Mistérios, tramas e muitas armas: por dentro do coração amargo de John McAfee
Por Jeff Wise
No amanhecer do dia 30 de abril, no interior de Belize, um esquadrão de elite com 42 policiais e soldados, incluindo membros da equipe da SWAT e das Forças Especiais do país, chegou a um complexo às margens de um rio na selva. Dentro, tudo estava quieto. A polícia avisou, com um megafone, que estava procurando por armas de fogo ilegais e narcóticos e, em seguida, invadiu o local, derrubando portas com martelos, algemando quatro seguranças e matando um cão de guarda. O dono do complexo, um americano de 67 anos, levantou-se da cama que dividia com uma moça belizenha de 17 anos, com cara de quem tinha acabado de acordar. A polícia o algemou e levou-o embora, junto com seus seguranças.
Lá dentro, os policiais encontraram US$ 20 mil em dinheiro, um laboratório cheio de equipamentos químicos e um pequeno arsenal de armas de fogo: oito espingardas, duas pistolas 9mm, 270 cartuchos de espingarda, 30 projéteis para a pistola 9mm e vinte para .38. Para a irritação dos policiais, tudo estava legalizado. As armas eram licenciadas e o laboratório parecia não estar fabricando drogas, mas sim um composto antibactericida à base de ervas.
Após catorze horas, a polícia liberou o homem e seus funcionários, mas permaneceu convicta de que tinha deixado algo passar. Por que outro motivo um playboy americano rico se esconderia lá, distante da zona turística no litoral, próximo de um rio que por acaso se conecta, pouco mais de 30 km depois, a um canto remoto da fronteira mexicana? Por que ele contrataria, como chefe da segurança, um policial desonesto pego certa vez roubando armas da polícia e vendendo-as para traficantes de drogas?
Não é muito raro ver gringos excêntricos partirem para a América Central e, lentamente, ficarem estranhos — “Homens ricos que vêm a Belize e passam a agir estranhamente são um tipo comum”, disse a mim um jornalista local. Mas a história deste aqui é peculiar, diferente da maioria. John McAfee é o fundador da empresa de software antivírus, um cara que se gaba irremediavelmente e que construiu um improvável império de segurança na web embasado nos princípios da confiança e confiabilidade, e então gastou a fortuna da sua startup em uma série de retiros de comunhão, onde ele se apresentava aos outros como um modelo ideal de engajamento, uma vida apaixonada: “Sucesso, para mim,” disse ele, “é poder acordar de manhã e se sentir com 12 anos.” Mas em Belize, o esclarecido Peter Pan McAfee mudou e virou um tipo de Scarface em fim de carreira.
***
Um dia, logo depois da investida da polícia, eu fiz uma visita a McAfee. Eu já conhecia John pessoalmente havia cinco anos, tendo-o conhecido quando viajei para a sua fazendo no Novo México. Na época, eu era um repórter de aventura e esportes, e senti que ele era um empresário muito carismático e sedento por adrenalina. Mas hoje, estou convencido de que ele era um mentiroso compulsivo, senão um psicopata completo, embora alguém cuja vida como empresário caçador de aventuras era divertida para eu acompanhar, tanto quanto era para ele desempenhar.
Quando cheguei ao país, ouvi que a situação dele tinha complicado desde a última vez que tínhamos nos falado — que suas relações comerciais tinham desabado e que ele havia se distanciado mesmo dos outros expatriados em Belize. Um britânico, proprietário de um hostel, me disse que ele tinha virado um cara muito estranho.
Naquela época, ele estava morando não em seu complexo no interior, próximo da cidade de Orange Walk, mas em sua propriedade à beira mar na ilha amigável a turistas de Ambergris Caye. Subi em um carrinho de golfe em direção à entrada dos fundos de sua casa e o encontrei sentando perto de uma piscina apreciando o oceano — elegante, bronzeado e relaxado com seus chinelos, shorts e mechas no cabelo. Como de costume, estava com seu cavanhaque e vestia uma camiseta regata que deixava à mostra tatuagens que iam dos braços até as costas, com óculos escuros apoiados no pescoço. Ele me convidou para sentar-me ali também, em uma varanda. Duas belas mulheres belizenhas descansavam na sala de estar ao lado.
Era uma cena muito palaciana, mas suas únicas companhias por aqueles dias, ele me contou, eram os nativos que trabalhavam com ele. Lá fora, no pátio, um homem negro apareceu e começou a limpar a piscina. Outro homem, vestindo um uniforme, posicionou-se próximo. Ele carregava, de forma meio desajeitada, uma arma no coldre à sua frente. Intuí que a arma estava lá por minha causa, e disse a McAfee que ela me deixava nervoso.
