NASA propõe foguete nuclear para levar astronautas a Marte em 45 dias
A NASA está ressuscitando um projeto antigo que prevê a construção de novas naves espaciais movidas a energia nuclear. A ideia é desenvolver um tipo de foguete que poderia encurtar uma viagem a Marte para apenas 45 dias.
Tendo como base a tecnologia atual, uma viagem entre a Terra e Marte poderia levar de seis a nove meses de duração. Isso sem contar os mais de dois anos que os astronautas teriam que permanecer na superfície marciana, aguardando o momento em que dois planetas estão mais próximos para fazer a viagem de volta.
Por outro lado, com a propulsão nuclear, seria possível reduzir o tempo total da missão para apenas alguns meses. Na prática, encurtar a viagem até Marte apresenta o benefício de diminuir os riscos físicos e psicológicos em astronautas durante viagens de longa duração, o que inclui a exposição excessiva à radiação espacial e o tempo gasto em microgravidade — o que podem gerar uma série de problemas de saúde.
O novo conceito de propulsão faz parte do NIAC (Programa de Conceitos Avançados Inovadores da NASA, na sigla em inglês), que busca propor uma série de novas tecnologias que podem transformar as viagens espaciais pelo Sistema Solar.
A ideia de usar foguetes nucleares existe desde os tempos da primeira corrida espacial, entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, nas décadas de 1960 e 1970. Mesmo com décadas de estudos e alguns testes bem sucedidos, os projetos de ambos os lados nunca chegaram ao espaço.
Contudo, durante o governo do ex-presidente norte-americano Donald Trump, foi emitida uma diretriz que impulsiona o desenvolvimento industrial nos EUA de novos sistemas nucleares espaciais. Ela não apenas incentiva uso de reatores de fissão nuclear em futuras bases na Lua, mas também o uso de foguetes com propulsão nuclear em missões de longa duração para o espaço profundo.
Cruzeiro até Marte em 45 dias
Recentemente, a NASA apresentou dois conceitos de propulsão nuclear espacial. O primeiro é o NTP (Propulsão Térmica Nuclear), que consiste em um reator nuclear com capacidade para aquecer o combustível hidrogênio líquido. O objetivo é criar um gás ionizado que será canalizado através de bocais para gerar empuxo ao foguete.
Já o NEP (Propulsão Elétrica Nuclear) é baseado no antigo projeto NERVA (Motor Nuclear para Aplicação de Veículo de Foguete), testado com sucesso durante a Era Apollo. Ele usa um reator nuclear para fornecer eletricidade a um motor de íons, que gera um campo eletromagnético que ioniza e acelera um gás inerte (como o xenônio, por exemplo) para criar impulso.
Ambos sistemas têm vantagens sobre a propulsão química, usada nos foguetes convencionais. Além do maior empuxo, os novos sistemas apresentam melhor eficiência no uso de combustível, além de energia teoricamente ilimitada.
Porém, a agência espacial ressalta que os dois projetos ainda têm problemas para fornecer propulsão adequada para esse tipo de missões espaciais, mas que isso poderia ser contornado se ambos sistemas fossem combinados de alguma forma.
Os riscos de um foguete nuclear
Por mais que a NASA esteja promovendo o conceito de foguetes nucleares, isso não significa que eles não sejam polêmicos. A grande preocupação é que o uso de material radioativo no espaço poderia elevar o risco de contaminação radiológica em um eventual acidente no lançamento.
Além disso, a propulsão nuclear é considerada ilegal sob o ponto de vista do direito espacial. Em 1992, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a resolução que determina os “Princípios Relevantes para o Uso de Fontes de Energia Nuclear no Espaço Exterior”. No texto, é previsto o uso de reatores nucleares para geração de energia sob determinadas condições, porém, impede o uso da energia nuclear para fins propulsivos.
Outro problema do uso da energia nuclear é que ela demanda o uso de diferentes tipos de urânio em reatores de fissão, inclusive aqueles altamente enriquecidos. Isso levanta preocupações na comunidade internacional sobre uma possível brecha para a construção e proliferação de armas nucleares no espaço – algo que também é vetado desde o Tratado do Espaço Sideral, de 1967.
Finalmente, tem a questão de como será feito o correto descarte dos resíduos nucleares desses foguetes no ambiente espacial.
A expectativa da NASA é que a primeira viagem tripulada a Marte ocorra em meados da década de 2030. Porém, o desenvolvimento de um foguete nuclear permitiria acelerar esse cronograma para uma data mais cedo do que o esperado.
De acordo com o atual administrador da agência espacial, Bill Nelson, a NASA espera demonstrar um foguete térmico nuclear funcional até o ano de 2027.