Machos infiéis e migração: estudo analisou causas do divórcio de aves
A grande maioria das aves são monogâmicas – mais de 90% delas têm apenas um parceiro, contra 5% dos mamíferos, por exemplo. Isso significa que um macho acasala com uma única fêmea, e eles mantêm o vínculo por um período que varia conforme a espécie. Isso pode durar uma estação reprodutiva, várias estações sucessivas e até a vida inteira (como fazem os albatrozes).
Deixe o romantismo para lá: as aves se relacionam com exclusividade porque, presume-se, seus filhotes têm uma chance muito maior de sobreviverem se os pais cooperarem na sua criação. Mas nem tudo são flores. Volta e meia, um indivíduo acasala com outro parceiro quando o vínculo anterior ainda não acabou. Os ornitólogos, ou especialistas nesses seres emplumados, chamam este comportamento de “divórcio”.
Agora, pesquisadores da Sun Yat-sen University, na China, descobriram dois fatores que são os principais responsáveis pelo término de relacionamentos: a promiscuidade masculina e a distância migratória. Eles publicaram o estudo nesta quarta (5) na revista Proceedings of the Royal Society B.
Para determinar os dois fatores, a equipe reuniu dados publicados anteriormente sobre taxas de divórcios para 186 espécies de aves. Eles também analisaram as informações com base nas relações evolutivas dos animais – e descobriram que espécies próximas têm taxas de divórcio semelhantes. É o caso dos albatrozes, cisnes e gansos, por exemplo, que são relativamente bons em manter o vínculo ao longo da vida.
A promiscuidade leva ao divórcio à medida que os machos encontram novas parceiras para reprodução, gerando filhotes com mais frequência e espalhando seus genes por aí. A traição não é vantajosa para as fêmeas, por outro lado – provavelmente porque a produção de ovos tem alto custo energético, e elas preferem qualidade em vez de quantidade.
A migração é outro fator importante no divórcio entre aves porque gera desencontros: o casal pode chegar ao destino de forma assíncrona ou cada um acabar pousando em um local diferente. Os pesquisadores ainda notaram que a chance da separação acontecer aumenta de acordo com a distância da migração.
“Essas descobertas”, escrevem os autores, “indicaram que o divórcio pode não ser uma simples estratégia adaptativa (por seleção sexual) ou não adaptativa (por perda acidental de um parceiro) em aves, mas pode ser uma resposta mista ao conflito sexual e ao estresse do ambiente.”