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Muskhole, síndrome de Deus e o vício em exposição

Elon Musk estava sem ter o que fazer e acabou indo falar asneira de um assunto do qual não tem a mais remota ideia, trazendo cadáveres eletrônicos e zumbis do fundo do esgoto durante o processo.
Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Muito provavelmente, escrever sobre a polêmica entre Elon Musk, o dono do Twitter e mais meio trilhão de dólares, e um juiz do Supremo, é fazer o que o supracitado quer, mas não tem jeito. O assunto não pode ficar de fora, e para provar o que não precisa de provas, bilionários da tecnologia sequestram as manchetes quando querem.

Indo direto ao assunto, evidentemente que, neste caso, o Supremo tem razão. Por mais politizado e chamado a intervir em coisas que não devia, impedir que geradores de verdades alternativas criem universos paralelos para alienar os seus rebanhos de eleitores surtados é algo que ninguém mais tem como fazer. Winston Churchill dizia que o melhor argumento contra a democracia era uma conversa de cinco minutos com um eleitor médio. Para não deixar Churchill na esteira de presidentes desocupados que tentam dar golpes sem ter colhão na linha de frente, ele – Churchill – também disse que a democracia é o pior tipo de regime de governo, exceto todos os outros. O preço a se pagar pela democracia é permitir que todo mundo, até as pessoas da pior espécie, tenha direito a uma opinião, como a lendária frase do candidato serial, Levy Fidelix, “aparelho excretor não reproduz”.

Elon Musk é viciado em exposição. Sem dúvida, ele é um gênio como empresário. O Twitter foi destruído no intento original de criar uma plataforma de conexão fragmentada e virou uma despensa de surtados enlatados que, em vez de irem fazer terapia, ficam cuspindo baba hidrofóbica. Contudo, a empresa ainda não quebrou (o que muitos cravavam como certo) e hoje opera com menos da metade de funcionários. A síndrome de Deus que Musk tem, é extremamente perigosa. Querer surfar em todas as conversas só porque você tem 180 milhões de seguidores é coisa de moleque mimado. E a cada vez que você (e eu, ainda que cada vez mais raramente) abre seu Twitter, está trabalhando sem ser pago para @ele.

O debate em cima da liberdade de expressão é uma lamentável tentativa sem o menor fundo de realidade em 100% dos casos ligados a plataformas. A primeira emenda da constituição americana não é uma licença para se dar informação falsa. Liberdade de expressão te assegura o direito a manter sua opinião, não a mentir para “provar” que você pode fazer o que quiser. Num mundo no qual as audiências estão insuladas, presas voluntariamente dentro de uma bolha de informação que filtra somente a informação desejada, deixar jumentos e hienas desgovernados(as) inventar histórias é um crime. Se você tem dentro de si a vontade de ver um golpe e a ascensão da sua facção ao poder, não se esconda e assuma o que você quer, sem fingir para si mesmo(a).

Musk gosta de posar como defensor da democracia, mas ele joga o jogo da escoriocracia. Todas as suas intervenções polêmicas, como cortar o acesso do exército ucraniano aos satélites da Starlink ou essa de pagar de jurista no Brasil, são exclusivamente endomarketing em que ele engaja quando está entediado. Seu plano para a humanidade é uma lista de delírios grandiosos e distópicos. Na lista de viabilizadores da ascensão de populistas ao poder, ele está na primeira leva. A história não vai lembrar dele como o cara que falou “chega de combustível fóssil” para combater o aquecimento global, mas como mais o minion podre de rico que entregou a faca e o queijo para as pessoas mais perigosas do mundo brincando de empresário multifacetado. No fim, isso é extremamente triste, porque com o peso da sua influência, ele poderia de fato resolver problemas insolúveis.

Não perca seu tempo tentando entrar nesse debate, porque ninguém sensato está vomitando pus no Twitter. O espaço lá virou um entreposto de Musk-wannabes, porque é disso que a companhia vive – capturar a sua atenção e vender para quem paga mais. Faça um favor a si mesmo e a todo mundo que não rumina alfafa e migre para o Bluesky (que ainda não ganhou tração, mas é a melhor aposta para viúvos e viúvas do Twitter), se possível, levando uma ou mais amigas(os). Deixar Elon Musk falando sozinho é a agressão mais violenta que você pode cometer contra ele.

Por que o “Muskhole” no título? Trata-se de um espaço livre para você exercer a sua liberdade de expressão e pensar no que quiser…

 

Cassiano Gobbet

Cassiano Gobbet

Jornalista, vive na trilogia futebol, tecnologia e (anti) desinformação. Criador da Trivela, ex-BBC, Yahoo e freelancer em três continentes. Você o encontra no Twitter, Bluesky ou por aí.

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