Maníaco do Trianon: conheça a história macabra do “Dahmer” brasileiro

Fortunato Botton Neto, garoto de programa que agia no Parque Trianon, admitiu a morte de pelo menos dez homens no fim dos anos 1980
Maníaco do Trianon
Imagem: Reprodução/Youtube

Após o lançamento da minissérie “Dahmer: Um Canibal Americano”, diversos casos parecidos envolvendo serial killer voltaram à tona. Criada por Ryan Murphy e protagonizada por Evan Peters, a produção mostra como Jeffrey Dahmer cometeu 17 assassinatos — que envolviam quase sempre estupro, necrofilia e canibalismo — entre 1978 e 1991.

E por mais louco que pareça, o Brasil também teve a sua versão do “Dahmer”. Conhecido na época como Maníaco do Trianon, o paulistano Fortunato Botton Neto (1967-1997), garoto de programa que agia no Parque Trianon, admitiu a morte de pelo menos sete homens, com idades entre 30 e 50 anos, no fim dos anos 1980. Ele costumava embebedar, imobilizar, estrangular e esfaquear as vítimas em seus apartamentos e, depois, as roubava.

Nascido na capital, Fortunato fugiu de casa ainda criança e viveu na rua pedindo esmolas. Aos oito anos, foi estuprado por um caminhoneiro e segundo ele, foi o que desencadeou um ódio profundo por pessoas mais fortes que ele. No início dos anos 1980, começou a se prostituir para sobreviver, atuando na Av. Paulista, principalmente no Parque Trianon. Era uma época bem complicada, com os casos de AIDS aumentando, e a homofobia era ainda mais comum do que nos dias atuais.

Logo, Botton começou a usar drogas e teve que lidar com problemas financeiros. Em agosto de 1987, ele fez sua primeira vítima. A empregada do psiquiatra Antonio Carlos Di Giacomo chegou para trabalhar e encontrou um cenário de horror. Com pés e mãos amarrados e uma meia na boca, estava o médico formado pela Escola Paulista de Medicina, que trabalhava no Hospital do Servidor Público.

O cadáver estava com os membros amarrados, esfaqueado e com indícios de estar alcoolizado antes da morte. Ele foi encontrado morto no apartamento em que morava no Edifício Alice, na Vila Olímpia, na zona sul da capital paulista. E foi assim, que a onda de assassinatos do Maníaco do Trianon se iniciou. Entre 1987 e 1989, foram investigadas cinco de suas mortes. O método era sempre o mesmo: embebedar, imobilizar, estrangular e esfaquear.

A frieza com que “Dahmer” brasileiro relatou este e os demais crimes chocou até os mais experientes policiais que trabalhavam no caso. Em um de seus depoimentos, o maníaco diz: “Matar é como tomar sorvete: quando acaba o primeiro, dá vontade de tomar mais, e a coisa não para nunca”. Depois de combinar o preço do programa, ele seguia para o apartamento das vítimas, onde bebia com elas até que ficassem totalmente alcoolizadas. Amarrava os tornozelos e os pulsos, amordaçava e matava por estrangulamento, golpes de faca ou chave de fenda. Terminado o serviço, ele vasculhava o apartamento da vítima à procura de dinheiro e objetos valiosos que pudessem ser vendidos facilmente sem levantar suspeita.

Maníaco do Trianon

Imagem: Reprodução/Youtube

O principal fator que atrapalhou as investigações foi o preconceito social que impedia a transparência policial sobre os casos. Muitos desses clientes que contrataram o garoto de programa não assumiam a homossexualidade na época, e suas famílias tentavam acobertar essa informação. Os crimes só começaram a ser plenamente apurados quando um policial compreendeu a situação e ligou os diversos pontos: se tratava de um serial killer, que era motivado pelo dinheiro.

Fortunato teria saído impune de todos os crimes se não tivesse cometido o erro de ameaçar um cliente. Na época, o jovem tinha medo que sua homossexualidade fosse descoberta pelos pais e o Maníaco do Trianon sabia disso. Ele passou a utilizar o medo do cliente para extorqui-lo com valores cada vez mais altos em troca de seu silêncio. No entanto, o estudante resolveu denunciá-lo e falar de sua personalidade violenta para os detetives que acompanhavam os casos recorrentes de assassinatos.

Os policiais estavam à procura de vestígios que os levassem até Fortunato, e a revelação do jovem era tudo o que precisavam para poder caçá-lo. Com isso, uma emboscada foi armada. O estudante usou uma escuta para falar com Maníaco do Trianon, deixando claro que não lhe daria mais dinheiro e que qualquer caso entre eles estava acabado. Quando o homem resolveu usar violência contra o jovem, a polícia apareceu e o prendeu.

Botton foi preso em flagrante, por extorsão, em junho de 1989. Concluiu-se que Botton era o maníaco que buscavam. Ele admitiu dez assassinatos e foi condenado a oito anos de prisão.

Acontece que Fortunato tinha sérios problemas mentais que o faziam passar por “surtos”. No geral era uma pessoa normal e abertamente homossexual; ao entrar em um surto, se transformava em um monstro que abominava homossexuais e os culpava pelo surgimento da AIDS. Cada “surto” podia durar minutos, horas, dias ou semanas.

O Maníaco do Trianon matou 13 pessoas entre 1987 e 1989, mas foi condenado por cinco dos dez crimes que confessou, e pegou apenas 8 anos de prisão. Fortunato morreu no presídio de Taubaté em fevereiro de 1997, de broncopneumonia decorrente da AIDS, que adquiriu de uma de suas vítimas.

E assim como Jeffrey Dahmer, os crimes cometidos pelo Maníaco do Trianon tiveram diversas adaptações. Para começar, a história do serial killer e suas vítimas fez parte de uma série de reportagens produzidas pelo canal Discovery Channel, e integra um episódio da segunda temporada do programa “Instinto Assassino”.

Além disso, no livro “Dias de Ira: Uma História Verídica de Assassinatos Autorizados” do jornalista Roldão Arruda do Estado de S. Paulo, lançado pela Editora Globo, o escritor mostra com detalhes extensas páginas dos inquéritos policiais e depoimentos da época, que desembocaram nos processos judiciais. Ele traçou o perfil das vítimas desses crimes, e chegou a entrevistar Fortunato para o livro, em 1995.

Rayane Moura

Rayane Moura

Rayane Moura, 26 anos, jornalista que escreve sobre cultura e temas relacionados. Fã da Marvel, já passou pela KondZilla, além de ter textos publicados em vários veículos, como Folha de São Paulo, UOL, Revista AzMina, Ponte Jornalismo, entre outros. Gosta também de falar sobre questões sociais, e dar voz para aqueles que não tem

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