Estudo sugere que marca de 15.600 anos é a pegada humana mais antiga já encontrada nas Américas

Suposta pegada humana descoberta por arqueólogos no Chile foi datada de 15.600 anos, o que a coloca entre as mais antigas já encontradas no Novo Mundo

Uma suposta pegada humana descoberta por arqueólogos no Chile foi datada de 15.600 anos, o que a coloca entre as marcas mais antigas já encontradas no Novo Mundo. É uma descoberta intrigante que sugere um assentamento precoce na América do Sul pelos seres humanos, mas nem todos estão convencidos com as novas evidências.

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A pegada solitária foi descoberta em 2011 no sítio arqueológico de Pilauco, na cidade chilena de Osorno. Esse sítio foi submetido a escavações de 2007 a 2016, resultando na descoberta de vários ossos de animais, matéria vegetal, ferramentas de pedra simples e essa aparente pegada humana. A descoberta é particularmente significativa devido à escassez de pegadas antigas nas Américas e por causa de um longo debate sobre o povoamento da América do Sul durante o fim do Pleistoceno. A nova pesquisa, liderada pela paleontóloga Karen Moreno e pelo geólogo Mario Pino, da Universidade Austral do Chile, foi publicada na semana passada no PLOS One.

Outras pegadas significativas nas Américas incluem trilhas de 14.600 anos no Monte Verde, nas proximidades do sítio arqueológico de Pilauco, e um par de trilhas no México que remontam a 10.700 anos e 7.200 anos atrás.

No ano passado, arqueólogos descobriram 29 pegadas humanas na costa da Ilha Calvert, na Colúmbia Britânica, datadas de 13 mil anos atrás. As pegadas em Monte Verde são a mais antiga evidência de presença humana na América do Sul, embora permaneçam controversas.

O fato de que uma pegada humana possa ter sido encontrada a cerca de 100 km de distância no sítio de Pilauco, datando aproximadamente da mesma época que as pegadas de Monte Verde, reforça o argumento de que os seres humanos viveram na América do Sul nesse período. Porém, com 15.600 anos de idade, ela representaria a marca mais antiga já encontrada nas Américas. Isso é obviamente algo muito importante.

Para a análise, Moreno e Pino dataram por radiocarbono materiais vegetais orgânicos encontrados na mesma camada que a pegada solitária. Medições feitas à mão, uma reconstrução de gesso e uma série de imagens radiográficas permitiram que os pesquisadores analisassem a marca com riqueza de detalhes. Eles estimaram que ela tenha sido feita por um homem descalço pesando aproximadamente 70 kg. Devido às suas dimensões, forma e nível de preservação, a pegada de Pilauco “corresponde a uma marca do pé direito de um ser humano adulto”, e não de algum outro animal, como uma preguiça-gigante, escreveram os autores no estudo.

Como o artigo apontou, a marca foi atribuída à icnospécie Hominipes modernus (com icnospécie descrevendo um fóssil de traço distinto). Os pesquisadores acreditam que a marca foi feita por um Homo sapiens, já que nenhuma evidência foi encontrada para sugerir que uma espécie humana além dela tenha chegado às Américas.

As pegadas experimentais. Imagem: K. Moreno et al., 2019

Moreno e Pino também conduziram um experimento para testar diferentes cenários de formação da pegada. A equipe extraiu amostras de solo de Pilauco, reidratando o sedimento com várias quantidades de água. Três pessoas, todas com proporções corporais consistentes com o suposto criador original da pegada, foram recrutadas para caminhar em um leito de teste contendo a mistura encharcada. Os “resultados demonstram que um agente humano poderia facilmente gerar uma pegada equivalente à estrutura sedimentar ao caminhar sobre um substrato saturado”, escreveram os autores no estudo.

Dito isso, os pesquisadores não entendem por que uma só pegada foi recuperada, e não uma trilha inteira. Eles citaram a mistura de sedimentos ao longo do tempo como uma causa provável.

