O novo plástico bolha não estoura e é tudo culpa nossa
Essa cruel era de entregas globais super eficientes em que vivemos tornou o plástico bolha irrelevante.
O novo produto é chamado de — segurem as suas vaias — iBubble Wrap. É uma versão do plástico bolha que não estoura que está no mercado já há algum tempo, mas ele agora é produzido pela Sealed Air Corp, os criadores do plástico bolha original, como explica a reportagem do Wall Street Journal.
O novo plástico bolha não estoura graças a uma remodelação em seu design, que liga as bolhas em uma corrente, então elas acabam não estourando, diferentemente das bolhas de ar individuais. Ah, e esse novo material não é pré-inflado. Quem comprar um rolo o receberá um pedaço de plástico liso que deve ser inflado com uma bomba e pode custar até US$ 5.500. Confira o vídeo produzido pelo Wall Street Journal sobre a novidade:
Obviamente, muita gente está braba por perder o precioso, efêmero e catártico plástico bolha que vem dentro das embalagens. Mas além disso, por qual razão a Sealed Air apresentaria um novo produto que requer uma ferramenta cara para torná-lo utilizável? Existe uma razão para isso: 0s lucros e as ações da Sealed Air vêm caindo há anos, e para a empresa se reinventar, ela precisa remodelar algo em seu principal produto, como explica o Wall Street Journal:
A Sealed Air não consegue acompanhar o crescimento do e-commerce de grandes comércios, perdendo negócios para imitadores locais. A companhia raramente envia plástico bolha para consumidores a mais de 240 km de suas fábricas porque o tamanho volumoso dos rolos otornam proibitivamente caros os preços de envio para longas distâncias.
E ele tem razão. Olha só o tamanho dos rolos no quartel-general da Sealed Air em Nova Jersey:
Se o plástico bolha é tão ineficiente, por que ele se tornou tão popular? E quando? Na realidade, levou um bom tempo até os inventores do plástico bolha descobrirem como usá-lo, embora ele já fosse usado como papel de parede desde os anos 1950. Foi o nascimento da era computacional que tornou o plástico bolha popular. Conforme a Forbes explicou em um perfil publicado em 2006, a IBM precisava de uma embalagem que pudesse proteger seus computadores:
Uma lenda da companhia diz que alguns anos depois da fundação da Sealed Air, em 1960, um inovador marqueteiro chamado Frederick W. Bowes finalmente descobriu o real valor das bolhas celulares. A IBM acabara de lançar o 1401, um dos primeiros computadores produzidos em massa. Bowers mostrou a IBM como o plástico bolha poderia proteger as frágeis entranhas dos 1401 em trânsito.
O plástico bolha prosperou junto dos eletrônicos pessoais — era uma das únicas formas viáveis de transportar eletrônicos frágeis. Mas o seu tamanho tem sempre sido um problema. Os enormes rolos de plástico ocupam enormes porções do precioso espaço de armazéns e caminhões. E como o envio global evoluiu de forma super eficiente nas duas últimas décadas, os rolos de plástico bolha se tornaram um problema.
Você já deve ter ouvido falar do sistema de produção enxuta, ou just-in-time, um conceito pioneiro da Toyota, idealizado nos anos 1970, que se espalhou por todo o globo, inclusive para outros aspectos da economia, como o transporte de mercadorias, desde então. O conceito básico dessa produção pode diminuir o uso de armazéns ao efetuar um monitoramento preciso e analisar a demanda de produtos por uma rede. Isso permite a companhias como a Amazon planejar seus depósitos e centros de distribuição por centímetros, o que é muito importante conforme a demanda por espaços se torna cada vez maior. O tamanho dos rolos de plástico bolha não se encaixa nos cada vez mais inteligentes e eficientes centros de distribuição de hoje. E o iBubble? Bem, ele soluciona o problema do tamanho dos rolos ao chegar nos depósitos de forma tão fina quanto papel.
O plástico bolha é um enorme dinossauro de plástico. É remanescente de uma era diferente — quando computadores eram enormes, os espaços em depósitos não eram tão caros e as margens de lucro não dependiam tanto do transporte de mercadorias. Sério, nós só temos a nós mesmos para culpar: nossa insaciável demanda por entregas rápidas e a necessidade de ter tudo instantaneamente criou um negócio cuja fundação depende de pequenos e eficientes centros de distribuição.
De qualquer forma, quando você tira a embalagem de um cartão de memória ou o que quer que seja que você tenha comprado ontem, gaste um tempo saboreando o plástico bolha que vem embrulhado nele. Pode ser a última vez que você conseguirá estourar as bolhinhas :(
Pronto. Agora você já pode vaiar o nome.
Imagens: AP Photo/Christopher Barth