“Bem, ele é um segurança!” McAfee se levantou e chamou as mulheres. “Ei meninas, você estiveram na minha casa em Orange Walk, certo? Quantos seguranças eu tenho lá?” Cinco, as meninas disseram. “Eles carregavam armas?” Sim, elas disseram. “Armas de verdade?” Sim!
“Quando estive lá antes,” lhe disse, “ninguém carregava armas.”
“Bem, isso foi há muito tempo.”
“E você acha que as coisas mudaram desde então?”
“A economia está piorando,” ele disse. “Enquanto a economia piora, pequenos furtos começam a acontecer. E então os maiores. E então os assaltos. E em seguida você sabe, você mata alguém por vinte dólares.”
Ele explicou que a taxa de criminalidade do país era um resultado das terríveis condições econômicas. “As pessoas neste país passam fome! E não são poucos. Quase todos passaram por períodos de miséria. Você não vai achar uma pessoa sequer que não tenha em algum momento perdido o cabelo. Isso é um sinal de desnutrição avançada.” Belize é uma parte relativamente próspera da América Central, não uma terra de ninguém assolada por guerras civis como vários países na África, mas fiquei na minha.
Ele abriu a edição do dia do Belize Times, segurando o jornal com uma mão para evitar que ele voasse, e mostrando-me a foto de dois homens. “Sou o único branco de Orange Walk e fui idiota o bastante para construir uma casa próximo a uma rodovia, onde as pessoas podem ver que eu tenho bens,” ele disse. “Por isso ocorreram, só no último ano, onze tentativas de sequestro ou homicídio contra mim.”
Antes que eu pudesse perguntar como, McAfee começou a contar a história de um gangster belizenho chamado Eddie “Mac-10” McKoy. De acordo com McAfee, Mac-10 queria matá-lo. “Sou um cara mais velho e um pouco mais esperto que ele,” disse. “Eu o segui e forcei-o a negociar. E tivemos um grande encontro aqui em San Pedro, e Eddie e eu chegamos a um acordo.” Entendi isso como se ele estivesse pagando McKoy por proteção, mas enquanto tentava organizar os pensamentos uma das moças belizenhas nos interrompeu, aparecendo com um grande copo de um líquido alaranjado. Ele o cheirou desconfiado, como se não tivesse ideia do que se tratava. Ele o ofereceu a mim e, depois que recusei, bebeu.
Algum tempo depois, ele continuou, contando outra história da sua vida. (Por que ele achava que todos queriam matá-lo a qualquer custo, em vez de tomar seu dinheiro, permaneceu uma incógnita.) Um grupo de ofensores, incluindo dois policiais, planejava jogar seu carro para fora da estrada uma noite, ele disse, levando-o de volta para seu complexo com uma arma apontada para a sua cabeça e forçando os seguranças a abrirem o portão. Eles queriam matar McAfee e os seguranças, e fugir com US$ 100 mil em dinheiro que ele supostamente mantinha em sua propriedade. Felizmente, disse McAfee, McKoy interviu.
McAfee estava orgulhoso da forma como ele respondeu ao seus supostos assassinos: ele os contratou. “Todos que já tentaram me roubar, me matar, trabalham para mim agora,” ele declarou. Isso não era apenas a boa lógica hacker, ele explicou, mas um tipo de serviço público. “Nenhuma dessas pessoas são responsáveis, porque elas não podem trabalhar. Em algum momento, você para de viver só para si mesmo. Nós, como americanos, estamos saqueando o mundo. Jogamos comida fora. É loucura.”
Ele se levantou e chamou as mulheres que estavam lá dentro: “Vocês já jogaram comida fora?” Sem ter resposta, continuou “A ideia é tão de outro mundo que vocês nem mesmo compreendem, né?”
Ele permaneceu levantado. Conversamos por uma hora e senti que a entrevista havia acabado. Agradeci a McAfee por sua hospitalidade e perguntei se eu poderia retribuir pagando um jantar a ele. Ele me olho incrédulo. “Você não estava me ouvindo? Eu não posso sair de casa à noite.”