Mas Stuart Fiedel, arqueólogo da empresa de consultoria Louis Berger Group, interpretou a nova pesquisa de forma diferente. Fiedel não acredita que as pegadas encontradas em Monte Verde, nem as de Pilauco, sejam pegadas humanas reais.

“Se você comparar essas duas depressões cheias, em forma de feijão, com pegadas humanas antigas reais, você vai notar que a borda exterior das marcas reais é sempre reta, e não curva acentuadamente para dentro do calcanhar aos pés, como as marcas de Monte Verde e Pilauco”, disse Fiedel ao Gizmodo. “Essa diferença pode ser vista até mesmo nas pegadas produzidas experimentalmente mostradas no artigo.”

Além disso, ele afirmou que os autores parecem estar interpretando a protuberância como uma marca deixada por um dedão do pé. Mas essa “não é a morfologia normal dos dedos dos pés humanos”, disse ele. E nem os autores explicam convincentemente por que há um caroço no meio da “sola”, acrescentou Fiedel.

As aparentes ferramentas de pedra encontradas perto das marcas, argumentou Fiedel, não são realmente ferramentas, mas “apenas pedras quebradas sem nenhuma evidência de fabricação humana de uso”. Os ossos de animais, disse ele, são sem importância, pois “claramente carcaças de animais se acumularam neste local” cerca de 16.000 a 15.000 anos atrás.

Fiedel disse que acredita que a pegada pode ter sido feita por um pedaço de madeira em decomposição e observou que havia pedaços de madeira de tamanho e forma semelhantes aos da pegada encontrados nas proximidades.

Nicholas Felstead, da Universidade de Swansea, disse que o novo artigo era interessante, afirmando ao Gizmodo que as “datas de radiocarbono confiáveis obtidas pelos autores tornam essa descoberta bastante convincente”. O trabalho, disse ele, fornece mais evidências em apoio à rota de migração da costa do Pacífico. De fato, há um grande debate sobre quando os humanos povoaram pela primeira vez as Américas, com as duas principais teorias sendo a hipótese da rota da costa do Pacífico (também conhecida como a teoria pré-Clóvis) e a teoria de Clóvis.

“Arqueólogos do lado da teoria de Clóvis acreditam que os primeiros humanos, o povo Clóvis, chegaram há cerca de 14 mil anos ao extremo norte, quando as camadas de gelo tinham recuado o suficiente para permitir a passagem a partir do Alasca para os estados do norte dos EUA”, escreveu Felstead, que não esteve envolvido com o estudo, em um e-mail para o Gizmodo.

“O principal respaldo para essa teoria é que não há evidência sólida para a existência de humanos pré-Clóvis nas Américas. Ela se tornou o modelo padrão de como e quando os humanos chegaram pela primeira vez às Américas.”

Entretanto, como Felstead apontou, outros arqueólogos acreditam que os humanos viajaram pela costa do Pacífico das Américas muito antes de 14.000 anos atrás e muito mais rápido. Monte Verde, no Chile, é provavelmente o sítio arqueológico mais famoso relacionado à rota da costa do Pacífico, com pegadas que remontam a cerca de 14.600 anos atrás — mas essas pegadas são altamente controversas no debate, disse ele.

“Essas novas pegadas são significativas, pois fornecem mais evidências sólidas de humanos pré-Clóvis nas Américas”, disse Felstead. “Se de fato humana, essa pegada fornece evidências convincentes em apoio à rota de migração da costa do Pacífico”, completou.

Dada a grande alegação feita por Moreno e Pino e a ambiguidade tanto da pegada quanto da natureza dos artefatos encontrados no local, seria valioso ter uma segunda equipe de pesquisa examinando as evidências disponíveis. Até lá, o debate sobre quando os humanos se estabeleceram pela primeira vez na América do Sul continuará esquentando.

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