Las Vegas – Uma cidade que quer ser jovem de novo
Quando entrei pela primeira vez em um cassino de Las Vegas, tive a impressão de que uma excursão de velhinhos estava passeando pela cidade. Um deles se divertia muito num caça-níquel do Titanic. O outro estava pirando na mesa de cartas. Achei legal. Sempre acho bom quando as pessoas conseguem se divertir em várias fases da vida. O problema é que quanto mais cassinos você conhece, mais vê velhinhos. Parece que os hotéis-cassino, que fizeram a fama da cidade do pecado, viraram um parque temático onde aposentados americanos vão perder dinheiro no final de semana. De novo, nada contra os velhinhos. Mas é muito estranho quando uma cidade feita para a diversão não consegue reter os jovens.
Las Vegas em miniatura: Fotos isométricas mostram o neón concentrado
Bem, obviamente eu não sou o único ser humano que reparou nisso. Na verdade, é um diagnóstico que a cidade de Las Vegas fez há alguns anos. No passado, 70% do dinheiro da cidade vinha dos cassinos. Hoje, esse número caiu para 40%. Os cassinos continuam lá, mas a cidade está se movendo cada vez mais para o mundo do entretenimento. São shows, espetáculos do Cirque Du Soleil, lutas de UFC, rodeios, festivais. Hoje, a indústria da diversão passou os cassinos e já responde por 60% da renda da cidade.
Esse mapeamento só é possível porque a cidade trabalha com quantidades absurdas de dados. Onde você vê letreiros luminosos e escadas rolantes, o governo e os empresários locais enxergam dados, dados por todos os lados, prontos para serem coletados. E, quando você leva os dados a sério, é capaz até de mudar a cidade do pecado. Porque, afinal, o pecado só pode entrar na fase 3.0 com desenvolvedores, designers, cientistas de dados…
Rock in Rio – Las Vegas
Um dos movimentos mais significativos da cidade vai acontecer agora. Las Vegas vai sediar o Rock in Rio USA entre 8 e 16 de maio de 2015. Sim, aquele festival que nasceu no Brasil e passou a ter edições em vários lugares do mundo. Com o Rock in Rio, Las Vegas tem um objetivo simples: a cidade quer rejuvenescer e se transformar num centro de shows capazes de atrair jovens de todas as partes dos EUA. Por isso, o Rock in Rio USA vai ter o fenômeno pop Taylor Swift e vai ter Metallica. Vai ter Ivete Sangalo e vai ter Sepultura.
Os movimentos que a cidade estão fazendo são fortes. No ano passado, Las Vegas sediou o festival Life Is Beautiful. O evento aconteceu no centro da cidade, que foi fechado e transformado numa grande área de shows, com carrinhos de comida, exposição de arte, videogame. Estava lotado de gente jovem, aquelas pessoas que você está mais acostumado a ver numa casa de shows no Brooklyn, em Nova York, do que dentro de um cassino. Esses jovens estão fugindo dos cassinos em direção a lugares onde eles podem se divertir com gente igual a eles. Afinal, convenhamos: não tem a menor graça ficar dentro de um hotel que imita os canais de Veneza se você pode ficar em uma praça aberta ao flerte. É um conflito de gerações no mundo do entretenimento.
Parque e ciclovia
Mas não é só com shows que Las Vegas está tentando ser mais amigável à juventude. A cidade está construindo ciclovias, seguindo uma tendência mundial: quanto mais você pedala, mais moderno você se sente — especialmente se você estiver de férias, numa cidade distante de casa. É um movimento forte. Assim como outras cidades americanas, Las Vegas foi construída para você andar de carro — ou ostentar um carro.
Porém, pesquisas recentes apontam que os jovens americanos e europeus não amam os carros tanto quanto seus pais. O que Las Vegas faz? Toma uma decisão pragmática. Cria um distrito de artes, convida um mundo de jovens para abrir estúdios por ali e constrói um mundo de ciclovias. Simples assim. A mensagem fica bem clara: se o mercado muda, Las Vegas vai atrás. Se a diversão muda, a cidade muda com ela.