***
No final dos anos 1980, com os computadores começando a se tornar comuns nas casas norte-americanas, começou o medo de programas maliciosos que poderiam se espalhar de máquina em máquina. Onde muitos viam uma ameaça emergente, McAfee reconheceu uma oportunidade. Como engenheiro de software que trabalhava para a Lockheed, ele obteve a cópia de um vírus preliminar, o então chamado “Pakistani Brain,” e contratou alguns programadores para escreverem um software que o neutralizasse. Foi um movimento cauteloso, mas o que veio a seguir foi realmente inspirado: ele deixou qualquer um baixar o software de segurança da McAfee de graça. Rapidamente, ele tinha milhões de usuários e estava cobrando de clientes corporativos uma taxa de licenciamento. No terceiro ano, ele estava lucrando milhões.
O programa antivírus não era a primeira aventura empreendedora de McAfee. Quando jovem, ele viajou ao México, dormindo em uma van, comprando pedras e prata e fabricando joias para vender a turistas. Depois, durante o pânico de AIDS em San Francisco, ele vendeu documentos falsos de identidade, dizendo que portadores do HIV estavam livres do vírus. Seu espírito de rodar por aí o levou a trabalhar no Vale do Silício. Funcionários praticavam luta com espadas e conduziam rituais Wicca no intervalo do almoço. Um jogo no trabalho – e que durou muito tempo – dava pontos aos funcionários por fazerem sexo em diferentes locais do escritório. O próprio McAfee era um alcoólatra e usuário de drogas pesadas. (Depois de um infarto em 1993, aos 47 anos, ele se tornou abstêmio total.)
No começo de 1992, ele foi à TV em rede nacional e declarou que até cinco milhões de computadores poderiam ser comprometidos por um vírus em particular chamado Michelangelo. As vendas do McAfee foram às alturas, mas a data do suposto ataque veio e nenhum incidente foi percebido. “Foi o maior ‘não evento’ desde que Geraldo entrou no túmulo de Al Capone,” reclamou a ZDNet. Forçado a abandonar seu papel de gestão, McAfee vendeu sua parte da empresa, recebendo US$ 100 milhões.
À deriva, McAfee entregou-se à vida de um rico caçador de aventuras. Ele dirigiu quadriciclos off-road (batendo um punhado de vezes) e fez travessias em oceano aberto em um Jet Ski (não raro eles afundavam no trajeto). Ele torrou milhões em um retiro de yoga de 113 hectares nas montanhas acima de Woodland, Colorado, onde todo domingo de manhã ele dava aulas complementares. “Era tudo de graça,” lembra um ex-aluno. “Você pensaria que esse cara era incrivelmente generoso e bom, mas ele estava tirando vantagem daquilo. Ele estava interessado em ser o centro das atenções. Ele estava rodeado de pessoas que não tinham dinheiro algum e dependiam dele; ele podia controlá-los.” No meio da comitiva, havia uma jovem funcionária chamada Jennifer Irwin, que McAfee começou a namorar.
O crescente tédio com a vida de ermitão fez McAfee inventar um novo passatempo chamado “aerotrekking”, que envolvia voar bem baixo em pequenos aviões ao longo de grandes trechos de deserto. Pilotos experientes classificaram a prática como inerentemente perigosa, mas McAfee achou-a emocionante. Ele trouxe uma legião de seguidores, incluindo Irwin, consigo para Rodeo, Novo México, onde ele comprou uma fazenda com uma pista de pouso e gastou milhões com amenidades luxuosas para a propriedade — um cinema, um armazém geral, uma frota de carros antigos. Ele começou a chamar seus seguidores de Ciganos Aéreos. McAfee tomou o cuidado de não se definir como líder, mas era claro que era ele quem pagava as contas e dava as ordens. Quando ele falava, ninguém interrompia.
Foi ali que conheci McAfee, como um repórter enviado para escrever sobre as suas ambições em tornar o aerotrekking um passatempo nacional. Ele me colocou em uma cama na casa da fazenda, e ele acordou antes do sol nascer e foi até o hangar, cheio de pequenos aviões. “As pessoas têm medo das suas próprias vidas,” disse ele em um tom de barítono gripado. “O seu objetivo não deveria ser uma vida com algum significado? Desconhecida, misteriosa, emocionante?”
