Mosquitos da malária têm “nariz” extra só para detectar humanos
Pesquisadores da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, descobriram um segundo conjunto de sensores de odor em fêmeas do mosquito da malária que parece ser especificamente ajustado para detectar humanos. Embora claramente perturbadora, a descoberta pode levar a novas maneiras de combater os mosquitos da malária e a temida doença que eles carregam.
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É difícil não se impressionar com esse mosquito, um animal ligado a mais mortes humanas por ano do que qualquer outra criatura no planeta. O modus operandi da fêmea do mosquito da malária é simples mas eficaz: encontrar um hospedeiro, sugar seu sangue e botar um monte de ovos. Discutivelmente, o primeiro passo do processo é o mais crítico, e os mosquitos desenvolveram um poderoso sistema de detecção que lhes permite procurar suas refeições de sangue.
Para encontrar um hospedeiro, as fêmeas do mosquito usam seus sensores de odor altamente especializados para detectar traços de dióxido de carbono exalado pelos animais. Conforme o inseto se aproxima de um alvo em potencial, outros odores emitidos pelo animal informa o mosquito se o hospedeiro é desejável. Para mosquitos da malária, os humanos são os principais alvos; a malária e os mosquito que a carregam evoluíram em conjunto, com o vírus se aproveitando de um componente único encontrado no sangue humano que permite que a doença cresça. Após consumir sua refeição de sangue, o mosquito muda de foco e usa seu detector sensível de cheiro para buscar água parada, onde deposita seus ovos.
O “nariz” do mosquito não é um nariz no sentido convencional. Ele consiste de três partes: antenas, probóscide e um par de apêndices na boca chamado de “palpos”. Esses palpos são atados com pêlos sensoriais ocos minúsculos chamados de “sensilas”, que são repletos de uma disposição assustadora de sensores de cheiro, permitindo às fêmeas distinguir entre milhares de compostos aromáticos diferentes.
Pesquisadores da Universidade Vanderbilt têm estudado uma família de aproximadamente 80 receptores odorantes (ORs, na sigla em inglês) no mosquito da malária Anophele gambiae. De forma estranha, muitos dos ORs do Anopheles não respondem a um monte de odores humanos que, como se sabe, os mosquitos conseguem detectar, o que levou os pesquisadores a suspeitar da presença de um sistema de detecção secundário.
E, de fato, a suspeita levou à descoberta de um sistema olfativo mais primitivo, os receptores ionotrópicos (IRs), nos mosquitos — um que o Anopheles usa especificamente para detectar humanos. Mas essa descoberta não veio fácil, já que os pesquisadores não tinham certeza de qual odor humano particularmente esse sensor estava programado para detectar. Após exporem meticulosamente os IRs a virtualmente cada odor produzido pelos humanos, os pesquisadores descobriram que o sistema secundário de cheiro se ativa na presença de duas classes de compostos encontrados no suor humano: ácidos carboxílicos, que emitem um cheiro distinto azedo, e derivados da amônia chamados de “aminas”.
Os receptores ionotrópicos foram descobertos anteriormente em moscas de frutas, mas essa é a primeira vez que esse sistema de detecção é visto em mosquitos. Os cientistas querem estudar os IRs de forma mais aprofundada para descobrir mais coisas, já que suspeitam que esse sistema olfativo possa detectar radiação infravermelha e níveis de umidade. O que, se confirmado, é impressionante.
Armados com essa descoberta, os pesquisadores estão um passo mais próximos de entender todas as maneiras nefastas como os mosquitos conseguem detectar humanos, possibilitando o desenvolvimento de medidas de prevenção eficazes. Tais medidas poderiam incluir de tudo, desde encontrar maneiras de mascarar o odor humano a até genética dirigida que pudesse desabilitar as capacidades olfativas específicas do mosquito para encontrar humanos.
Imagem do topo: Wikimedia