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O que é a fosfina, que reacende discussões sobre a vida em Vênus

Gás incolor com cheiro de alho pode indicar presença de vida. Porém, fosfina também pode indicar processos abióticos misteriosos

O que é a fosfina, que reacende discussões sobre a vida em Vênus

Imagem: NASA/Divulgação

Em 2020, um grupo de pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, anunciou a descoberta de moléculas de fosfina na atmosfera de Vênus. Na época, isso gerou um rebuliço: as moléculas de fosfina poderiam ser bioassinaturas – que é como os cientistas chamam quaisquer indícios de vida, presente ou passada.

Agora, Jane Greaves, que liderou a pesquisa de 2020, anunciou na Reunião Nacional de Astronomia da Royal Astronomical Society que descobriu moléculas de fosfina em uma camada mais profunda do que antes na atmosfera de Vênus. Por isso, a equipe acredita que a fosfina pode estar vindo lá de baixo.

Mas o que é a fosfina e por que ela pode ser um indicador de vida em mundos alienígenas? 

Vênus e a fedida fosfina

Vamos do começo: as condições climáticas de Vênus não são lá muito atraentes. As temperaturas na superfície alcançam os 475°C, e a pressão do ar é de 75 a 100 vezes maior que a terrestre. Para completar, a atmosfera tem nuvens espessas de ácido sulfúrico que aprisionam calor à beça. Inclusive, Vênus é o planeta mais quente do Sistema Solar, embora Mercúrio esteja mais próximo do Sol.

Apesar disso, acredita-se que, numa altitude de 50 a 65 quilômetros da superfície, o clima da atmosfera é mais ameno – e familiar para nós, terrestres –, com temperaturas próximas aos 30°C. E por lá poderia existir vida extraterrestre. Ao menos, vida parecida como nós conhecemos.

E a fosfina pode ser, justamente, resultado de processos biológicos. Também chamada de fosfeto de hidrogênio, a substância é um gás incolor, inflamável e super tóxico – com (pasme) cheiro de alho. Ela é estruturalmente parecida com a amônia (NH3), mas bem menos solúvel em água. E, o mais importante nessa história de Vênus, é gerada por micróbios.

É desse jeito que ela costuma aparecer em nosso planeta, em lugares onde existem formas de vida anaeróbias – ou seja, que não precisam de oxigênio para sobreviver. “Em qualquer lugar onde não há oxigênio há fosfina, como pântanos, sedimentos, flatulências e intestinos”, explica Clara Sousa-Silva, cientista do MIT. “É uma molécula muito tóxica para qualquer coisa que goste de oxigênio.”

Outras origens para a fosfina

Por aqui, por exemplo, a fosfina também é produzida artificialmente em laboratório. Usa-se a substância para introduzir fósforo em cristais de silício na indústria de semicondutores, e na fabricação de pesticidas, por exemplo.

Em Vênus, os micróbios também não são a única fonte possível. Acredita-se que processos abióticos (ou seja, não relacionados à vida) podem estar gerando as tais moléculas na atmosfera do planeta. Talvez, processos que ainda não conhecemos ou entendemos completamente.

“Existe uma [hipótese bem difundida] de que você pode produzir fosfina lançando rochas contendo fósforo na alta atmosfera e erodindo-as com água, ácido e outras coisas”, disse Greaves durante sua palestra na Reunião Nacional de Astronomia.

Por isso, nada de sair declarando que há vida extraterrestre quando ler uma notícia sobre a presença de fosfina. Os próprios astrobiólogos são sempre cuidadosos ao fazer esse tipo de afirmação.

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