Algumas das suas iniciativas para bancar seu novo esporte pareciam menos do que adequadas ao momento. Para dar ao aerotrekking a ilusão de ser algo em voga, ele montou uma rede de sites falsos com vários clubes de aerotrekking supostamente espalhados pelo país. Ao final da minha visita, McAfee me disse, orgulhoso, seu plano para distrair os moradores das redondezas, que começaram a se irritar com o aerotrekking e a se organizar contra a empresa. Um dos Ciganos Aéreos escapou para o posto dos correios depois do expediente e afixou cartazes anunciando que uma convenção nacional de paintball estaria chegando à cidade. O cartaz prometia que, em breve, centenas de atiradores camuflados desceriam em massa e dariam início a uma tempestade no deserto. Para fortalecer a mentira, McAfee colocou no ar um site falso promovendo o evento. A operação caseira para mudar o foco das manifestações deu certo. No dia seguinte, a cidade tinha se transformado em uma colmeia de manifestantes irritados, e o lance do aerotrekking foi esquecido.
Em retrospecto, é surpreendente que McAfee estivesse tão comprometido com o aerotrekking. Um ano antes, seu sobrinho morrera em um acidente, junto com o passageiro que ele transportava. A família do passageiro contratou um advogado e ajuizou uma ação pedindo US$ 5 milhões. McAfee começou a falar aos jornalistas que a crise financeira o deixara falido, reduzindo sua fortuna a US$ 4 milhões. (CNN e New York Times divulgaram a alegação, que ele depois me descreveu como “absolutamente imprecisa”.) Ele se livrou de todas as suas propriedades a preço de liquidação e foi para Belize, sendo avisado por seus advogados que “um julgamento nos Estados Unidos não tinha validade” lá. Ele obteve residência muito antes do prazo de carência de um ano exigido por lei. “Isso é o Terceiro Mundo,” ele me disse depois, “eu tive que subornar um monte de gente.”
Acompanhado por um bando de sanguessugas (incluindo Irwin, então com 28 anos), McAfee sossegou em um complexo à beira mar em Ambergris Caye. Com um gosto bem peculiar, ele lançou alguns empreendimentos, incluindo cafeterias e um serviço de de balsa super veloz. Então ele conheceu uma atraente mulher de 31 anos chamada Allison Adonizio, uma bióloga de Harvard em férias. Ela lhe disse que estava trabalhando em um novo campo da microbiologia chamado “sensoriamento anti-quórum” — em vez de matar bactérias infecciosas, disse ela, certos químicos podem quebrá-las e neutralizá-las. Ela já havia identificado uma planta tropical que era rica nesses componentes e acreditava que poderia haver muitas outras. Eles poderiam solucionar o crescente problema global da resistência a antibióticos, disse ela. McAfee ofereceu-se para construir um laboratório para ela em Belize, onde ela poderia trabalhar com as plantas nativas. Ela voltou para casa, pediu demissão e se mudou para a selva.
A Próxima Grande Aposta de McAfee estava encaminhada. Ele comprou um terreno ao lado do Novo Rio, bem no interior do país, onde Adonizio poderia cultivar as plantas. Ele também comprou outro terreno a alguns quilômetros, também próximo ao rio, perto da cidade de Orange Walk, onde começou a construir uma fábrica de processamento. Ele anunciou que Adonizio tinha identificado seis novas ervas promissoras, e me convidou a ir lá dar uma olhada. Isso, disse ele, era o motivo pelo qual ele tinha vindo para Belize: libertar a humanidade da doença e ao mesmo tempo tirar os belizenhos da pobreza. “Tenho 65 anos,” ele disse. “É hora de pensar em algum tipo de legado que deixarei aqui.”
No começo de 2010, viajei para Belize e, mais uma vez, encontrei-me com McAfee, que me recebeu animado em sua casa e me tratou como a um amigo. Passeando por uma área onde cultivava ervas, comecei a questioná-lo. A erva, dizia ele, era muito frágil para ser plantada do jeito convencional e ela tinha que crescer naturalmente. Mas se a planta era muito delicada para a agricultura, como ele acreditava que ela conseguiria vingar em quantidade suficiente para abastecer seu complexo de produção? Quando o pressionei em relação a isso, ele deixou transparecer que a ambição do plano era, em si, uma evidência da sua legitimidade: “Ou eu sou muito tolo,” disse, “ou me sinto extremamente seguro de que conseguirei despachar a mercadoria.”
No meio da minha visita a história toda ficou ainda mais esquisita. Adonizio e McAfee me disseram que, apesar de todo o potencial de mudar o mundo que eles viam no projeto do sensoriamento anti-quórum, eles decidiram deixá-lo de lado. Em vez disso, estavam se concentrando no desenvolvimento e publicidade de outro componente herbário que Adonizio descobrira, um que eles disseram ser capaz de aumentar a libido feminina.
