Ciência

Ondas cerebrais lentas podem proteger pessoas com epilepsia de convulsões

Segundo cientistas do Reino Unido, a produção dessas ondas lentas em momentos de estímulo cerebral diminui a ativação das células nervosas. Saiba mais do estudo publicado na Nature Communications
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Pesquisadores descobriram que o cérebro de pessoas com epilepsia produz ondas lentas, que normalmente ocorrem apenas durante o sono em indivíduos que não têm a doença. De modo geral, essa característica pode ajudar a proteger a atividade cerebral, evitando que estímulos gerem convulsões.

A pesquisa foi feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa e Cuidados em Saúde (NIHR), do Reino Unido. Os resultados foram publicados na revista Nature Communications.

Como foi feita a pesquisa

Pesquisadores selecionaram 25 pacientes com epilepsia focal, que é um tipo da doença em que as convulsões se originam de uma parte específica do cérebro. Depois, colocaram eletrodos em seus crânios para acompanhar as ondas cerebrais enquanto eles faziam uma atividade de memória associativa.

Para isso, os cientistas apresentaram 27 imagens, que permaneceram na tela por seis segundos. Elas haviam sido agrupadas em grupos de três fotos, sempre de uma pessoa, um lugar e um objeto. Ao final, os participantes tinham que lembrar quais imagens estavam agrupadas juntas.

Com os dados da varredura eletroencefalográfica (EEG), os pesquisadores perceberam que os cérebros das pessoas com epilepsia estavam produzindo ondas lentas, que têm duração inferior a um segundo.  

Elas são comuns durante o sono e desempenham um papel crucial na restauração do cérebro. “Quando estamos acordados, experimentamos um aumento progressivo na excitabilidade cerebral, que é corrigido durante o sono”, explica Matthew Walker, autor do estudo.

Contudo, em pessoas com epilepsia, essas ondas lentas aconteceram enquanto estavam acordadas e participando da tarefa. De modo geral, elas ocorriam quando havia um aumento da excitabilidade cerebral, ou seja, quando recebiam estímulos para os neurônios responderem.

Segundo a avaliação dos cientistas, a produção dessas ondas lentas em momentos de estímulo cerebral diminui a ativação das células nervosas. Isso, por sua vez, poderia proteger contra a atividade epiléptica.

“Esse mecanismo aproveita a atividade protetora cerebral que normalmente ocorre durante o sono, mas, em pessoas com epilepsia, pode ocorrer durante a vigília”, afirma o pesquisador.

Efeitos colaterais

No entanto, isso tem um preço. Toda vez que as ondas lentas aparecem enquanto uma pessoa está acordada, há um impacto no desempenho cognitivo.

Os pesquisadores descobriram que elas reduziram a atividade das células nervosas, aumentando o tempo necessário para os pacientes concluírem a tarefa. Portanto, a cada aumento de onda lenta, a reação levava mais 0,56 segundos.

De acordo com os cientistas, isso revela que alguns déficits de memória apresentados por pessoas com epilepsia podem ser causados por essas ondas lentas. Agora, eles pretendem aprofundar a pesquisa, com a esperança de chegar a um possível tratamento para a doença.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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