Ciência

Mulheres têm mais doenças autoimunes – e a resposta pode estar no cromossomo X, diz estudo

Mecanismo genético que acontece no cromossomo X está relacionado com processo inflamatório das doenças autoimunes
Imagem: National Cancer Institute/ Unsplash/ Reprodução

Entre todas as pessoas com doenças autoimune no mundo, aproximadamente 80% são mulheres. Por exemplo, a esclerose múltipla afeta de duas a três vezes mais elas que os homens. Já no caso do Lúpus, os números mostram que  mulheres são nove vezes mais atingidas.

Em condições como artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto, o padrão é o mesmo. Agora, um novo estudo publicado na revista Cell fornece mais informações sobre o possível motivo.

O papel do cromossomo X

Embora a identidade de gênero e a composição cromossômica de uma pessoa nem sempre se alinhem, o estudo utilizou os termos mulheres e fêmeas para retratar seres que possuem dois cromossomos X e nenhum Y.

Em geral, os cromossomos são estruturas que carregam genes dentro das células. Dessa forma, o X é normalmente aquele que carrega um RNA chamado XIST, que é responsável pelo processo de inativação deste cromossomo.

Quando isso acontece, a atividade dos genes dentro do cromossomo X é paralisada na maioria das células. No entanto, nem todos os genes permanecem silenciosos, e aqueles que escapam da inativação do X são considerados a base de algumas doenças autoimunes.

Mas por que? Depois de mais de 60 anos na busca de uma resposta, pesquisadores encontraram um possível motivo.

Na prática, o que acontece é que o XIST consiste em longas cadeias de RNA que se enrolam  ao redor do cromossomo, atraindo dezenas de proteínas. Elas, por sua vez, abafam os genes no interior.

Em experimentos feitos com ratos de laboratório, os pesquisadores envolvidos no novo estudo identificaram que algumas dessas proteínas são alvos de moléculas imunes desorientadas, chamadas autoanticorpos.

Elas atacam tecidos e órgãos, levando à inflamação crônica e danos característicos das doenças autoimunes. 

Nos testes, os cientistas estimularam ratos de laboratórios machos a produzir XIST. Então, induziram nos animais uma doença semelhante ao lúpus. Dessa forma, identificaram que os ratos que expressavam XIST tinham níveis mais altos de autoanticorpos do que aqueles que não tinham.

Além disso, suas células imunes também estavam em estado de alerta mais elevado. Por isso, os pesquisadores consideraram que estavam mais predispostos a ataques autoimunes.

Por fim, eles concluíram que, como o XIST é normalmente expresso apenas em células XX, o ataque dos autoanticorpos é um problema mais comum entre mulheres que homens.

Avanço na ciência

Embora a descoberta revele o grau de complexidade da relação entre mulheres e doenças autoimunes, ela também traz luz ao mecanismo que pode ser chave para aperfeiçoar diagnósticos e desenvolver novos tratamentos. 

Para especialistas, diagnósticos visando esses autoanticorpos poderiam ajudar os médicos a detectar e monitorar várias doenças autoimunes.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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