De volta para casa, escrevi um texto que questionava o trabalho de McAfee e levantei questões sobre suas motivações para estar em Belize. Depois que foi publicado online, McAfee partiu para uma vigorosa defesa na área de comentários, dizendo que ele jamais abandonara o projeto de sensoriamento anti-quórum, mas que havia mentido para mim durante a visita porque pressentira que eu tinha a intenção de escrever um artigo hostil de qualquer forma. “Eu faço pegadinhas, e brinco com a imprensa exatamente da mesma forma que faço com meu vizinho,” escreveu. “Não estou dizendo que esse é um jeito particularmente adulto de agir, ou para negócios, ou não ofensivo para alguns. Mas este sou eu.”
No começo, Adonizio apoiava o que McAfee dizia nos comentários. “Eu me sentia um pouco desconfortável (a princípio) sobre a nossa piada com Jeff,” escreveu. “Entretanto, depois de ler o texto, entendi por que John queria manter as coisas em segredo. Jeff estava lá, no dia, para escrever algo sensacionalista. John dizia: ‘um agressor sem senso de humor não merece clemência.'”
Mas quatro meses depois, ela entrou em contato por email. “Lembra-se de mim? Serei franca. Eu não sabia exatamente quem e o que o Sr. McAfee realmente é.”
Ela explicou que antes da minha chegada ela não tinha descoberto nenhum novo componente antibiótico, como eles alegavam anteriormente. Ela tinha apenas uma erva na que vinha trabalhando em Harvard e que já era patenteada, logo não poderia ser desenvolvida para a venda. “Na verdade não tínhamos nada quando você esteve lá,” disse Adonizio. McAfee decidiu que o remédio da libido, que a princípio foram debatida como uma piada, serviria como uma alternativa plausível nesse meio tempo. Ela topou sustentar essa mentira, disse, apenas por insistência de McAfee.
Na época da publicação do artigo, a relação entre eles ficou tensa. Ele mostrou a ela sites dedicados a vários tipos de relações pouco convencionais e, quando sua namorada Irwin não estava na cidade, tornou-se mais e mais propenso a pegar prostitutas na rua e levá-las para sua cama. (Um dia Adonizio deu de cara um “um sacola de lixo literalmente cheia de Viagra.”) Depois que ela rompeu com o namorado nos EUA, “ele insistia muito para eu me entrosar com uns amigos esquisitos que eram a favor da poligamia e coisas sexuais bem malucas,” disse. “Ele tentou me convencer de que o amor não existe, então eu podia transar com aqueles malucos.” Ele gostava de deixar escapar que tinha conexões com criminosos perigosos, implicando que poderia mandar matar o ex-namorado dela. “Tenho alguém que pode cuidar disso,” McAfee disse a ela.
Quando ela enfim decidiu que já tivera o bastante e pediu a McAfee para comprar uma parte da empresa, ele explodiu, segundo ela, e começou a gritar. Ela correu e se trancou no laboratório. McAfee bateu na porta e gritou obscenidades. Temendo por sua segurança, Adonizio chamou um amigo para acompanhá-la para fora do local. No dia seguinte, ela pegou um voo de volta à sua casa, na Pensilvânia.
Mesmo a milhares de quilômetros de distância, disse, ela ainda se sentia amedrontada com o que ele poderia fazer para atingi-la. “Logo que comecei a questionar as motivações dele, ele mudou e se tornou uma pessoa horrível, horrível; controlador, manipulador e perigoso,” ela me disse. “Sou muito grata por ter escapado com vida.”
Depois que Adonizio foi embora, McAfee se isolou ainda mais. Um investidor interessado em retomar o negócio do sensoriamento anti-quórum recuou. Um acordo de joint-venture com o Dr. Louis Zabaneh, um dos homens mais poderosos do país, desmoronou. Os sanguessugas sumiram. Após 14 anos, Irwin o largou. McAfee passava a maior parte do seu tempo em Orange Walk, onde ele expandira a pequena instalação de processamento de ervas, que virou uma pequena fortaleza murada. “O que eu passei na sua propriedade me fez querer dar o fora dali,” disse, por email, um sócio a Adonizio, “esquisito, e um pouco assustador, e eu não me assusto facilmente… Tenho a sensação de que ele está na pior lá.”
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Eu não voltei a Orange Walk durante a minha visita em abril, mas estive tenso durante todo o nosso encontro em Ambergis Caye, mesmo com McAfee insistindo que não guardava ressentimentos de mim e dizendo que tinha, na realidade, gostado do artigo: “Achei ele bem escrito,” me disse.
