The North Face se desculpa por nos mostrar o futuro do marketing: imagens com propagandas em artigos da Wikipédia
Esta semana, a The North Face fez um truque inteligente de marketing — que, inclusive, continua funcionado. Mesmo após o recuo e o pedido de desculpas da empresa, a brilhante desonestidade da campanha vai inspirar o marketing por gerações.
A campanha atraiu atenção e revolta na terça-feira (28). O AdAge publicou um vídeo promocional explicando o esquema: a North Face produziu fotos de suas roupas e equipamentos em vários destinos de aventura, como o Parque Estadual da Guarita, Península do Cabo, Cuillin Hills e Serra Fina. Depois, colocou as fotos nas respectivas páginas desses lugares da Wikipedia. Assim, a marca aparecia nas primeiras posições de pesquisas de imagens do Google envolvendo essas localidades.
Talvez ninguém jamais tivesse notado se a North Face não tivesse divulgado um vídeo sobre sua estratégia. “Nós fizemos o que ninguém fez antes”, diz o texto no vídeo. “Nós hackeamos os resultados para alcançar um dos lugares mais difíceis: o topo do maior mecanismo de busca do mundo”.
O vídeo ainda afirma que a empresa não pagou “absolutamente nada” e simplesmente obteve uma colocação proeminente “colaborando com a Wikipedia”.
“Colaboração” talvez não seja o melhor termo.
Logo após a divulgação da campanha, wikipedistas criticaram o esquema.
Thanks to this braggadocio video and your article we’ve now removed the product-placement from all article. The user accounts behind the edits have been reported for breaching the Terms of User for undisclosed paid advocacy. https://t.co/XFODUri5sF For shame @TheNorthFace.
— Liam Wyatt (@Wittylama) 28 de maio de 2019
Tradução: Graças a esse vídeo arrogante e ao artigo de vocês, nós removemos todas as inserções de produto de todos os artigos. As contas de usuários por trás dessas edições foram denunciados por promoção comercial não informada.
So @thenorthface clumsily replaced Wikipedia photos with their own product-placement shots, then made a video about their clever “hacking”. Dicks. https://t.co/AW9k4pBZdg pic.twitter.com/L6RyDlJz0X
— Mike Dickison (@adzebill) 28 de maio de 2019
Tradução: Então a @thenorthface trocou as imagens da Wikipedia por fotos dos seus próprios produtos, e ainda fizeram um vídeo sobre esse “hackeamento” inteligente. Babacas.
A Wikimedia Foundation divulgou um comunicado afirmando que a North Face e a agência de publicidade por trás da campanha, Leo Burnett Tailor Made, manipularam “a Wikipédia de maneira antiética” e “colocaram em risco a sua confiança em nossa missão por um golpe de marketing de curta duração”.
“A Wikipedia e a Wikimedia Foundation não colaboraram com esse esquema, como a The North Face alegou falsamente”, dizia o comunicado. “Quando a The North Face explora a confiança que você tem na Wikipédia para lhe vender mais roupas, você deveria ficar com raiva”.
Após a indignação da Wikipedia e sua comunidade, a The North Face emitiu um pedido de desculpas na quarta-feira (29).
We believe deeply in @Wikipedia’s mission and apologize for engaging in activity inconsistent with those principles. Effective immediately, we have ended the campaign and moving forward, we’ll commit to ensuring that our teams and vendors are better trained on the site policies.
— The North Face (@thenorthface) 30 de maio de 2019
Tradução: Nós acreditamos profundamente na missão da @Wikipedia e pedimos desculpas por participarmos de um atividade inconsistente com esses princípios. Nós encerramos a campanha imediatamente e, daqui pra frente, nos comprometemos a garantir que nossa equipe e parceiros sejam melhor treinados em relação às políticas dos sites.
A agência Leo Burnett não respondeu imediatamente a um pedido de comentários do Gizmodo. A North Face não respondeu à pergunta do Gizmodo sobre por que a empresa alegou ter colaborado com a Wikipedia, mas um porta-voz enviou a mesma declaração compartilhada publicamente na noite de quarta-feira.
De acordo com a Wikimedia Foundation, editores voluntários da Wikipedia removeram todas as imagens ou recortaram os produtos da North Face. A fundação alega que o que a North Face fez “foi o mesmo que atacar uma propriedade pública”.
Vândalos ou pioneiros do marketing? A história é quem vai decidir.