Netflix vai comprar um cinema de Nova York, o que era ilegal até semana passada

Netflix vai comprar o Paris Theatre logo após o Departamento de Justiça rescindir um decreto que proibia produtoras de filmes de possuir cinemas.
Foto: Marion Curtis (Netflix)

A Netflix salvou um cinema bem conhecido na cidade de Nova York de um fechamento iminente, e isso é aparentemente uma coisa boa. Mas algo muito mais devastador está por trás.

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A empresa que transformou o streaming em mainstream diz que resgatará o Paris Theatre de Nova York. Isso acontece logo após um anúncio do Departamento de Justiça de que rescindirá o chamado decreto de consentimento da Paramount (que apresentou a moção oficial para encerrá-lo na última sexta-feira). Ele proíbe as empresas que fazem os filmes de possuir os cinemas que os exibem. Em outras palavras, a Netflix está fazendo exatamente o que acabou por tornar o início de Hollywood um flagelo para os espectadores e estimulou a intervenção do governo.

O Paris Theatre era o último cinema de tela única na cidade de Nova York quando foi fechado no início deste ano. O teatro está localizado na West 58th Street, em Manhattan, perto da Fifth Avenue e da praça no meio de Midtown. Foi inaugurado em 1948, com Marlene Dietrich cortando a fita . Ao longo das décadas, ficou conhecido por exibir filmes de arte e de língua estrangeira em seus idiomas originais.

À medida que o streaming se popularizou e os filmes estrangeiros e de arte se tornaram mais acessíveis por meio desses serviços digitais (como a Netflix), a popularidade do Paris Theater diminuiu. Em agosto deste ano, ele era notável mais por sua longevidade em um local caro do que pelos filmes em exibição.

A Netflix pode ser uma das razões pelas quais o Paris Theater morreu e os cinemas lutam para encontrar novas maneiras de atrair o público. O preço baratinho da empresa para filmes e programas de TV quase ilimitados e transmitidos diretamente para dentro de casa ajudou a tornar o cinema uma maneira mais cara de assistir a filmes. Os cinemas arrecadaram pouco mais de US$ 12 bilhões em 2018 nos EUA em ingressos, de acordo com a Reuters — uma pequena recuperação depois de 2017 ter sido o pior ano em vendas de ingressos em 25 anos.

Os cinemas estão sofrendo — mesmo que relutem em admitir em voz alta — e a facilidade do streaming é pelo menos um fator que contribui. E é um fator que só continuará sendo exacerbado enquanto a Disney, a Warner e até a Apple saturam o mercado com conteúdo novo, original e direto para streaming.

Já existe uma briga muito pública entre a Netflix e os cinemas — com outros streamers, como a Disney e a Warner, acompanhando de perto. No cerne da questão está o intervalo em que os filmes são exibidos nas salas de cinema antes de passar para os serviços de streaming.

A Netflix queria uma janela minúscula — apenas algumas semanas. Os donos de cinemas aparentemente recusaram qualquer período menor que 90 dias. Para os donos de cinemas, eles precisavam que os filmes permaneçam em cartaz por mais tempo para que as pessoas tivessem mais chances de vê-los lá em vez de apenas esperar pela Netflix. Enquanto isso, a Netflix só precisa exibi-los por tempo suficiente para satisfazer os contratos e os requisitos estabelecidos pelos programas de premiação.

Agora ela tem menos com o que se preocupar! Com o Paris Theatre alugado, e os rumores de sua tentativa de comprar o Egyptian Theatre em Los Angeles, a Netflix pode exibir o tempo que quiser, enquanto desagrada as cadeias de cinema que possivelmente estão morrendo de medo durante toda essa última década. Isso teria causado estranheza há algumas semanas, mas fica ainda pior levando em consideração que o Department of Justice está encerrando o decreto de consentimento da Paramount, que foi criado inicialmente para impedir que os estúdios possuíssem toda a linha de produção do filme, desde a criação até o lançamento.

Com “novos negócios de streaming e novos modelos de negócio, nossa esperança é que o encerramento do decreto da Paramount abra caminho para a inovação favorável ao consumidor”, disse o chefe da divisão antitruste Makan Delrahim em uma reunião da American Bar Association na semana passada. Definitivamente, isso abriu o caminho para algo novo, mas não tenho certeza se é algo bom.

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