O alto preço do cobre, metal onipresente nos gadgets
O lítio armazena a energia que move os gadgets portáteis modernos, mas é o cobre que leva a energia dentro deles. Este metal maleável é um componente vital em casas, eletrônicos e até na agricultura. Mas a nossa dependência do cobre tem um custo exorbitante, tanto econômico quanto ambiental.
O cobre é um metal bastante prático. Ele conduz eletricidade quase sem resistência (só a prata faz isso melhor), resiste fortemente à corrosão, e pode facilmente assumir uma variedade de formas e funções: desde o encanamento de casas, os circuitos de som do seu carro, as linhas de transmissão de energia da rede elétrica, e até fertilizantes e pesticidas industriais.
“Se você pensar em carros elétricos e turbinas eólicas, todos eles fazem parte dessa demanda por cobre”, diz Rohan McGowan-Jackson ao Pacific Standard. Ele é vice-presidente de inovação e desenvolvimento de recursos na Rio Tinto, grande empresa de mineração. “Por exemplo, eu dirijo um Prius. Ele é cheio de cobre! Quanto mais vamos em direção a um futuro de menor impacto ambiental, maior a demanda para o nosso produto.”
Saciar o apetite que o mundo tem por cobre faz girar um enorme indústria em todo o planeta. Em 2011, foram produzidas 16 milhões de toneladas de cobre. Os maiores países produtores são Chile, China, Peru e EUA. Eles também são os países com as maiores reservas do metal. O Brasil, por sua vez, está longe de ser uma potência mundial em cobre: faz 1,3% da produção mundial. Suas reservas se concentram no Pará – mais de 80% do total brasileiro.
Como o cobre é extraído e refinado
A mineração industrial de cobre existe há séculos, e ainda usa boa parte das técnicas antigas, especificamente o método a céu aberto. Como o minério de cobre ocorre frequentemente perto da superfície, e não formam veias em rochas duras (como o ouro, prata e sal), não é preciso escavar a terra. Em vez disso, a mineração a céu aberto simplesmente remove o solo e os minerais acima do cobre – conhecidos como cobertura – para ter acesso ao minério.
Depois que se escava a rocha contendo cobre, ela é retirada da mina e transportada para processamento. Dado que o cobre não forma pequenas pepitas puras como o ouro, e se encontra disperso por toda a rocha indesejada – conhecida como ganga – a rocha deve primeiro ser reduzida a pó. O cobre é, então, separado da ganga.
Isso ocorre através da liberação hidrometalúrgica, onde o cobre é lixiviado para fora e concentrado usando-se uma mistura variada de produtos químicos tóxicos, se estiver preso em um minério de óxido. Caso contrário, se o cobre estiver preso em um minério de sulfeto, usa-se o método de flotação: com uma série de surfactantes e agentes umectantes, é possível explorar as diferenças naturais entre o minério de cobre e a ganga para separar os dois.
O problema do cobre
A produção de cobre é um negócio caro e sujo, em especial para o meio-ambiente. Só retirar o minério bruto do solo exige um esforço enorme. As minas a céu aberto exigem enormes recursos, tanto de energia (muitas vezes vinda de usinas a carvão) como água. Além disso, as operações de mineração se tornam menos eficientes ao longo do tempo. É fácil retirar o cobre de uma nova mina, pois o minério ainda está perto da superfície. Mas, eventualmente, você terá que cavar cada vez mais fundo, retirando cada vez mais cobertura, e abrir ainda mais as paredes da mina para chegar às bordas (o que exige mais tempo e combustível). Eventualmente, a lei dos rendimentos decrescentes entra em ação: os custos de produção excedem o preço do minério, e a mina fecha ou fica em repouso.
Um exemplo é a mina Bingham Canyon em Salt Lake City (EUA). Ela está aberta desde 1906 e se expandiu rapidamente ao longo de 107 anos de operação a 1 km de profundidade e 4 km de largura. Ela cobre quase 8.000.000 m², incluindo a fundição, refinaria, e centro de bombeamento e reciclagem de água, para abastecer os fluidos consumidos no processo de refinamento. Estas instalações recebem energia de uma usina a carvão de 175 megawatts, que consome quase 4 mil litros de água por minuto. Todo dia, as equipes retiram 150.000 toneladas de minério do solo, e o processam para chegar a apenas 820 toneladas de cobre – não é 1/500 do total.