Além disso, a prefeitura está construindo parques públicos. São áreas verdes que as pessoas adoram ter em cidades como Nova York e San Francisco, mas que Las Vegas não tinha nem parecia precisar. Afinal, quem ia querer um parque público num lugar com tantas opções? Os avós não sentiam falta. Os pais não ligavam. Mas os filhos se importam.
Isso está sendo feito de maneira suave, para não perder os velhinhos nem os adultos. Essas pessoas continuam indo para o deserto de Nevada. Elas querem ficar num hotel que imita Paris ou em outro que copia a Roma Antiga. A grandiosidade da Strip continua ali. O maior hotel do mundo em número de quartos, o MGM, segue firme e forte com seus mais de 5 mil lugares para dormir e descobrir seu corpo.
O nó é que, agora, os hotéis estão investindo em yoga, comida natural e restaurantes badalados, e não apenas em jogatina e letreiros luminosos. Las Vegas, aliás, está investindo, quem diria, em hotéis boutique, sem cassino. Nesses, já é possível ver um rejuvenescimento significativo dos hóspedes.
Esse movimento todo faz sentido. Afinal, a geração que cresceu com a internet não se encanta mais com cinquenta tons de neon. A população americana, por causa da imigração, está rejuvenescendo. Isso está tudo registrado em inúmeras pesquisas, feitas nos últimos anos. Mas pouca gente lê uma pesquisa e faz alguma coisa com ela. Por isso é incrível ver como Las Vegas está se adaptando para continuar viva e relevante para quem nasceu dos anos 1940 aos anos 1990. Vai dar certo? Não sei, mas é bom dar um crédito a uma cidade construída no meio de um deserto e que se transformou na capital mundial do entretenimento.
Las Vegas – Uma cidade que quer ser jovem de novo
Texto de Leandro Beguoci
Quando entrei pela primeira vez em um cassino de Las Vegas, tive a impressão de que uma excursão de velhinhos estava passeando pela cidade. Um deles se divertia muito num caça-níquel do Titanic. O outro estava pirando na mesa de cartas. Achei legal. Sempre acho bom quando as pessoas conseguem se divertir em várias fases da vida. O problema é que quanto mais cassinos você conhece, mais vê velhinhos. Parece que os hotéis-cassino, que fizeram a fama da cidade do pecado, viraram um parque temático onde aposentados americanos vão perder dinheiro no final de semana. De novo, nada contra os velhinhos. Mas é muito estranho quando uma cidade feita para a diversão não consegue reter os jovens.
Las Vegas em miniatura: Fotos isométricas mostram o neón concentrado
Bem, obviamente eu não sou o único ser humano que reparou nisso. Na verdade, é um diagnóstico que a cidade de Las Vegas fez há alguns anos. No passado, 70% do dinheiro da cidade vinha dos cassinos. Hoje, esse número caiu para 40%. Os cassinos continuam lá, mas a cidade está se movendo cada vez mais para o mundo do entretenimento. São shows, espetáculos do Cirque Du Soleil, lutas de UFC, rodeios, festivais. Hoje, a indústria da diversão passou os cassinos e já responde por 60% da renda da cidade.
Esse mapeamento só é possível porque a cidade trabalha com quantidades absurdas de dados. Onde você vê letreiros luminosos e escadas rolantes, o governo e os empresários locais enxergam dados, dados por todos os lados, prontos para serem coletados. E, quando você leva os dados a sério, é capaz até de mudar a cidade do pecado. Porque, afinal, o pecado só pode entrar na fase 3.0 com desenvolvedores, designers, cientistas de dados…
Rock in Rio – Las Vegas
Um dos movimentos mais significativos da cidade vai acontecer agora. Las Vegas vai sediar o Rock in Rio USA entre 8 e 16 de maio de 2015. Sim, aquele festival que nasceu no Brasil e passou a ter edições em vários lugares do mundo. Com o Rock in Rio, Las Vegas tem um objetivo simples: a cidade quer rejuvenescer e se transformar num centro de shows capazes de atrair jovens de todas as partes dos EUA. Por isso, o Rock in Rio USA vai ter o fenômeno pop Taylor Swift e vai ter Metallica. Vai ter Ivete Sangalo e vai ter Sepultura.
Os movimentos que a cidade estão fazendo são fortes. No ano passado, Las Vegas sediou o festival Life Is Beautiful. O evento aconteceu no centro da cidade, que foi fechado e transformado numa grande área de shows, com carrinhos de comida, exposição de arte, videogame. Estava lotado de gente jovem, aquelas pessoas que você está mais acostumado a ver numa casa de shows no Brooklyn, em Nova York, do que dentro de um cassino. Esses jovens estão fugindo dos cassinos em direção a lugares onde eles podem se divertir com gente igual a eles. Afinal, convenhamos: não tem a menor graça ficar dentro de um hotel que imita os canais de Veneza se você pode ficar em uma praça aberta ao flerte. É um conflito de gerações no mundo do entretenimento.
Parque e ciclovia
Mas não é só com shows que Las Vegas está tentando ser mais amigável à juventude. A cidade está construindo ciclovias, seguindo uma tendência mundial: quanto mais você pedala, mais moderno você se sente — especialmente se você estiver de férias, numa cidade distante de casa. É um movimento forte. Assim como outras cidades americanas, Las Vegas foi construída para você andar de carro — ou ostentar um carro.
Porém, pesquisas recentes apontam que os jovens americanos e europeus não amam os carros tanto quanto seus pais. O que Las Vegas faz? Toma uma decisão pragmática. Cria um distrito de artes, convida um mundo de jovens para abrir estúdios por ali e constrói um mundo de ciclovias. Simples assim. A mensagem fica bem clara: se o mercado muda, Las Vegas vai atrás. Se a diversão muda, a cidade muda com ela.
Além disso, a prefeitura está construindo parques públicos. São áreas verdes que as pessoas adoram ter em cidades como Nova York e San Francisco, mas que Las Vegas não tinha nem parecia precisar. Afinal, quem ia querer um parque público num lugar com tantas opções? Os avós não sentiam falta. Os pais não ligavam. Mas os filhos se importam.
Isso está sendo feito de maneira suave, para não perder os velhinhos nem os adultos. Essas pessoas continuam indo para o deserto de Nevada. Elas querem ficar num hotel que imita Paris ou em outro que copia a Roma Antiga. A grandiosidade da Strip continua ali. O maior hotel do mundo em número de quartos, o MGM, segue firme e forte com seus mais de 5 mil lugares para dormir e descobrir seu corpo.
O nó é que, agora, os hotéis estão investindo em yoga, comida natural e restaurantes badalados, e não apenas em jogatina e letreiros luminosos. Las Vegas, aliás, está investindo, quem diria, em hotéis boutique, sem cassino. Nesses, já é possível ver um rejuvenescimento significativo dos hóspedes.
Esse movimento todo faz sentido. Afinal, a geração que cresceu com a internet não se encanta mais com cinquenta tons de neon. A população americana, por causa da imigração, está rejuvenescendo. Isso está tudo registrado em inúmeras pesquisas, feitas nos últimos anos. Mas pouca gente lê uma pesquisa e faz alguma coisa com ela. Por isso é incrível ver como Las Vegas está se adaptando para continuar viva e relevante para quem nasceu dos anos 1940 aos anos 1990. Vai dar certo? Não sei, mas é bom dar um crédito a uma cidade construída no meio de um deserto e que se transformou na capital mundial do entretenimento.