ONU pede investigação sobre envolvimento de príncipe saudita em invasão do celular do CEO da Amazon

Após suspeita de que Arábia Saudita pode estar envolvida em hackeamento de CEO da Amazon, ONU pede que caso seja investigado.
Jeff Bezos, CEO da Amazon
Jeff Bezos, CEO da Amazon. Amy Harris/Invision/AP

A história sobre o suposto envolvimento do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (também conhecido como MBS) numa possível invasão do celular do bilionário Jeff Bezos, CEO da Amazon e dono do jornal Washington Post, ainda está longe de uma resolução completa. Nesta quarta-feira (22), a ONU pediu uma investigação imediata do caso.

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Os especialistas da ONU Agnès Callamard e David Kaye disseram numa declaração conjunta que estavam “muito preocupados” com as informações que tinham analisado sobre o “possível envolvimento do príncipe herdeiro na vigilância do senhor Bezos, num esforço para influenciar, se não silenciar, as reportagens do Washington Post sobre a Arábia Saudita.”

O suposto envolvimento de bin Salman foi revelado pelo jornal britânico Guardian nesta terça-feira e o Financial Times deu mais detalhes em uma outra reportagem. Os jornais indicaram que a empresa forense FTI Consulting concluiu que o celular de Bezos transmitiu dezenas de gigabytes de dados depois que o príncipe herdeiro enviou um vídeo MP4 via WhatsApp. Havia menção a um malware, que não foi revelado.

Agora, o Motherboard obteve acesso ao relatório completo e o divulgou na íntegra. A reportagem do site mostra que a análise forense não concluiu que havia algum malware no celular de Bezos. Na verdade, os especialistas encontraram indícios de que, após baixar o vídeo, o celular do CEO da Amazon começou a transferir muitos dados, numa atividade incomum para um iPhone.

O comunicado da ONU destaca esse trecho, reproduzindo informações da análise forense que descobriu que o iPhone de Bezos elevou as transferências de dados de 430KB para 126MB em poucas horas. Essa transferência continuou subindo, chegando a picos de 4,6GB.

Essa foi uma das ligações que a consultoria encontrou para ligar o príncipe saudita a uma suposta invasão do smartphone, que poderia ter levado ao vazamento de fotos íntimas de Bezos. Os investigadores ainda apontaram que MBS mandou uma mensagem “estranha” para o CEO da Amazon, com uma imagem de uma mulher que lembrava Lauren Sanchez, então amante do bilionário – quando essa imagem foi enviada, as notícias sobre o caso entre Sanchez e Bezos ainda não tinham sido reveladas.

O Financial Times já tinha indicado que o documento não afirmava apresentar provas incontestáveis do que tinha acontecido, nem podia ser verificado independentemente.

O documento detalha ainda que os analistas forenses tiveram algumas dificuldades para analisar o iPhone de Bezos. Eles não encontraram códigos maliciosos no vídeo MP4 enviado por MBS, mas descobriram que o arquivo foi entregue por meio de um downloader criptografado hospedado no servidor de mídia do WhatsApp.

“Devido à criptografia ponta-a-ponta utilizada pelo WhatsApp, é impossível decifrar o conteúdo do downloader para determinar se continha algum código malicioso além do vídeo entregue”, escrevem os analistas.

Eles tentaram ainda obter uma “imagem forense” do iPhone, mas não conseguiram porque o backup iCloud do aparelho estava criptografado – e, aparentemente, Bezos não lembrava da senha. Da reportagem do Motherboard:

[…] aparentemente eles não conseguiram obter a senha, pois o relatório afirma que, em 20 de maio de 2019, os investigadores “testaram opções para contornar a senha de criptografia de backup do iTunes” e acabaram redefinindo “Todas as configurações” no iPhone X do Bezos para restaurar as configurações do dispositivo para os padrões de fábrica, “removendo assim a senha de criptografia, preservando o sistema de arquivos e quaisquer dados e artefatos relevantes. A FTI recebeu autorização para executar essa etapa de redefinição e, em seguida, iniciou a aquisição de uma imagem forense não criptografada da Cellebrite.”

Na prática, o pedido da ONU não equivale ao início de uma investigação. Com o comunicado, a organização convoca que países como os EUA inicie investigações independentes do envolvimento do príncipe saudita no caso.

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