Bingham está chegando rapidamente aos seus limites produtivos. A última rodada de expansão em 2012 precisou retirar uma parede de cobertura (rocha inútil) com 300 m de espessura. Isso expõe o minério valioso, mas vai levar sete anos e US$ 660 milhões para chegar a ela. “Literalmente e figurativamente, temos uma montanha inteira para mover”, diz Barry Gass, o ex-diretor do projeto de desenvolvimento subterrâneo em Bingham, ao Pacific Standard. “Em algum momento, os dólares e centavos disso não fazem sentido.”
E também há os rejeitos. Estes são os restos do processo de extração de cobre, uma lama tóxica de produtos químicos: ácido sulfúrico, arsênio, chumbo e cádmio, por exemplo. Este material é quase tão ruim quanto lixo nuclear, e continua prejudicial por milhares de anos. E não dá para simplesmente trocar de método de extração para eliminá-lo: ele está presente no próprio minério, e não se chega ao cobre sem criá-lo. Em Bingham, as outras 149 mil toneladas de rocha que não são cobre, retiradas todos os dias, são rejeitos.
Além disso, ao separar o cobre da ganga, criam-se sulfetos livres. O minério se formou nas profundezas da Terra mas, em condições de superfície, os sulfetos oxidam rapidamente, formando sulfatos e ácidos. Eles então se misturam com a umidade atmosférica para formar drenagem metalífera – não muito diferente de chuva ácida – que não pode ser reabsorvida pelo ambiente local.
As mineradoras em países desenvolvidos têm limitações estritas sobre onde e como esses rejeitos são tratados de forma ambientalmente responsável. Mas nos países em desenvolvimento, não dá para afirmar o mesmo. E como o cobre chegou ao preço atual de US$ 3 por libra, parece que a ameaça de destruição ecológica é um pequeno preço a pagar.
O preço do cobre ficou estagnado desde o início dos anos 1980, quando EUA e Europa começaram a se afastar das indústrias onde a Ásia tinha desempenho superior – produção automotiva, por exemplo – e rumaram em direção a uma economia baseada em serviços. Isso antes de a China acordar como uma potência industrial moderna. Em 2000, você poderia comprar meio quilo de cobre por apenas 78 centavos. Como explica Tim Heffernan, do Pacific Standard:
O fechamento da mina [Bingham] foi programado para 2013. Seria o fim de uma era.
Esse fim não veio. Se você visitar o Bingham Canyon hoje, você encontrará uma frota de caminhões de lixo descendo para a mina, enchendo-se em rocha e subindo de volta, o tempo todo. O poço está sendo alargado e aprofundado para expor minério novo, mesmo que as operações atuais de mineração ainda continuem.
A Rio Tinto planeja criar uma segunda mina nesse local – ou melhor dizendo, abaixo dele. A operação aérea agora será desativada em torno de 2029. Mas o Bingham Canyon provavelmente continuará. De acordo com o plano atual, o buraco gigante dará lugar a uma mina subterrânea gigante, já nos estágios iniciais de construção, a 600 metros abaixo do piso da mina.
O plano prevê cinco blocos de minério, cada um com mais de 1.000.000 m² e 500 m de altura, a serem esculpidos na rocha sólida abaixo da mina. Em tese, o vazio criado poderia engolir o centro de Manhattan da 33rd Street até a 57th Street; 150 m de vazio ficariam acima do Empire State Building. O projeto vai transformar completamente as operações da mina.
Por que uma mina à beira da insolvência, enfrentando custos maiores de produção, resolveu se expandir? Por causa da China. No início do ano 2000, a economia do país explodiu, surgiu uma classe média e, com ela, todos os desejos de uma casa bem decorada e cheia de conveniências modernas – e tudo isso requer cobre.
A demanda da China por cobre quase triplicou, e agora o país consome 7,9 bilhões de toneladas por ano, o maior no mundo. O preço do cobre subiu quase 200% em menos de uma década, graças ao crescimento explosivo da demanda: foi de 78 centavos em 2002 para um pico de 5 dólares em 2007, pouco antes da recessão dar um tapa na economia mundial e empurrar o preço do cobre ao seu nível atual de US$ 3.
Analistas da indústria esperam que o preço fique em torno desse nível durante as próximas duas décadas. Mesmo assim, acho que ainda terá gente roubando fios de cobre para revender.
[Pacific Standard – Wikipédia 1, 2, 3, 4, 5 – Resolution Copper – Valor Econômico]
Imagens: Axel Seidemann/AP, Ross D. Franklin/AP, Denr Ho/AP, Rick Bowmer/AP