Em 1926, o zoólogo britânico Oldfield Thomas encontrou e descreveu pela primeira vez o Histiotus alienus, uma espécie de morcego vivendo no Brasil. Depois de ser visto em Joinville (SC), o mamífero nunca mais deu as caras. Agora, 100 anos depois, cientistas redescobriram a espécie.
O reconhecimento e a nova descrição foram feitos por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da Universidade Federal do Paraná e estão na revista Zookeys.
Descoberta inesperada
Os cientistas encontraram o morcego em 2018, durante expedições de campo do projeto de pesquisa Promasto (Mamíferos do Parque Nacional dos Campos Gerais e Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas).
Na hora, pensaram se tratar de um representante da espécie Histiotus velatus, comum na região. No entanto, quando compararam as características, perceberam que eles não se pareciam em nada.
Por este motivo, eles levaram o morcego sem identificação ao museu Nacional do Rio de Janeiro para estudos adicionais. Lá, puderam comparar a espécie encontrada com diversas outras do mesmo gênero.
Em geral, o morcego Histiotus alienus é marrom, mede entre dez e 12 centímetros e tem orelhas ovais e grandes, que estão conectadas por uma membrana. Dessa forma, com base nessas características da espécie, os cientistas puderam confirmar o segundo registro da espécie, um século depois do primeiro.
Identificar para conservar
Na primeira vez em que apareceu, ele estava em Joinville. Por outro lado, em 2018, ele surgiu a cerca de 280 quilômetros de distância do local inicial.
Por isso, os pesquisadores acreditam que a espécie viva em áreas diversas: desde florestas tropicais densas até florestas de araucária, matas ciliares e campos. As altitudes em que o morcego pode ser encontrado variam do nível do mar até aproximadamente 1.200 metros para cima.
No entanto, de acordo com os autores do estudo, o principal hábitat do Histiotus alienus, a Mata Atlântica, está sob pressão devido à atividade agrícola. Até agora, a classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza indica que há dados insuficientes sobre a espécie.
Por este motivo o novo registro é uma boa notícia. Além disso, o segundo representante do morcego estava em uma área de conservação, o que indica que pelo menos uma população da espécie pode estar protegida.
“Uma vez que a descrição de várias espécies dentro do gênero tem mais de cem anos e é um tanto vaga, as comparações e dados apresentados por nós ajudarão na identificação correta desta espécie de morcegos”, afirmam os pesquisadores no estudo.