O telescópio espacial Kepler nos deu um susto no mês passado, mas está mais ativo do que nunca. Uma equipe da NASA anunciou a descoberta de 1.284 novos planetas – o maior número de exoplanetas já relatados ao mesmo tempo. Isso quase duplica o número de planetas confirmados fora do nosso sistema solar, elevando o total para cerca de 3.200.
De 2009 a 2013, o telescópio Kepler olhou para um ponto fixo no céu, analisando 120.000 estrelas para detectar sombras planetárias fracas chamadas “eventos de trânsito”. Essa observação de quatro anos coletou uma quantidade enorme de informações, que os cientistas vêm vasculhando desde então. Até então, o banco de dados Kepler já tinha rendido cerca de 4.700 candidatos planetários e 984 exoplanetas confirmados. Telescópios terrestres viram outras centenas.
As descobertas ilustres do Kepler incluem o Kepler-452b, primeiro planeta provavelmente rochoso que orbita na zona habitável de uma estrela parecida com o Sol; e inúmeros outros mundos rochosos na zona habitável, como o Kepler-438b e Kepler-442b.
Agora, a equipe do Kepler concluiu que outros 1.284 planetas foram descobertas genuínas. Para tanto, eles usaram uma abordagem estatística, calculando se eventos de trânsito de um candidato a exoplaneta poderiam ser um falso positivo.
As novas descobertas, descritas no Astrophysical Journal, não mudam drasticamente a distribuição de mundos que o Kepler vem fornecendo – a maioria dos planetas encontrados até hoje ainda são de tamanho maior que a Terra e menor que Netuno.
Isto é provavelmente devido ao fato de que mundos com tamanho maior que a Terra são mais fáceis de ver; afinal, os astrônomos acreditam que, na verdade, planetas do tamanho da Terra ou menores são mais comuns.
O anúncio inclui também nove planetas na zona habitável, com menos do que o dobro do tamanho da Terra (e, portanto, provavelmente rochosos). Um desses mundos, Kepler-1638b, possui tamanho próximo ao da Terra e é apenas um pouco mais quente.
Por mais incríveis que sejam as novas descobertas, o Kepler ainda não terminou. A equipe espera produzir, em outubro, um catálogo final dos exoplanetas confirmados. “Eu não me surpreenderia se ainda tivéssemos centenas de novos candidatos a planetas a acrescentar a essa lista”, disse Natalie Batalha, pesquisadora de exoplanetas no Instituto Ames da NASA.
E enquanto todos os planetas no catálogo do Kepler estão a centenas ou até mil anos-luz de distância, a missão K2 – que reaproveitou o Kepler em 2014 – encontrou centenas de candidatos que estão a “apenas” algumas dezenas de anos-luz de distância.
Esses planetas do K2 estão entre os primeiros mundos cujas atmosferas vamos vasculhar por sinais de vida com o Telescópio Espacial James Webb e futuras missões. Em algumas décadas, se tivermos sorte, poderemos encontrar um segundo lar para nós.
“Quando a NASA decidiu lançar o telescópio espacial Kepler, nós não sabíamos se pequenos planetas rochosos eram comuns ou raros na galáxia”, disse Paul Hertz, diretor da Divisão de Astrofísica, na sede da NASA. “Graças ao Kepler, agora nós sabemos que exoplanetas são comuns, e que uma fração razoável das estrelas em nossa galáxia tem planetas potencialmente habitáveis. Saber isto é o primeiro passo para abordar a questão: estamos sozinhos no universo?”
[NASA]