Motorista de Uber autônomo que atingiu ciclista estava vendo The Voice durante acidente fatal

O acidente de um carro autônomo do Uber que matou uma mulher no Arizona em março era “completamente evitável”, de acordo com relatórios da polícia divulgados pelo Departamento de Polícia de Tempe. Dados de celular obtidos pela polícia sugerem que a operadora do Uber também estava assistindo por streaming a um episódio de The Voice no […]

O acidente de um carro autônomo do Uber que matou uma mulher no Arizona em março era “completamente evitável”, de acordo com relatórios da polícia divulgados pelo Departamento de Polícia de Tempe. Dados de celular obtidos pela polícia sugerem que a operadora do Uber também estava assistindo por streaming a um episódio de The Voice no momento do incidente fatal.

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Os documentos, divulgados ao Gizmodo em resposta a um pedido de consulta a registros públicos, mostram que a polícia de Tempe descobriu que a operadora do veículo autônomo do Uber provavelmente poderia ter evitado o acidente fatal se estivesse prestando atenção — mas, em vez disso, ela provavelmente estava assistindo a um vídeo em seu celular. A polícia também apontou que os veículos do Uber aparentemente não alertavam aos operadores para que assumisse o controle do veículo durante incidentes.

Depois do acidente, o Uber demitiu 300 motoristas de teste de sua unidade de veículos autônomos, parando os testes no Arizona. Um porta-voz do Uber apontou que usar qualquer dispositivo enquanto se está no volante, mesmo um smartwatch, seria considerado um delito passível de demissão.

O acidente matou Elaine Herzberg, uma mulher de 49 anos que atravessava a rua de bicicleta quando foi atingida pelo veículo do Uber. A tecnologia autônoma da empresa falhou em detectar Herzberg, e a motorista humana que deveria agir para evitar a batida pareceu distraída em imagens anteriormente reveladas. Agora, vários documentos do relatório de 318 páginas sugerem que a motorista, Rafaela Vasquez, poderia estar assistindo a um episódio de The Voice na hora da batida.

“A motorista, nesse caso, poderia ter reagido e parado o veículo 12,98 metros antes de chegar à pedestre”, um dos documentos concluía.

Entretanto, a polícia de Tempe também apontou que os veículos do Uber não alertavam operadores de veículos autônomos sobre quando assumir o controle de seus carros.

“Durante a atual fase de desenvolvimento, operadores de veículo são invocados a realizar manobras evasivas”, um detetive de Tempe escreveu. “Não consegui encontrar em lugar algum nos documentos que os sistemas de autocondução alertam o operador do veículo sobre riscos potenciais ou quando eles devem assumir o controle manual do veículo para realizar uma manobra evasiva.” O porta-voz do Uber disse que a empresa está revisando as práticas e os procedimentos de segurança e que contratou o ex-presidente da National Transportation Safety Board (órgão americano de segurança no trânsito) Christopher Hart como consultor de segurança.

Depois do acidente, a polícia obteve mandados de busca e apreensão para celulares de trabalho e pessoais pertencentes a Vasquez. A polícia também enviou mandados de busca para YouTube, Netflix e Hulu, para recuperar o histórico de visualização de Vasquez em seus dispositivos por volta do momento do acidente.

“A motorista, nesse caso, poderia ter reagido e parado o veículo 12,98 metros antes de chegar à pedestre.”

O acidente aconteceu por volta das 22h — mais especificamente, o relatório afirma que o vídeo de dentro do carro “para de gravar às 21:58, no horário local, momentos antes de atingir a pedestre”.

Os dados que o Hulu forneceu às autoridades mostram que Vasquez estava assistindo a um episódio de The Voice chamado “The Blind Auditions, Part 5”, entre 21h16 e 21h59, horário local, de acordo com o histórico da conta entregue à polícia pela equipe jurídica do Hulu. Em resposta aos mandados, YouTube e Netflix disseram que Vasquez não estava ativamente vendo vídeos em nenhuma das plataformas no momento do acidente.

Captura de tela: Tempe Police

A equipe jurídica do Hulu inicialmente divulgou dados de visualização da conta de outro usuário, de acordo com os relatórios da polícia, e então corrigiram o erro em resposta a novas perguntas da polícia de Tempe, revelando os dados de Vasquez.

Revisando as filmagens coletadas das próprias câmeras do Uber, que filmaram a visão do carro para a estrada e Vasquez conforme ela dirigia, a polícia determinou que Vasquez estava frequentemente distraída.

“Ela parece estar olhando para baixo na área próxima a seu joelho direito em vários momentos do vídeo”, diz o relatório. “Durante os nove clipes de vídeo, descobri que a motorista olhou para baixo 204 vezes, com quase todas essas vezes tendo o mesmo posicionamento do olho no centro inferior do console perto de seu joelho direito. Cento e sessenta e seis desses momentos de olhar para baixo aconteceram enquanto o veículo estava em movimento.” Vasquez pareceu estar rindo durante momentos em que estava olhando em direção a seu joelho, acrescentou o relatório.

A polícia não apontou apenas o número de exemplos em que seus olhos não estavam na estrada, mas também focou na quantidade total de tempo que Vasquez estava aparentemente distraída. “O veículo esteve em movimento por 21 minutos e 48 segundos. Desse tempo, a quantidade total de tempo que os olhos da motorista estava desviados da estrada foi de seis minutos e 47,2 segundos, ou aproximadamente 32% do tempo”, descobriu a polícia.

Gráfico: Polícia de Tempe

Entretanto, Vasquez ligou para a emergência depois do acidente. Ela também passou no teste de sobriedade. Cerca de meia hora depois do início do teste, o policial que administrava o teste garantiu a Vasquez que era improvável que ela fosse enfrentar acusações criminais, de acordo com o vídeo da câmara corporal do policial.

Vasquez estava sozinha no veículo na noite da colisão — uma prática padrão para os operadores de veículos autônomos do Uber. Várias outras empresas de veículos autônomos optaram por ter dois operadores em seus carros durante os testes. Essa era, na verdade, a prática do Uber quando começou com os testes, segundo o CityLab, mas a empresa mudou para apenas um operador no fim de 2017. Um porta-voz do Uber disse ao CityLab na época que o segundo operador havia estado presente apenas para fazer anotações e não precisava manter a segurança.

Entretanto, um copiloto poderia ter notado Herzberg na estrada. Nas imagens da câmara corporal depois do acidente, um policial que conversou com Vasquez lhe perguntou sobre a política de duas pessoas. “Você estava com um passageiro? Porque eu sei que, às vezes, vocês andam com duas pessoas juntas”, questionou o policial.

Em um relatório preliminar divulgado no fim de maio, a National Transportation Safety Board descobriu que o veículo do Uber detectou Herzberg apenas seis segundos antes do acidente e que iniciou o freio de emergência 1,3 segundo antes do impacto. O sistema do Uber não é projetado para alertar o operador sobre um perigo potencial, concluiu o relatório da NTSB. A investigação do órgão sobre o acidente ainda está em andamento, e o relatório final ainda não foi lançado.

Imagem do topo: Departamento de Polícia de Tempe

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