Use menos o celular, alerta Departamento de Saúde da Califórnia
Desde os primórdios dias dos telefones celulares, uma pequena, mas firme parcela de ativistas ambientais, teóricos da conspiração e alguns cientistas nos alertam sobre os perigosos ocultos que dispositivos celulares podem causar aos nossos corpos, devido as radiofrequências que dispositivos sem fio usam para se comunicar com torres celulares. Eles temem que essa radiação não ionizante possa penetrar nossas células e causar danos, aumentando nosso risco de adquirir câncer de cérebro e cabeça. Mas outros estudiosos descartaram essa potencial ligação por serem, no melhor dos casos, infundados, e na pior, improváveis. No entanto, em um atitude um tanto surpreendente, o Departamento de Saúde Pública da Califórnia (CDPH, na sigla em inglês), passou a fazer parte do debate, alertando as pessoas, especialmente crianças, para que se mantenham distantes dos celulares sempre que possível. A agência também divulgou diretrizes de como reduzir a exposição as radiofrequências.
“Apesar da ciência ainda estar em evolução, existe uma preocupação entre os profissionais de saúde pública e membros do público quando o assunto é exposição em longo termo a energia emitida pelos celulares”, diz Dra. Karen Smith, diretora do CDPH, em um comunicado. Além de câncer de cérebro e cabeça, energia de radiofrequência é suspeita de causar infertilidade, dores de cabeça e problema de aprendizado e memória, segundo as diretrizes.
O anúncio não veio sem uma parcela de drama. Em 2014, a KCRA noticiou que Joel Moskowitz, diretor do Centro para a Saúde da Família e Comunidade da Universidade da Califórnia em Berkeley, processou o CFPH depois que eles se recusaram a tornam público um esboço das diretrizes que a universidade desenvolveu em 2009. Em documentos legais, a agência argumenta que as diretrizes poderiam ter confundido e preocupado o público já que ela era produzida pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças. A corte julgou o caso em favor de Moskowitz, e em março deste ano a CFPH divulgou um esboço, atualizado para 2015.
As atuais normas são um pouco mais extensas do que o esboço de 2015, incluindo mais passos em como evitar a exposição a radiofrequências. O que inclui não deixar o celular próximo do corpo, deixá-lo longe da cama durante a noite, e remover fones de ouvido quando não estiver em uma ligação. As diretrizes também recomendam não utilizar o celular quando o sinal estiver fraco e não utilizá-lo para fazer streaming de músicas e vídeos ou baixar grandes arquivos – atividades que podem aumentar a quantidade de radiofrequências emitidas pelos celulares. Ela também alerta as pessoas para não usar produtos vendidos como bloqueadores de radiofrequência, já que alguns deles podem aumentar o seu nível de exposição.
Mas é claro, ainda precisamos saber em quem acreditar. A Organização Mundial de Saúde (OMS) categorizou as radiofrequências como um agente ambiental de Classe 2B, significando que ele “possivelmente possa ser carcinogênico a humanos”. Enquanto isso, a posição oficial da FDA (equivalente a Anvisa nos EUA) é que “o peso das evidências científicas não mostram uma associação entre exposição de radiofrequências de celulares e problemas de saúde”. E ainda dá uma leve debochada com a OMS, dizendo que café, fiação elétrica e talco também são agentes de Classe 2B.
Por enquanto, é seguro dizer que não há nenhuma pesquisa que consiga ligar celulares com câncer cerebral. E enquanto é improvável que venha a existir um estudo que refute definitivamente essa conexão (é difícil provar uma negativa), a balança pesa mais para o lado que afirma que celulares são seguros de usar. Mas, de novo, não há nada de errado em usar menos estes dispositivos, e como estamos começando a descobrir que muito tempo olhando para a tela pode ser danoso à nossa saúde mental, especialmente a de adolescentes, talvez seja uma boa ideia passar mais tempo longe do telefone.
Aqueles que esperam uma resposta melhor podem ficar de olho no projeto COSMOS, um ambicioso estudo que avalia o uso de celulares e saúde de mais de meio milhão de pessoas por toda a Europa. A pesquisa, que teve início em 2007, irá acompanhar estas pessoas pelos próximos 20 a 30 anos.