Ciência

“Vacina inversa” ensina sistema imune a não atacar células saudáveis

Mecanismo da vacina inversa remove da memória do sistema imune uma molécula que não deve ser atacada, evitando doenças autoimunes, diz estudo norte-americano
Imagem: Arek Socha/ Pixabay/ Reprodução

Pesquisadores norte-americanos desenvolveram uma “vacina inversa” que tem grande potencial para evitar os danos de doenças autoimunes ao organismo. O estudo com os resultados foi publicado na revista Nature Biomedical Engineering

Eles deram o nome de “vacina inversa” porque o processo utilizado faz exatamente o oposto do que as vacinas comuns. 

De modo geral, uma vacina ensina o sistema imunológico humano a reconhecer um vírus ou bactéria como um inimigo que deve ser atacado. Já o mecanismo estudado na nova pesquisa busca remover da memória do sistema imune uma molécula que não deve ser atacada.

A ideia é evitar que uma falha nas células de defesa do organismo cause danos às células humanas saudáveis. Em testes de laboratório, a “vacina inversa”  pode interromper reações autoimunes, como as observadas na esclerose múltipla, diabetes tipo 1 ou artrite reumatoide.

O mecanismo de doenças autoimunes

Em geral, as células T do sistema imunológico reconhecem células e moléculas indesejadas como estranhas ao corpo e, então, elimina cada uma delas. Elas fazem isso com vírus, bactérias e até cânceres, sempre mantendo na memória o invasor, com objetivo de eliminá-lo mais rapidamente no futuro.

Isso é ótimo para proteger o organismo de doenças. No entanto, quando as células T cometem erros, elas mesmas causam problemas de saúde – as doenças autoimunes. De modo geral, isso acontece quando elas reconhecem células saudáveis como estranhas. 

Em pessoas com esclerose múltipla, por exemplo, as células T iniciam um ataque contra a mielina, o revestimento protetor em torno dos nervos.

Desfazendo uma resposta imunológica

Em geral, há um mecanismo do organismo humano que garante que reações imunológicas não ocorram em resposta a cada célula danificada do corpo. Esse fenômeno é conhecido como tolerância imunológica periférica e acontece no fígado.

Nos últimos anos, pesquisadores descobriram que era possível imitar esse processo. Para isso, eles marcaram moléculas que estavam sendo atacadas com um açúcar chamado N-acetilgalactosamina (pGal). 

A essas moléculas, eles acoplaram uma outra, que se assemelha a um fragmento de uma célula envelhecida que o fígado reconheceria como amigo, em vez de inimigo do organismo. Depois, enviaram essas moléculas para o fígado, onde a tolerância a elas se desenvolve.

“A ideia é que podemos anexar qualquer molécula que quisermos ao pGal e ensinar o sistema imunológico a tolerá-la”, explicou Jeffrey Hubbell para The University of Chicago

“Em vez de intensificar a imunidade como em uma vacina, podemos controlá-la de uma maneira muito específica com uma vacina inversa”, completou o autor do estudo.

Embora pesquisas anteriores já indicassem que essa abordagem é eficaz para prevenir doenças autoimunes, o novo estudo dá um passo à frente. Ele mostra que é possível tratar essas condições após elas já estarem em andamento. 

Além disso, a “vacina inversa” apresenta também outro benefício. Ela não alterou o funcionamento geral do sistema imunológico, pois age apenas em relação a uma molécula específica.

Isso a difere dos medicamentos utilizados hoje em dia para tratar doenças autoimunes, que geralmente desativam o sistema imunológico como um todo.

Para os autores, isso é mais útil em um contexto real. Contudo, há muitos desafios pela frente para que eles consigam fazer a “vacina inversa” funcionar.

Assine a newsletter do Giz Brasil

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas