Mudanças climáticas estão fazendo os peixes encolherem — e a ciência (ainda) não explica
Conforme as mudanças climáticas avançam e os oceanos e rios ficam mais quentes, muitos animais sofrem mudanças que são, na verdade, consequências deste cenário. Por exemplo, cientistas já notaram que muitos peixes estão crescendo menos sob temperaturas mais altas.
“Até temos um nome para isso, a Regra do Tamanho com a Temperatura. Mas apesar de décadas de pesquisa, ainda não entendemos por que o tamanho diminui à medida que a temperatura aumenta”, afirma Joshua Lonthair, professor de biologia na University of Massachusetts Amherst.
Na tentativa de compreender o fenômeno, Lonthair testou a teoria até então mais aceita: a Limitação de Oxigênio nas Guelras (GOL, na sigla em inglês).
GOL, Limitação de Oxigênio nas Guelras
De acordo com a teoria, a diminuição de tamanho dos peixes que vivem em águas cujas temperaturas aumentaram funciona como um mecanismo para suprir a quantidade de oxigênio necessária ao seu desenvolvimento.
Na prática, à medida que a água se aquece, os processos bioquímicos de um peixe se aceleram. Isso faz com que ele precise de mais oxigênio para viver e crescer. Contudo, a GOL sustenta que as guelras têm uma área superficial limitada.
Dessa forma, os peixes chegariam a um limite da quantidade de oxigênio que conseguem capturar e, por isso, precisam se adaptar a esse volume. Para isso, teriam que se manter menores, demandando menos O2.
Em resumo, a teoria da Limitação de Oxigênio nas Guelras considera que os peixes estão “encolhendo” para se adequar ao oxigênio limitado que suas guelras podem fornecer.
O que diz a nova pesquisa
Para testar a GOL, Lonthair e sua equipe utilizaram trutas que inicialmente pesavam entre um e dois gramas cada. Os peixes foram distribuídos em tanques: alguns com água a 15ºC, e outros que continham água aquecida a 20ºC.
Do início do experimento até seis meses depois, os pesquisadores pesaram, mediram e analisaram o consumo de oxigênio dos animais. Eles também coletaram amostras das guelras dos peixes.
Dessa forma, descobriram que as trutas nos tanques mais quentes eram realmente menores, como esperado. Mas a área superficial das guelras era mais do que suficiente para atender às demandas de oxigênio dos peixes. , o que significa que seu crescimento não foi limitado pela área superficial das guelras, como prevê a GOL.
Além disso, a equipe descobriu que, embora as taxas metabólicas dos peixes nos tanques mais quentes tenham aumentado no marco dos três meses, elas se equilibraram logo depois. Dessa forma, a pesquisa descobriu que não há evidências fisiológicas que apoiem a teoria da Limitação de Oxigênio nas Guelras.
Agora, a negativa foi publicada em artigo no Journal of Experimental Biology. Para os autores, como as temperaturas crescentes das águas doces e salgadas têm um efeito crítico sobre o metabolismo, a resposta pode ser mais abrangente do que se imagina.
“E pode não ser um mecanismo único — pode ser uma série de fatores, incluindo o uso de oxigênio. Precisamos de mais estudos interdisciplinares de longo prazo para que possamos entender melhor como nos ajustar ao nosso mundo em aquecimento”, diz Lonthair.