Na última década, a bitcoin aumentou a pressão sobre a rede de energia amplamente movida a carvão da Mongólia Interior, uma província na China. Agora, a província decidiu agir. No final da semana passada, as autoridades locais anunciaram planos para banir todos os novos empreendimentos de mineração de bitcoins e outras criptomoedas, e rapidamente eliminar a atividade existente para reduzir o consumo de eletricidade.
A criptomoeda consome muitos recursos. Globalmente, a mineração de bitcoin — que não é literalmente mineração, mas sim criar uma nova bitcoin resolvendo problemas matemáticos criptográficos complexos — usa tanto carbono quanto a Nova Zelândia inteira, de acordo com um estudo. A atividade é responsável por cerca de 0,5% do consumo total de eletricidade global, segundo as estimativas desses pesquisadores.
Quase metade de toda a mineração de bitcoins globalmente ocorre na China. Como os preços da energia na Mongólia Interior são particularmente baixos, muitos mineradores de bitcoin se estabeleceram lá especificamente. A região é o terceiro maior local de mineração da China. Como a rede elétrica é fortemente movida a carvão, no entanto, isso levou uma disparada nas emissões, colocando-a em conflito com a promessa do presidente Xi Jinping em setembro passado de que a China atingiria o pico de emissões de carbono até 2030 no máximo e a neutralidade de carbono antes de 2060.
Os governos locais chineses estão correndo para reduzir seu consumo de eletricidade na esteira desses compromissos. Em um projeto de lei publicado na quinta-feira passada (25 de fevereiro), a Comissão de Reforma e Desenvolvimento da Mongólia Interior propôs a suspensão imediata de todas as novas minerações de criptomoedas, bem como o encerramento de todos os projetos existentes até o final de abril. O período de comentários públicos sobre a lei foi encerrado na quarta-feira (3).
O plano faz parte de um esforço mais amplo para reduzir a intensidade energética — ou a quantidade de energia consumida por unidade de crescimento econômico, que mostra a eficiência energética de uma economia — em 3% em comparação com 2020. Para cumprir essa meta, as autoridades da Mongólia Interior também planejam parar de aprovar outros novos projetos na província que requerem grandes quantidades de energia, incluindo novos projetos de aço, metanol e coque (tipo de combustível derivado do carvão e com alto teor de carbono).
A repressão às criptomoedas da Mongólia Interior é uma política bem-vinda para combater uma indústria extremamente nociva. Mas, para realmente controlar o impacto da energia no setor, serão necessárias mudanças maiores. A criptomoeda consome muita energia por design, porque exige a mineração constante de novos tokens e a execução de computadores para resolver quebra-cabeças computacionais para que as transações sejam aceitas. O blockchain funciona dessa maneira para garantir que cada moeda seja única e, assim, evitar o gasto de uma única moeda digital mais de uma vez.
Mas, embora isso o torne seguro, também o torna um grande emissor de carbono. Métodos alternativos de mineração, como prova de aposta (ao contrário da atual configuração de prova de trabalho), poderiam reduzir as emissões ao diminuir o número de computadores focados na resolução de quebra-cabeças. Mas, em última análise, as emissões por bitcoin estão ligadas ao problema maior de sobrecarregar a infraestrutura de combustível fóssil que alimenta a maior parte da rede mundial.
Fazer uma transição maior da rede elétrica para funcionar com energias renováveis certamente reduziria a intensidade de carbono do bitcoin. Mas, honestamente, o mundo já tem setores essenciais suficientes para descarbonizar, como aquecimento e habitação. Quanto menos energia o mundo usar, mais fácil será criar fontes renováveis suficientes para abastecer tudo. Desculpe, fãs da criptomoeda, mas não acho que o bitcoin seja particularmente necessário.