Quando lhe questionei sobre por que Adonizio estava tão infeliz sobre sua estada com ele em Belize, ele pareceu exasperado: “Allison é uma pessoa infeliz que é infeliz na essência,” disse. “Não importa o que estiver em jogo, ela encarará dessa forma, desse jeito, e extrairá algo disso para ser a causa da sua infelicidade.”
E sobre a sua falta de amigos na comunidade dos expatriados? “Eu não preciso de amigos,” ele disse. “O que a amizade realmente significa? É um comprometimento a uma ideia que não me interessa.”
Um momento depois, ele parou e disse: “Vou te contar a verdade de uma vez.” Então ele se distraiu e fez uma ligação. No dia seguinte, ele mandou um e-mail me convidando para voltar para outra visita: ele havia esquecido que queria me contar algo muito importante, como escreveu, algo que só queria compartilhar pessoalmente. Tive uma sensação estranha, inexplicável de que a coisa que ele queria me dizer era que tinha ordenado a minha morte. Esperei até chegar aos Estados Unidos para retornar a ligação, e quando ele soube que eu já estava em casa, seu tom foi brusco: “Eu realmente não estou interessado em falar pelo telefone sobre coisas que são importantes para mim.”
Duas semanas depois, a polícia invadiu seu complexo. No processo eles confirmaram o que eu tinha como uma das afirmações mais forçadas de McAfee. O superintendente Marco Vidal me confirmou que, de fato, vários membros da força de segurança de McAfee eram criminosos conhecidos e que McKoy era um chefe do crime de algum renome. “McKoy é um membro de uma das fações da gangue Bloods,” Vidal escreveu-me por email. “Sabemos de um encontro entre McKoy e McAfee em seu café, em San Pedro, Ambergris Caye, no qual McAfee estava acompanhado por dois líderes da gangue em operação mais violenta e notória da Cidade de Belize. No encontro, McAfee também levou um oficial de polícia consigo. Acreditamos que sua intenção era deixar bem claro a McKoy que ele controlava as duas forças armadas — a legítima e a informal.”
Durante a sua prisão, McAfee estava tão nervoso a respeito da investigação policial que mandou dois funcionários subornarem um oficial para ter informações de dentro. Ambos foram presos por tentativa de suborno. McAfee enviou outro belizenho com a mesma missão. Ele também foi preso.
O mundo de McAfee parecia estar implodindo. No final de maio, o Gizmodo publicou o texto de uma mensagem que McAfee tinha publicado em um fórum de discussão privado. Nela, ele descrevia estar fugindo da polícia. “Estou em uma casa de um cômodo em um local que não interessa,” escreveu. “Faz cinco dias que não saio de casa.” Ele acrescentou que estava escrevendo de um iPad, mas não tinha carregado e restava apenas 21% de bateria. Ele descreveu seu problema com a polícia, depois saiu com isso: “Tenho só 17% de carga. Vou nessa.”
Mas alguns dias depois, moradoras flagraram McAfee dirigindo um carrinho de golfe nos arredores de Ambergris Caye com sua nova namorada de 17 anos, aparentemente bem animado. Fiz contato e sua resposta foi otimista. “As coisas estão voltando ao normal,” escreveu. “Estou só aguardando algumas propriedades serem vendidas e então partirei para o Pacífico Sul. Sem dúvida rumo a novas aventuras…”
Nas semanas que se seguiram, ele não se mudou para os mares do sul. Em vez disso, ele passou a circular por San Pedro com uma arma no coldre, uma violação da lei de armas belizenha. Então, no final de julho, McAfee apareceu em um artigo na Westword, uma revista semanal alternativa baseada em Denver, falando do seu último empreendimento — de acordo com McAfee, ele se chama “yoga observacional” e consiste em se sentar em cadeiras confortáveis e ver outras pessoas praticando asana. Graças a seus vários benefícios à saúde, disse McAfee, a nova yoga “é muito popular” em Belize, e ele planeja levar o conceito para o resto do mundo através de franquias.
“Seria muito difícil vender esse conceito nos Estados Unidos,” ele admitiu. “Mas aqui eu posso fazer qualquer coisa escandalosa que quiser.”
Jeff Wise é um jornalista de ciência, escritor da coluna “Eu Tentarei Qualquer Coisa” da Popular Mechanics, e autor de Extreme Fear: The Science of Your Mind in Danger. Para mais, visite JeffWise.net.