conta do calor e outros problemas.

“A detecção de buracos coronais é uma tarefa difícil para algoritmos convencionais e também desafiadora para observadores humanos, porque também existem outras regiões escuras na atmosfera solar, como filamentos, que podem ser facilmente confundidos com um buraco coronal”, disse à publicação Robert Jarolim, pesquisador da Universidade de Graz e o principal autor do estudo.

Para monitorar esses buracos, os pesquisadores utilizaram um modelo com aproximadamente 1700 imagens, feitas entre os anos de 2010 a 2017. A rede neural foi avaliada comparando os resultados com 261 buracos coronais identificados manualmente, correspondendo a 98% das descobertas feitas por humanos. Eles também avaliaram os buracos com base em mapas de campos magnéticos, que apresentaram diferentes das ondas ultravioleta (UV).

“Usamos imagens gravadas em diferentes comprimentos de onda UV juntamente com mapas de campo magnético como entrada para nossa rede neural, o que permite que a rede encontre relações na representação multicanal”, explicou Astrid Veronig, professora da Universidade de Graz e coautora do artigo.

O Sol, a olho nu, brilha constantemente. Apesar de ser quase impossível identificar esses buracos para os humanos, isso pareceu uma tarefa simples para a IA, que conseguiu perceber as imagens de forma diferente e foi capaz de identificar os buracos coronais.

A IA nos permite identificar buracos coronais com base em sua intensidade, forma e propriedades do campo magnético, que são os mesmos critérios que um observador humano leva em consideração, esclareceu Jarolim.

Para Tatiana Podladchikova, professora assistente do Centro Espacial Skoltech e coautora do artigo, este é um resultado promissor para a futura detecção de buracos coronais com base no solo, onde não podemos observar diretamente os buracos como regiões escuras como em ultravioleta extremo e observações de raios-X suaves baseadas no espaço, onde o campo magnético solar é medido em uma base regular, disse à publicação.

Por que é importante monitorar tempestades solares?

Em 1859, o fenômeno cósmico que atingiu a terra ficou conhecido como Evento Carrington. Ainda sem toda a tecnologia que temos hoje ou energia elétrica, vários telégrafos foram atingidos e auroras boreais puderam ser vistas da América Central, da Noruega e até mesmo da Nova Zelândia. Acredita-se que se essa tempestade ocorresse hoje, nossa rede elétrica não aguentaria e entraria em colapso.

Anos mais tarde, um apagão tomou conta de Quebec. Em 1989, os cientistas descreveram o evento como ‘O dia em que o Sol trouxe trevas’, descrevendo como se fosse ‘a energia de milhares de bombas nucleares explodindo ao mesmo tempo’. O apagão durou 12 horas e foi responsável por fechar escolas, empresas, o metrô e até mesmo o aeroporto.

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Hoje, graças a um campo da Física Solar chamado Clima Espacial, o Sol é monitorado 24h por dia sem interrupções, por climatologistas espaciais.

Apesar disso, não estamos livres de tempestades solares. Tem até os questionamentos se um dia, será possível uma tempestade solar dar fim à nossa civilização. O desejo de Podladchikova é que, sejam quais forem as tempestades, que seja sempre um bom tempo no espaço.

[SciTechDaily]

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